quarta-feira, 23 de março de 2011

SÉRIE MÚSICAS

A REALIDADE


SOU UM HOMEM , SOU NADA
TEMPORAL QUE DESTRÓI
ORVALHO DA MADRUGADA

SOU PRISÃO E PÁSSARO QUE VOA
CONSCIENTE DO FUTURO
PASSEANDO À TOA

SOU VENTO E O TEMPO PARADO
A PALAVRA QUE CORTA
SILÊNCIO ABENÇOADO

O PARAÍSO, A PORTA DO INFERNO
SEMENTE NA TERRA
A PAZ QUE SOBROU DA GUERRA

ESPERANÇA E TUMULTO
DESESPERO DA CRIANÇA
ÊXTASE DO ADULTO

SOU PERIGO
E O BRAÇO DO AMIGO
A PONTA DA AGULHA,  FAGULHA

MEMÓRIA
OU FIM DA HISTÓRIA
SOU ISSO , SOU AQUILO

SOU, NA VERDADE,
APENAS UMA MENTIRA,
OU A REALIDADE QUE A VERDADE ATIRA

Fábio Roberto - musicado em 1995

domingo, 20 de março de 2011

SÉRIE POEMAS

NA MADRUGADA

neste instante só consigo escrever escrever escrever escrever. o violão me olha. para ele isso é um replay. faz tststststststs............ sorri em solmaior.
tão claro que fecho os olhos. respiro. dou um gole em algo que está no copo.
é forte. parei de fumar há anos, mas dou uma profunda tragada na fumaça que ainda corre dentro de mim. tusso muito.
bate o coração bate... bate...
s u a v e m e n t e.
e pára. silêncio. o violão de novo... tststststststs.... os cães latem indignados. abro os olhos. o coração volta de seu cansaço. bate..... bate..... e vai ritmando. cadencia. bate
l o u c a m e n t e


mas acalma repentinamente porque
o som de uma corda rompendo toma o ambiente.


nem mais tststststs sai do violão.
nem sorriso em solmaior.
nem olhar.
nem claridade.


o silêncio se assusta porque nada escuta. pego o violão e faço....... tstststststs....


e toco assim mesmo.... faltando uma corda.


Fábio Roberto

segunda-feira, 14 de março de 2011

SÉRIE POEMAS

BRANCO

dos olhos
do tecido
da nuvem
do sal
da parede
da neve
do carro
do leite
do cão
da pele
do acúcar
da flor
da tinta
da tela
da bandeira
da pomba
do lençol
da fumaça
da vela
da areia
do gozo
do urso
da farinha
da luz
do papel.

Branco
me deu
na cabeça.


Fábio Roberto


SÉRIE TEXTOS

AMOR À PRIMEIRA VISTA


Resolvi conhecê-la amanhã.
A minha namorada, uma mulher especial.
E eu vou me apaixonar por ela instantaneamente.
Em minutos escreverei três livros de poemas
a ela dedicados. Irei compor, em menos de meia hora, 
uma centena de músicas inspiradas por essa musa. 
Ela, com seu jeito ora tímido ora maroto, conquistará meu coração
com tanta força que a pedirei em casamento
amanhã mesmo. Com um sorriso resplandecente,
amanhã ela dirá sim. Amanhã nos enlaçaremos
e vamos nos amar tão intensamente que geraremos
nossos filhos, que ainda amanhã crescerão belos
e saudáveis. Nós seremos eternamente companheiros
amanhã. Envelheceremos juntos vivendo esse dia de
forma violentamente verdadeira. O tempo não terá
para nós nenhum sentido. Não nos fará falta, nem
nos sobrará. Só nos importará o dia de amanhã.
Não anos atrás, que nem existiram. Não ontem,
quando não existimos realmente porque nosso amor
não existia. Renasceremos amanhã com o nosso amor.
Sem pressa. Sem passado. Sem futuro. Um amanhã
que nunca acabará e deixará o depois de amanhã
sem ter o que fazer, estático, num perpétuo aguardar
sem nem poder admirar o nosso amor que nunca terá
acontecido ontem ou antes de ontem. Por ter nascido e vivido 
dessa forma impossível, invejada, platônica, onírica, romântica,
perfeita, loucamente apaixonada, utópica, lírica, mágica,
totalmente e somente amanhã.

Fábio Roberto

quinta-feira, 3 de março de 2011

SÉRIE FRASES

EPITÁFIOS:

de Rico: O futuro... adeus, pertences! 
de Sovina: Deus me pague! 
de Ateu: Há...Deus? 
de Pobre: Lápide retirada por inadimplência 
de gay: Já deu o que tinha que dar
de devedor: Devo, não nego, vem aqui me cobrar
de modelo: Meu esqueleto veste um terno Giorgio Armani
de fumante: Estou na área reservada para fumantes
de atleta: Batendo meu recorde sem respirar!
de bombeiro: Cheguei tarde. Só restaram cinzas....
de pescador: Tantas minhocas, mas cadê a vara?
de ansioso: Já foi tarde
de incrédulo: Isto não está acontecendo
de otimista: Passei desta para melhor

FR

SÉRIE FRASES

O carteiro não queria sê-lo.

