sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SÉRIE POEMAS

AVISO

Não me olhe com esses olhos de desejo
Que eu te viro inteira do avesso,
Com um simples e ardente beijo
Nos lábios. E será só o começo

Da viagem do teu corpo em meu prazer.
Deixar-te enfeitiçada e quase louca.
Sem rumo, sem saber o que fazer.
Presa, indefesa, nua e rouca

De gritar o teu prazer tão desmedido,
Sem regras, sem limites, censurável.
E tu farás de joelhos o pedido:
que eu te consuma além do suportável

     Fábio Roberto

domingo, 20 de fevereiro de 2011

SÉRIE FRASES

REFLEXÕES ESPORTIVAS

 

No futebol feminino deveria ser obrigatória a troca de camisas ao terminar o jogo.

Em futebol misto deveria ter troca de camisinhas.

Já no futebol gay deveria ter troca-troca.

Na F1 também é proibido dar carrinho.

Intelectual só faz gols de letra?

Metalúrgico só faz gol de placa?

Chifrudo pode fazer gol de cabeça?

No basquete o buraco é mais em cima.

Se no futebol há o voleio, no volei há o futeboleio?

Futebol feminino  é para quem tem peito.

Nado sincronizado com irmãs gêmeas é sacanagem: a gente ficava achando que estava de porre...

Técnico de futebol que vai de terno ao jogo logo perde a esportiva.

O técnico não ajudô nada e os atletas apanharam no tatame.

Não entendo porque o tênis não tem patrocínio da Adidas, da Rainha ou da Topper...

Mulher que transa com locutor de rádio acha que ainda está trepando enquanto o cara já narrou o gozo.

Gay é louco por um salto com vara.

Dopingpong é doping no tênis de mesa.

A menina desistiu de ser jóquei porque cresceu e virou uma potranca.

Jóquei tem obrigação de lavar a égua?

O vencedor sempre tem espírito esportivo.

Para ser viado no futebol tem que ser macho para caralho!!!

Surfista só faz onda.

No automobilismo vivem fazendo planos-pilotos.

Jogador daltônico nunca leva cartão vermelho.

No esporte feminino mulheres menstruadas não fogem às regras.

Goleiro gay adora levar um peru.

Filho de árbrito vive levando a-pito.

Iatista quando não vence a regata fica a ver navios.

Pode um iatista usar camiseta pólo e um jogador de pólo usar camiseta regata?

Uma partida nunca fica inteira?

Se você estiver com a pressão alta não exagere no futsal.

