quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

SÉRIE POEMAS


ALERGIA
Meus pés, no chão andam carícias,
Passos risonhos de cócegas,
Gargalhadas, icterícias,
Alergias nas noites lôbregas...


                                 Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

Você já viu algum galo num baile de gala?

FR

SÉRIE DESTINOS

DESTINOS XI

Preocupa-se muito um papel antes de nascer.
Que papel ele terá no mundo?
Papel de embrulho, para escrever, para leitura ou desenho?
Causará boa impressão ou fará um papelão?
Será uma pasta, notícias de jornal ou decoração de uma parede?
Oh missão ingrata, se com tantas possibilidades
for chamado de higiênico para viver na merda!

(Fábio Roberto)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

SÉRIE MÚSICAS

FRONTEIRAS


Entre poetas e loucos
fui caminhando por uma estrada.
Não sabia meus passos,
tampouco queria,
importava apenas chegar.

Entre poetas e loucos
eu não podia perder a rota.
A palavra, o silêncio,
entre a vida e a morte
eu sonhava existir um lugar.

Entre poetas e loucos,
onde tão poucos puderam estar,
aprendi minha história,
acendi os meus sonhos,
as fronteiras ficaram pra trás.

Eu me senti tão distante dos homens,
da vida,
que a morte não quis alcançar.


Música: Edu Gomes, Letra: Fábio Roberto
Gravada por Sonia Santhelmo no CD Tempo Azul.
Pode ser ouvida no http://clubecaiubi.ning.com/profile/FabioRobertoRibeiroSilva

SÉRIE POEMAS

MEMÓRIA


Se por vezes tu me olhas e não sabes quem eu sou,
que importa?
Tantas vezes eu não me soube.
Se não me reconheces um dia,
qual o problema?
Reconheceste quando eu nem ainda tinha dado por mim.
Não me arrepiam os teus olhos indiferentes por momentos,
se os meus pouco estiveram por aqui.

Vez em quando tu vais, tu voltas, tu vais, tu voltas,
exatamente como os meus pensamentos sempre fizeram.
Distanciar-se daqui para o mundo real dos sonhos e das almas
é somente para poetas.

Entendo o teu cansaço deste mundo.
Cansei muito antes de ti.
Mas como sempre esperaste por mim,
eu fiquei.
Portanto, também sempre esperarei o teu retorno.

O que é a memória?
Saudade? Presença? A mão que aperta o nosso medo.
A nossa memória, na verdade, só existe fora de nós.

Não sei se um dia deixarei lembranças boas,
tu deixarás.
Eu, de pequena obra sonorizada, meras palavras.
Tu, a grande obra de nos ensinar a viver,
reverencio de olhos fechados e longe,
muito longe daqui.

                                                           Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

Uma mulher é realmente importante para você quando não te faz falta. Faz pênalti.

FR

SÉRIE FRASES

Era um cara tão inútil, mas tão inútil... nem pra vagabundo servia.

FR

domingo, 23 de janeiro de 2011

SÉRIE FRASES

O SONO

Dormir é a ressaca da vida e o aperitivo da morte.

FR

SÉRIE POEMAS

GOLAÇO

Um amor abandonado
Colocado de escanteio
Vale bem tomar cuidado
Pode haver algum torneio
Em que seja alimentado:
olímpico gol (a boca) num seio

sábado, 22 de janeiro de 2011

SÉRIE POEMAS

FUMAÇA

Foi o tempo de fumar um último cigarro,
lentamente retirado do derradeiro maço.
O isqueiro falhou, mas não o teu charme.
Eu vou me dissolvendo, feito de barro.
Eu vou me desbastando, pelo cansaço,
mas teus olhos inda estão a chamar-me.

Você traga profundamente, eu viro fumaça
misturada com o ar  e o vento a dissipa.
Meus restos descansam displicentes no cinzeiro.
Meio cigarro queimando o minuto que passa
e a minha boca o teu beijo antecipa.
O beijo que me tornaria vivo e fidalgueiro.

E súbito nos toma mais que doída saudade:
teus olhos pedem pra ficar dizendo adeus
e eu não impeço esta tua decisiva tragada.

Ah... como eu queria ter o tempo da tua idade,
desde sempre e para sempre aos olhos teus.
A solidão jaz no cinzeiro, apagada...