FR

SÉRIE MÚSICAS

NÓS DE PESCADOR

Eu te dei o meu amor
Pois faça dele o que bem quiser
Não me importa o coração
Que não bata junto ao meu
Emoldure, jogue aos cães
Pode empilhar junto dos demais
Dê um nó de pescador
Pra saudade não soltar
Vou-me embora tarde vou já deu a hora do adeus

Prenda os olhos num varal
Pro sol secar tuas lágrimas
Deixe o vento recolher
Dos teus lábios a paixão
Na ausência de nós dois
A nossa história é de emocionar
Deixe o vento carregar
Pra bem longe todo amor
Vai-te embora cedo esteja deu a hora do adeus

 Música: Fábio Roberto/Letra: Leandro Henrique e Fábio Roberto
Gravada por Márcia Salomon no CD Anjo Malandro de Leandro Henrique
Pode ser ouvida no: http://clubecaiubi.ning.com/profile/FabioRobertoRibeiroSilva 

quarta-feira, 2 de março de 2011

SÉRIE CRÔNICAS

A ESTÓRIA DO CACHIMBO CONTINUA

Mesmo com minha santa ingenuidade fiquei levemente desconfiado. O rebento Leandro chegou bem no momento em que eu acendia o vigésimo quinto free longo da noite e foi logo sugerindo para eu largar o cigarro e fumar o cachimbo da primeira estória. Declinei, as agruras pregressas estavam frescas na minha mente e não houvera ainda a oportunidade de compartilhar o aprendizado com o capitão da nau desbravadora de oceanos desconhecidos. O travesso insistiu. Não havia necessidade de tal experiência, comentou. Disse ele que eu era um típico cachimbeiro, um fumista nato dessa chupeta aspiradora de vapor oriundo de extratos vegetais. Diante de tamanha confiança em mim depositada, assenti. Segui o ritual de colocar o tabaco irlandez no devido compartimento conforme as regras vigentes, peguei o isqueiro, incendiei a borda do aparelho fumador, traguei fortemente e tossi como uma vaca. Se vocês leram o texto anterior não preciso explicar como as vacas tossem e eu tossi muito, porque para fazer a combustão se espalhar pelas folhas solanáceas, há que se puxar com veemência, acarretando a emanação para os pulmões. Notei um leve sorriso de satisfação irônica na face leandrina, mas insisti e obviamente a vergonha e a raiva me enrubesceram. Após as várias insensatas tentativas que realizei, já não mais tossindo como uma vaca, mas em plena convulsão, o maroto pediu-me candidamente para tentar o pito, não sem antes me apelidar de boca de neve. Impressionante. Ele pitou e a fumaça saiu calma e decidida do recipiente, o traquinas puxava e expulsava de si a névoa tabagenta como se fora, ele sim, um destemido marinheiro. Claro que fiquei tentando imitá-lo, mas o máximo que me aproximei da façanha foi igualar-me a um náufrago em bote à deriva. Fumamos, quer dizer, ele fumou e eu tossi por bastante tempo. Após breve colóquio regado a cervas a respeito de mulheres, músicas, mulheres, poemas e mulheres, ainda não satisfeito com a adiantada madrugada, foi proposta pelo espertinho mais uma rodada de cachimbo, pois que sobravam várias cervas na geladeira. Como um leonino não foge a desafios concordei prontamente, para que não fosse julgado um fumeta covarde, um reles incompetente sugador e borrifador de tabacos venenosos. Questionei na hora ao jovem malandro, que naquele momento não tinha nada de anjo, se ele fizera um rápido treino com o mestre cachimbeiro da barba espessa, ar intelectual e cabelos suavemente desgrenhados, o que foi rechaçado sem abalo. Para mostrar a sua sapiência cachimbal, maliciosamente Leandro acendeu a madeira e generosamente ensinou-me, já sem conseguir segurar o risinho fácil, a dar uma assopradinha e puxar com menos violência. Dei a assopradinha, mas o cachimbo praticamente ficou em labaredas, pois leonino é constituído do elemento fogo, única explicação plausível para aquele fato. Quando a gargalhada já irrompia da garganta do jovem gozador, consegui coordenar a assopradinha com a puxadinha, assopradinha e puxadinha e, depois de quase três horas pitando, consegui dar o meu primeiro trago verdadeiro no inocente equipamento fumegante. Aí, o Sábio rapaz foi ensinando mais técnicas ao incrédulo Fábio, comprimindo o tabaco no invólucro, o que não deixava apagar a chama, principalmente com dois defumadores atuando. Ficamos ali bebendo, pitando, proseando sobre mulheres, músicas, mulheres, poemas e mulheres até a última gota de cerva, eu então finalmente embarcado na caravela. Só restando cinzas do tabaco e da conversa, fomos dormir realizados. Leandro sem conseguir disfarçar o sorrisinho nos lábios Sábios, enquanto eu adormeci todos os intranqüilos Fábios, sem imaginar que poucas horas depois, já pela manhã, ao tentar trocar o pneu furado do carro, mesmo após todos os parafusos serem retirados, o maldito pneu permaneceria grudado à roda feito nossas bocas no cachimbo ou semelhante aos nossos lábios nos lábios das amadas. Mistério. Mas essa é uma outra estória, não tem nada a ver com o cachimbo, nem com lábios, tampouco com as amadas. Ou será que tem?

Fábio Roberto