      Fábio Roberto

sábado, 19 de fevereiro de 2011

SÉRIE CRÔNICAS

FATO VERÍDICO

Sempre achei que o jeito durão do Carlão é apenas uma defesa, uma casca pronta a ser descascada assim que uma oportunidade real de desvendar-se surja à frente dele. Maduro, homem que cresceu na vida as próprias custas, esse invólucro permite que ele mantenha suas emoções controladas, pelo menos até a quinta garrafa de cerveja, quando se libera levemente brindando os amigos com seu humor impagável – ele nem cobra por isso -, contagiante e único. Eu conheço um pouco da história do Carlão. Ninguém pode imaginar a determinação do nosso amigo em superar todas as dificuldades da infância vivida na roça, nem as vicissitudes dos empregos humildes da adolescência, para chegar ao momento da aventura corajosa da juventude em São Paulo, cidade que desbravou sozinho perambulando pelos quarteirões que se sucediam aos seus pés. Nem sonhava em transformar-se no declamador emérito de hoje. Nessa época foram muitas as experiências do Carlão: viu cenas de sangue num bar da Avenida São João, pois tava lá um corpo estendido no chão. Entrou em bolas divididas, amou fazendo de conta que era o primeiro, costurou retalhos de cetim e escreveu cartas a Mários ausentes. Esses acontecimentos moldariam dentro dele, juntamente com a prática da meditação transcendental, o Mestre que posteriormente afloraria. Rapaz no auge da forma física resistiu à tentação de tornar-se garoto de programas ou posar nu para a G-Magazine. Seria dinheiro fácil, mas Carlão e seu caráter impoluto tinham outros objetivos. Ator e locutor talentoso, primeiro queria chegar aos monitores de TV de todos os lares brasileiros, meta que alcançou rapidamente com os vários comerciais que protagonizou. Depois de provar não ser apenas mais um rostinho bonito, resta agora o segundo passo: a conquista de Hollywood e do mundo! Voltando ao cerne da estória, o jovem impetuoso seguiu o seu trajeto incólume. Excluindo um trabalho de faculdade em que posou de cueca para um outdoor, nunca Carlão utilizou os elogiados (pelo público feminino/gay) atributos do seu corpo para obter quaisquer vantagens e só voltaria a exibir-se publicamente de cueca num fatídico churrasco na casa do Jairo, após agressivas provocações das meninas presentes. E era cueca de bombeiro, segundo Rosana, mas deixemos esse caso momentaneamente de lado...
Com o tempo tornamo-nos amigos, companheiros inseparáveis de cervas e papos. Certa noite, entre vários assuntos debatidos, o Mestre e eu conversamos sobre cães e de como eles se tornam importantes integrantes das famílias, com todas as regalias dos seres humanos. Carlão, entretanto, afiançou nessa data que para ele existiam limites, pois nunca chamaria sua cadelinha Princesa de filhinha, por exemplo. Nunca diria “vem com o papai”. Discordei, propus uma aposta, mas infelizmente Carlão perdeu o papel...

A ampulheta da eternidade foi virada diversas vezes. Recém empossados do novo lar, Carlão e Isabela receberam a visita da Princesa para o final de semana. Princesa foi com sua mala de roupinhas, cremes, xampus, rações, fitinhas, guloseimas e brinquedinhos, sem esconder a imensa alegria, o que demonstrou lambendo freneticamente a face séria do nosso amigo. Puro disfarce. Fosse cachorro Carlão estaria também abanando instintivamente o rabicó, mas sendo humano e tendo que demonstrar que é durão, não podia dar o rabo, quer dizer, o braço a torcer. Manteve-se impassível, mandando a cadelinha comportar-se, mesmo porque com o apartamento ainda em reformas a mudança nem fora totalmente completada. Muita arrumação para fazer. Portanto, Princesa, não faça bagunça, disse firmemente o Mestre com o dedo em riste. Agradecida pela preocupação do Carlão, a quem fitou com olhinhos meigos, a canina deitou-se obediente em sua caminha e passou a observar os donos arrumarem-se para sair. Uma das coisas mais agonizantes para um cão é observar os donos preparando-se para sair. Os cães têm a plena convicção de que serão abandonados, entrando em total desespero interior. Alheios a isso, pai e filha dirigiram-se aos respectivos passeios. Carlão teve ainda o cuidado de puxar uma pesadíssima porta ainda não instalada para melhor acomodar Princesa em seu aposento, separando-o assim da sala. Deixando a cadelinha em segurança, nossos amigos caíram na noite.
Voltaram no início da madrugada e tiveram uma surpresa. Ao saírem do elevador escutaram Princesa ganindo como se estivesse sendo torturada. Agilmente, apesar do suave torpor etílico que lhe assomava, Carlão encontrou o molho de chaves no bolso, incrivelmente escolheu a chave certa, virou-a na fechadura, empurrou a porta e... nada. Os ganidos de Princesa aumentaram ao ouvir a movimentação dos seus donos. Carlão, assaz contrariado, empurrou com mais força, mas a porta não deu sinal de abrir-se. A cadelinha começou a uivar e Carlão também. O Mestre respirou fundo, emitiu um mantra tibetano e num esforço hercúleo empurrou novamente a porta, que moveu o suficiente para mostrar que aquela outra porta que ele havia puxado antes de sair para separar os ambientes estava emperrando a entrada. Como aquilo teria acontecido impossível saber. A cadelinha não teria forças para tanto, nem mesmo o vento teria. Mistério. Princesa esvaia-se em lágrimas uivando e ganindo, Carlão também. Isabela acendeu mais um cigarro e exigiu providências. Apareceu o zelador, depois o síndico. Muitos vizinhos congestionaram o hall, o prédio inteiro acordou.  O morador do andar de baixo surgiu com um serrote, Carlão quase lhe serrou o pinto. Aliás, o Mestre já ficou bem popular no condomínio. Chamaram um chaveiro, a polícia, um ladrão arrombador de apartamentos, mas ninguém teve uma idéia para entrar no apartamento novinho sem causar destruições. Até que Carlão, em pânico, teve um lampejo entre um espasmo histérico e outro: - resta chamar meus amigos bombeiros!