Fábio Roberto

SÉRIE TEXTOS

ORGULHOSO

Quando a minha boca livre atingiu violentamente aquela bota suja quebrando cinco dos meus dentes e fazendo a minha exploradora língua degustar o sabor salgado do meu próprio sangue, eu já estava bastante machucado. Era muita gente ou coisa batendo em mim. Eu já não tinha os olhos abertos, pois feito os de um lutador de boxe que apanhou por quinze rounds, eles eram uma massa roxa intumescida, apodrecida e fechada para a vergonha estampada em qualquer espelho. O golpe que eu recebi no fígado que aguentou centenas de litros de cerveja e whisky por tantos anos, finalmente abalou-me e a pancada covarde que detonou a minha coluna cervical a ponto de dobrá-la feito um coqueiro em tempestade tropical, me fez cair entontecido pela vigésima vez. Mas os socos e chutes derradeiros não aconteceram para que eu pudesse descansar a consciência. Aí meu irmão, eu fiz a estupidez de me levantar, cuspir a minha bílis, urrar como um Hulk de Biafra e desafiar quem me agredia com toda a raiva estúpida que eu podia. Tomei tanta porrada que virei do avesso. O líquido viscoso avermelhado jorrou do meu nariz que ao mesmo tempo procurou algum aroma ou ar antes que eu me acreditasse despedaçado. Então eu todo quebrado prometi me erguer toda vez que eu fosse derrubado. Eu continha tanto ódio que amava o meu oponente mais do que me amava. Não me importava o revés do corpo e minha alma até aquele instante só tinha band-aids e merthiolate, tanto que eu desprezava qualquer lancinante dor. Eu pedi que esfacelassem com um tiro a minha cabeça louca, a minha cabeça louca rogava uma bala que atravessasse os pensamentos bons e vis de quem não aguenta mais a espera para ser feliz. Mesmo banguela eu sabia que receberia o prêmio Nobel da guerra das mãos de Mandela. Queria eu abrir os braços e receber no ventre um sopro suave que me fizesse lentamente vergar o orgulho e admitir a minha vitória eterna perante a vida. Era talvez triste e difícil constatar assim tão costurado, remendado, estropiado e destruído, que venci.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

Se o galo bate a cabeça nasce uma redundância.

FR

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

SÉRIE MÚSICAS


TENHO FOME

Tenho fome daquela comida
Do seu beijo, da sua mordida
Seu abraço, seu cheiro de vida
De sua língua e da doce lambida

Em mim. Uma fome sortida
De sabor, de forma divertida
Uma fome delicada e dolorida
Acesa, quente, colorida

Uma fome prevalecida
Do tesão de ver-te possuída
Uma fome profunda, parida
Da loucura santa e pervertida

Uma fome de te por assim despida
Completamente, mas totalmente protegida
E minha fome te será consumida
Pelo corpo e pela alma digerida.


         Fábio Roberto


Canção gravada por Leandro Henrique no CD Anjo Malandro - Pode ser ouvida no http://clubecaiubi.ning.com/profile/FabioRobertoRibeiroSilva




SÉRIE DESTINOS -

DESTINOS - VII

Se não existir pelo menos um olhar para admirar a paisagem, tanto faz que seja bela ou disforme.
Será uma paisagem, apenas, uma paisagem qualquer ou nem mesmo paisagem.


Assim como a minha vida sem você.
Tanto faz que seja lúgubre ou venturosa, rotineira ou súbita.
Não importa a longevidade.
Será uma vida, apenas, uma vida qualquer ou nem mesmo vida.

Saudade.

Fábio Roberto

SÉRIE TARDES

TARDE DO PUTEIRO 1

Lema da casa: aqui se faz aqui se paga.

Todo mundo sai do puteiro muito gozado.

Tem mulher que está lá porque gosta de se meter em tudo.

Puta que atinge o orgasmo com cliente é tão raro quanto esposa com marido.

Injusto dizer que todas as mulheres são putas. Algumas são filhas da puta!

Era uma puta amiga. Uma puta filha. Uma puta mãe. Uma puta mulher. Uma puta esposa. Uma puta trabalhadora. Em suma: uma vagabunda do caralho!

Nunca paguei para trepar com mulheres. Sempre as comi ao nível do solo.

Com a puta você transa e goza nela. Com a esposa você transa e goza dela.

Com a esposa você brocha porque tá duro. Com a puta você trepa porque... tá duro.

Viagra é a hóstia do puteiro.

Aquela puta era muito metida.

Pecado em puteiro é ser santo.

Puteiro tem seus dogmas: ajoelhou tem que chupar.

Até as putas tem regras.

Pau pequeno em puteiro: - ah não!!!!

Garotas de programas só funcionam quando a gente assiste filmes pornôs na tv?

Putas a domicílio: sempre tem alguém que prefere uma comida caseira.

Todas as mulheres deveriam fazer estágio de um dia num puteiro para saber que a sua vida é que é fácil.

Virgem é dis-putada pau a pau em puteiro.

Puta política (a que fala que nunca viu um pau tão grande e tão duro) é deputada.

Cafetão é quem mais tem afeto por putas.

Putas adoram cafetão com leitão logo cedinho.

Chamam as putas de vacas e cadelas mesmo que sejam gatas.

Puta sacanagem é quando uma puta gorda não fode nem sai de cima.

Fábio Roberto

SÉRIE TEXTOS

BIFURCAÇÕES

para o pessimista uma bifurcação apresenta duas chances de errar
para o otimista duas oportunidades de acertar
para o realista uma bifurcação é um saco, porque só uma escolha o leva ao destino
para o ousado é coragem, pois se errar pelo menos ele tentou
para o covarde uma bifurcação é pesadelo a fugir

para o indiferente uma bifurcação tanto faz
para o arrependido uma bifurcação é retorno

para o impetuoso é aventura
para o matemático uma bifurcação é problema

para o filósofo uma bifurcação é solução
para o ignorante não significa nada

para o religioso é escolha entre o bem e o mal
para uma geminiana uma bifurcação depende do momento

para um casal em crise uma bifurcação é separação
para quem conhece a estrada uma bifurcação é referência

uma bifurcação é o sonho de quem tem dupla personalidade
para quem voa uma bifurcação é pra quem tem os pés no chão

para o indeciso uma bifurcação é ponto final
pra quem constrói a estrada uma bifurcação apresenta apenas caminhos

para o distraído uma bifurcação não existe
e o atento percebe que não é bifurcação, só tiraram as placas de ida e volta

Fábio Roberto

SÉRIE POEMAS

BODAS COM A LOUCURA

Quero que o silêncio paire
E assombre qualquer palavra
Que impeça que eu desvaire
Mesmo as de minha lavra

Mesmo as de outras bocas
Sejam intensas, sejam ocas
Mesmo que elas me provoquem
Que me afaguem ou me soquem

Quero que o silêncio assuste
A palavra que me ajuste
Que não deixe que eu descambe
E neste túmulo sambe

Mesmo a palavra pura
Que de um câncer seja a cura
Mesmo que definitiva
Seja amável ou aflitiva

Quero que o silêncio espante
A palavra mesmo que marcante
Mesmo a mais tranqüilizante
Ou a que soe retumbante

Mesmo a que seja materna
Ou como a luz de uma lanterna
Como a de um pai para um filho
Ou venenosa se de um deus caudilho

Quero que as palavras morram todas
E levem o meu silêncio insuportável
Festando com a loucura estas bodas
Eternas em um caixão desconfortável