Não sei, nem me interessa saber porque só interessa para a Rosana, se a cueca dos bombeiros era igual a do Carlão ou vice versa. O que importa é que enviaram mais de quatro viaturas de bombeiros, a defesa civil e o Samu para esse salvamento no Jaguaré. A essa altura tinha virado salvamento porque Princesa estava quase enfartando e Carlão também... Infelizmente não mandaram um carro com a escada magirus, só para complicar a situação. Mas após horas analisando as possibilidades, quase ao amanhecer os destemidos bombeiros subiram ao topo do prédio, montaram seus equipamentos e desceram de rapel até o apartamento do Carlão, que nesse momento quase mordia a própria orelha enquanto Isabela filava o segundo maço de cigarros dos espectadores. Por sorte a janela da cozinha estava aberta e os bombeiros entraram. Um pegou a assustada cadelinha no colo, enquanto outro desobstruiu a porta. Quando Carlão viu Princesa combalida, em prantos e extenuada abanar o rabinho para ele, abriu os braços, impostou o famoso vozeirão e falou sem titubear: - vem com o papai, Princesa!
Eu sabia. Era só casca de durão.

Fábio Roberto

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

SÉRIE FRASES

CARNAVAL

pode um sambista ser pé de valsa?

FR

SÉRIE POEMAS

COFRE


O meu negócio agora é grana.
Vou aposentar-me da poesia.
Grana. É isso e tomar uma cana.
Basta de música e melancolia.

Só grana eu vejo na frente.
Por ela eu comerei até grama.
Chega de ser indigente,
honesto e ter jornais como cama.

O meu negócio agora é grana.
Nem mulheres cheias de amores quero.
Comprarei putas, chega de puritanas.
Com grana terei os carinhos que espero.

Com grana comprarei saúde.
Ficarei forte, me farei mais novo.
Terei felicidade amiúde.
Serei dono do sorriso do povo.

Chega de ajoelhar e rezar.
Minha grana comprará padres e pastores.
Até o demônio ficará com pesar.
Comprarei dele todos os temores.

Grana. Depois vou distribuí-la aos pobres.
Assim farei para Deus me perdoar.
Então serei dono das almas mais nobres.
E só a minha alma a um cofre irei doar.

Fábio Roberto

SÉRIE POEMAS

DERRADEIRA CHANCE


UMA CHANCE A MAIS... EU NÃO A QUERO.
O QUE FARIA EU COM OUTRA CHANCE?
NADA MAIS ME RESTA, NADA ESPERO.
É IMPOSSIVEL QUE ALGUÉM ME ALCANCE.

NINGUÉM DESEJO, NEM VOU AMAR.
OLHOS MEUS SEMPRE ESTARÃO FECHADOS,
LÁGRIMAS SECANDO À BEIRA-MAR
E AOS HORIZONTES DESESPERADOS.

RECUSO OUTRA CHANCE, EU NÃO PRECISO.
CANSEI DE CAIR NAS MADRUGADAS,
PROCURAR BELEZA NUM SORRISO
E BEIJAR AS BOCAS DESALMADAS.

AMAR SÓ SERVIU PRA POESIA
TORNAR-SE PUNGENTE, MELANCÓLICA,
PERDIDA, ENLOUQUECIDA, VAZIA.
SOLITÁRIA, MAS TAMBÉM SIMBÓLICA.

DESPREZO MALDITO SENTIMENTO,
TÃO BONITO QUE AINDA RESSOE
EM CÉUS AZUIS, LEVADO NO VENTO.
MAS NÃO O SABEMOS: POR QUE FOI

O NOSSO AMOR MORRER DE REPENTE,
PRA NEM MESMO HAVER EM OUTRA VIDA
DERRADEIRA CHANCE REFULGENTE?
AMAR FICOU SABOR DE PARTIDA.

Fábio Roberto

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SÉRIE CRÔNICAS

O QUE AS LENTES NÃO CAPTAM

Leandro e todas as suas idades sobem ao palco. Como definiu Edu Gomes, para poetizar com tanta sabedoria só uma alma muita antiga vestida de um jovem de luz. Outro jovem, o anfitrião André, tentando envelhecer a aparência com sua barba rebenta, recebe todos com braços abertos no sorriso largo. A cada cerva destampada as nossas gargantas gargalham, regadas de inspiração. Enrique e Marili comparecem ao evento. Se você não acredita em almas gêmeas é porque não conhece Enrique e Marili. Não foram feitos um para o outro, um fez o outro. Certamente eles se desenharam e fugiram do papel para a realidade. Márcia aguarda o palco vir buscá-la. Sim, porque Márcia não sobe ao palco, é o palco que sai do seu espaço limitado, vai até ela, coloca-a em cima dele com suavidade e reverência e a carrega para iluminar o ambiente ao interpretar cada palavra-melodia intensamente, como nem o compositor-poeta jamais imaginou. Enquanto isso a adorável Thati borboleteia sua simpatia pelo bar e pela turma toda. A prima do Lê, de sangue e amizade. E Leandro segue cantando, dedilhando as emoções que vão alimentando e fortalecendo nossos corpos famintos de vida, sedentos de momentos de paz. Márcia canta outra música. Eu, fisicamente presente, me transporto para longe. Não sei se para ontem ou se para amanhã. O tempo não existe ao ouvir Márcia cantar. Existe apenas o sempre. Subitamente o local recebe energias e vibrações de Mestre. Carlos Barbosa e sua alegria chegam para contagiar a todos. Carlão é tão gente boa que se um dia você achar que ele pisou na bola com você, a culpa toda é da sua bola que deve estar carcomida e furada. Jogue-a fora imediatamente e aproveite o Carlão. Marili desde que chegou se esconde das fotos, nem desconfiando que cada vez que ela pisca eu preciso dos meus óculos escuros, porque dela saem flashs e flashs e flashs. E o Enrique com aquele sorriso de nenê? Já repararam no sorriso de nenê do Enrique? É outra barba-disfarçe, pois tantos anos ensinando a moçada transformaram o rosto dele em um rosto de criança. Seria esse o elixir da juventude? Márcia e Leandro cantam em dueto. Impressionante a sintonia desses dois. Para mim essa é a essência do amor verdadeiro, cúmplice e absoluto.
E nós temos o privilégio de compartilhar, porque eles são generosos em espalhar os seus talentos por aí. Pausa no som. Neto fica sentado na cadeira, quieto, olhando para o palco momentaneamente vazio, ainda saboreando melodias. Alê Ferraz, para recuperar o coração das emoções vividas e sonhadas ali, pega o maço de cigarros e o isqueiro. Imediatamente toda a incrível turma que foi prestigiar Leandro, a que fuma e a que não fuma, vai ao fumódromo interagir fumaças, papos, perfumes, abraços, paqueras, palhaçadas. Depois voltam todos para as mesas porque quase cinqüenta anos de história aparecem. É um Jairo diferente o que aporta o barco. Um Jairo comedido em comentários, econômico em brincadeiras. De repente o peso do aproximado cinqüentenário o fez meditar profundamente sobre os próximos carnavais. Mas quando Rosana surge imponente pela entrada o novo ancião reage, esboça um gracejo, fica aparentemente normal. Logo depois Sarah, a Musa Leandrina, vem abrilhantar a face do amado. E como ela a faz incendiar! E Leandro, mesmo tocando e cantando tudo observa, tudo escuta. Depois dos eventos, quando vou contar a ele os acontecimentos, ele já sabe. De quantos cérebros Leandro é dotado? No adiantado da hora Marili praticamente cansou de se esconder das fotos, mesmo porque Enrique e Carlão foram acometidos pelo transtorno-compulsivo- fotográfico. Não dá para ela lutar contra o grupo. André sobe ao palco e manda ver na percussão. Casais começam a dançar. Celi samba no pé com sua graciosidade oriental. As cinco horas desta happy hour estão chegando ao fim. É feito o terceiro pedido para Márcia e Leandro executarem Tenho Fome. Lá vou eu viajar para um lugar que eu sei que existe. Eu, minha máquina fotográfica, meus olhos da carne e meus olhos do espírito que registraram tudo, para tudo o que a gente nem viu permanecer eternamente pulsando em nós.