Fábio Roberto

SÉRIE CRÔNICAS

A ESTÓRIA DE UM CACHIMBO

Tudo começou em um sarau regado a vinhos. O Sarau da Guaicanãs é um famoso encontro notívago de artistas cultivadores da sensibilidade do espírito, o que fazem etílicamente apreciando poemas e músicas consideradas de alto nível. Eu falo cultivadores do espírito, porque com o corpo ninguém se demonstrou preocupado nesse último evento,  tamanho o desespero do vício inebriante de tantos fumantes de cigarros, raça da qual recuso-me a pertencer oficialmente, pois que não sou viciado como eles e o cigarro, ao contrário do néctar de Baco, não oferece prazer a um paladar sofisticado, muito menos proporciona um aroma delicado aos equipamentos olfativos mais exigentes. Dele, o cigarro, sempre resta apenas a fumaça que um incauto não consegue transferir para os seus pulmões e a despeja ao ar  e às narinas alheias, feito mais um dos dejetos não aproveitados pelo próprio metabolismo, esse uma espécie de pum cancerígeno. Como nunca fui um fumante oficial – não há como admitir pertencer a essa estirpe ralé -, nos períodos em que me entrego a sorver free longos, o faço compulsivamente, maço após maço, numa demonstração inequívoca de que será somente mais aquele trago e nunca mais. Esclarecida essa possível dúvida, ponho-me a relatar que nessa noite do tal sarau regado a vinhos, certo momento em que a névoa do tabaco tornou-se menos densa, divisei um personagem postado pacatamente e longínquo daquela sanha vaporosa. Com sua pose intelectual, cabelos desgrenhados a exemplo de um einstein e sua espessa barba que lembrava uma barba de capitão de  caravela desbravadora de oceanos desconhecidos, esse ser destacava-se do ambiente degustando tranquilamente o seu cachimbo como se nem estivesse ali. Provavelmente não estava, comparecia somente ao desligar-se de sua sintonia etérea para beber vinho, namorar,  brindar-nos recitando versos e dedilhar teclados de marfim (de marfim, pelo menos para ele e para este cronista). Ao ver essa cena discrepante ao todo da paisagem, imaginei que podia eu ao menos ser um tripulante da ousada caravela, manifestando esse desejo a minha amada, que prontamente patrocinou-me a aquisição de um cachimbo, sem o qual não poderia zarpar para a aventura. Calma, leitores, a estória do cachimbo já vai começar. É que depois de várias tentativas para acender o fornilho, estou fazendo uma pausa para tragadas comedidas no tubo aspirador do meu cachimbo, tal qual faz o capitão da caravela. Continuando, confesso que não está sendo fácil essa transformação. Sei-me um extremado ansioso, mas reputo que considero-me totalmente controlador de meus eventuais ímpetos raivosos, posto que aos cinquenta e um anos de idade e avô de gêmeas geminianas, meditei a respeito do equilíbrio latente que me impele a dominar os anseios perversos que poderiam provocar uma reação intempestiva às ações da vida. Reações que não combinam mais com o atual momento evolutivo da minha personalidade. Voltando a estória do cachimbo, para economizar os proventos da amada, comprei o que fui saber depois, o mais vagabundo dos mais vagabundos dos mais vagabundos fumos vagabundos que poderia adquirir. Ainda não dotado de conhecimento a respeito do novo brinquedo de adulto, a inaugural tentativa de pitar foi um desastre. Primeiro, como colocar calmamente o fumo no cachimbo se ele não para em pé? Cerquei-o de livros na altura necessária e, aí sim, após respirar fundo para tornar-me zen, fui despejando devagarinho com a pazinha adequada e, com o socador, fui compactando o fumo no devido compartimento. Sobre o socador gostaria de dizer que quase o utilizei para socar a cara da vendedora do fumo mais vagabundo dos mais vagabundos dos mais vagabundos fumos vagabundos, porque além de vagabundo,  ela tentou empurrar-me um de sabor chocolate. Contive na hora o soco, afinal tudo isso era para provar-me a maturidade. Levei um de sabor rum. Descobri depois que o fabricante omitira o “i” entre o “u” e o “m”. Após colocar metade do fumo, pensando que deveria deixar espaço para incendiar o tabaco, peguei uma caixa de fósforos que gastei inteira sem acender o maldito vagabundo sabor ru(i)m. Sem querer me dar por vencido, fiz com uma pequena madeira uma espécie de cotonete/fósforo e acendi para tragar e tossir que nem uma vaca. Sim, como uma vaca, porque diz o ditado popular.... “nem que a vaca tussa”, então, mesmo que não fumem, as vacas se tossirem tossirão os pulmões fora. Traguei violentamente. A droga apagou. Reacendi. Traguei mais violentamente ainda. Tossi que nem uma vaca tossiria. Apagou. Quase joguei o cachimbo longe, mas evitei porque já sou avô e equilibrado. Nessa hora percebi também que não tenho uma barba uniforme e não sei se combina fumar cachimbo sem uma barba espessa, porque posso fazer a pose intelectual e os meus cabelos são mais desgrenhados que o interior da selva amazônica. Mas recordei também que sou um contestador dos padrões vigentes, portanto danem-se as barbas espessas. Resolvi continuar com a estória do cachimbo, mas realmente eu estava prestes a desistir, devido às dificuldades para fumar a novidade e a ruindade do rum. Entretanto a minha amada, ao saber que eu estava prestes a capitular e buscar um pacote de free longo, com seus olhos meigos e sorriso irresistível perguntou-me se eu desistiria assim tão fácil. Aquilo mexeu com meus brios leoninos. Rugi internamente e respondi, também sorrindo, que nunca desisto. Comprei um fumo irlandez, o mesmo que o capitão da caravela utiliza. e pasmem! Seguindo todos os procedimentos corretos, socando o irlandez até transbordar e usando um isqueiro, queimei o fumo e consegui pitar quase oito minutos,  tragando sem parar para não deixar apagar. Ainda não estou fumando o cachimbo como um especialista, pois há um processo de aprendizagem a passar, mas esta noite o farei de novo. Enquanto isso, vou fumar um free longo, mas só mais este, só mais este....

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

PRIMEIRA PALAVRA

Quando o poeta não escreve tão bem é só uma frase que ele está passando.

Fábio Roberto