Fábio Roberto - breve relato de um Happy Hour com Leandro na Cantina dos Músicos

sábado, 12 de fevereiro de 2011

SÉRIE MÚSICAS

ANJOS


Agonia.
A dor.
A morte.
O pranto.
Os abutres.
A podridão.
A carne em decomposição.

Resta esperar os vermes.
Resta esperar o pó.

A alma.
O vento.
O vôo.
A paisagem.
O inferno azul.
O céu.
O sol.
O sangue.
O parto.
A partida.
O lugar.
Uma voz.
Uma vez.
Talvez
Reste esperar os anjos.
Resta esperar.


Música: Titi Trujillo/F. Roberto
Letra: F.Roberto
Gravado por Fábio Roberto e Sonia Santhelmo no CD Tempo Azul. Pode ser ouvida no: http://clubecaiubi.ning.com/profile/FabioRobertoRibeiroSilva

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

SÉRIE FRASES

O ateu vive no passado porque o futuro a Deus pertence.

FR

SÉRIE POEMAS

POEMA SUAVE

Sóbrio eu não existo em minha cabeça.
A minha cabeça passeia longe de mim.
Sóbrio a realidade é muito pior,
porque a cabeça não descansa.
E eu não sei aonde escondo o cansaço.
A inteligência, a criatividade, a sensibilidade e a pressa se aguçam se eu estou sóbrio e isso é cruel.
A alegria se torna tão extrema quanto a melancolia.
Sóbrio, todas as drogas que já usei
se acendem em mim violentamente.
Penso de forma mais ousada, tenho vontade de voar o carro naquela estrada mesmo que o carro se arrebente. Prefiro até ir sem freios
Sóbrio os poemas são mais agressivos, as músicas mais encrencadas.... a palavra deixa de ser ironica para ficar sarcástica e amarga.
Sóbrio eu arrisco tudo:
a vida, o amor, a amizade, a família, o trabalho.
Fica tudo nublado, tudo escurecido, percebo que as pessoas são muito mais ridículas do que o normal.
Sóbrio eu tropeço na minha alma.
Quero que os demônios e os deuses morram abraçados.
Eu mergulho nas viagens mais profundas do bem e do mal. Não há mais o certo e o errado. Não tenho medo de nada. Desrespeito qualquer lei, dogma, regra, contrato, convenção, norma ou acerto. Nada me segura.
Nada me impede. Perco completamente o medo e os limites quando estou sóbrio.

Sóbrio eu não me olho no espelho porque não estou lá. Estou do lado de fora de mim.
Sozinho como o mais miserável dos pecadores. Sozinho porque não vou compartilhar este momento de lucidez ensandecida com ninguém.
Quando eu voltar desta paisagem sombria e selvagem
talvez renasça em um poema suave.
Palavras e cenas que os teus e os meus olhos
gostarão de ler e ver.
Ou esquecer.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

PERSPECTIVAS

Olhando a vida com os olhos da morte, verás somente a vida.

Olhando a vida com os olhos da vida, só verás a perspectiva da morte.

Fábio Roberto

SÉRIE POEMAS

MÓVEIS

Eu nem percebi que não estavas para
brin-cadeiras e mesas.
Desculpo o teu mau humor meu amor.
Eu só estava pensando em nós dois numa cama...

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

Deus escreve certo por linhas tortas, roscas e bolachas.

FR

SÉRIE POEMAS

O OLHAR

Quem irá entender as minhas palavras sem que passe pela cabeça que eu sou uma atitude vaga,
se penso segundos luz antes do momento?

Não tenho tempo para explicar o tempo do meu desgaste.

Não sou um bom amigo para beber cerveja sem falar bobagens próprias ou filosofar sobre uma frase de Thoreau.

Não sou um bom amante se não devorar a alma de quem amo e me entregar às mãos dessa amada como se ela fosse Deus.

Plantei filhos e para eles não transmiti mentiras sociais, para que possam colher da arte o alimento supremo da realização plena de suas vidas.

Eu sou um descasamento, sou certamente um errante. Um materializador de sonhos. Um destruidor de sonhos. Um pesadelo que fez sorrir.

Não sou um compositor de jingles, mas poderia colocar uma pimenta no seu doce de coco e vendê-lo como pipoca.

Tenho medo de dor de dente, tenho medo de dor no dedo, tenho medo de cebola.
Não tenho medo da morte, mas não a aceito agora, sem antes encontrar com o meu destino cara a cara com a faca na boca, a caneta na mão e um papel em branco para mostrar a ele que a poesia não precisa assistir ao por do sol ou a uma luta.

Ou será que um cego não pode ser poeta?

Eu sei de tudo o que vivi ontem.
O meu ontem foi muito mais do que todas as vidas de muita gente.

Nossa, como sou arrogante! Mas agora estou calmo demais.

O futuro está nos meus olhos.
O futuro está nos teu olhos.
Resta saber para onde iremos olhar.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

A galinha deprimida acha que nada vale a pena.

FR

SÉRIE POEMAS

MIRAGEM

O tempo não foi complacente hoje
Nem pretendia. Nunca o será.

O tempo, sem pressa e rápido, me foge.

Descortinará
As pálpebras.

Álgebra
Somando o vazio
Com o psiu
Solitário na madrugada.

Lua estatelada
No céu
Escuro.

Véu
Que cobre o muro
Onde meu carro, imaginando não mais ser matéria,
Encontrará o impacto da realidade crua.

Pior teria sido cortar a artéria
Nua
Do pensamento, antes que a hora passasse
Sem que minha alma se costurasse
À tua.

A rua
Bebe insaciável o meu vinho
E me engole toda dor.

Vinho, derramado vinho. Adivinho
Qual a dor.

Sorrio ao tempo e lhe digo:
Tu e eu somos eternos,
Caro amigo.

O tempo me abraça forte e terno
E desaparecemos dos nossos olhos feito miragem.
Fumaça, névoa, neblina que o vento dispersou na paisagem.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

IRONIA

Era um cabeça dura, dedo duro, duro de grana, coração endurecido, duro na queda, mas brochava.

FR

SÉRIE POEMAS

LUGAR

Sem amor qualquer lugar é solitário.
Seja um cemitério,
seja um berçário,
vida é resposta a qualquer mistério.

Amo. E só existe a palavra vida no meu dicionário:
caso com a morte só pra cometer adultério!

Fábio Roberto