segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

EXERCÍCIO DA GUERRA

Rajadas de metralhadoras são expelidas por consideradas bocas santas. As más línguas, com seus ditados impopulares, espalham a notícia. O Alfabeto traído, encurralado no beco escuro da ignorância, foi assassinado sem dó nem piedade. A escrita e a fala não mais existem. O analfa matador de aluguel grunhe um som ininteligível de vitória. Ao mesmo tempo, perto dali, nasce a Mímica.

Fábio Roberto


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

BEIJO

Vou guardar pra sempre na memória da minha alma até os momentos que não vivi ou viverei com você.

Não cabe em mim o tamanho de um sorriso.
Tenho boca curta, dentes cansados, língua silenciosa, garganta espremida.

Queria expressar ao mundo o sentimento explosivo de compartilhar um amor tão calmo e selvagem.
Queria gritar nossos sons, declamar nossas palavras derramadas do copo caído.
Beberia cada gota espalhada no chão pisado e sujo.
Deitaria no sereno, recebendo-o em meu corpo seco como se fosse o último gole do teu beijo.

O vento gelado da madrugada não consegue apagar o meu fogo, consumir a minha fome ou saciar a minha sede.
Os sonhos que são nossos sobrevoam os passos que ando.
A realidade em que acordo é um tempo que ninguém pode entender, nem mesmo eu.

Não sei quando vou sentir a dor de não te ver no espelho dos olhos,
mas vou guardar pra sempre na memória da minha alma o que vivi com você.



Fábio Roberto

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

OUTRO DIA


CHOVE LÁ FORA, É NOITE.
PESSOAS ESTÃO TRISTES,
OUTRAS FELIZES.
UMAS NASCEM,
OUTRAS MORREM,
OUTRAS NADA.

CHOVE LÁ FORA,
COMO É BOM.
ÁGUA, LÁGRIMA,
ESTRELA E SORRISO
SE MISTURAM,
BRILHAM TÃO IGUAIS,
INOCENTES.

E A LUA NÃO SENTE A DOR
DAQUELE QUE NÃO PARTIU.
A LUA NEM SENTE A DOR TERMINAR.

NÃO TEM CULPA DO DIA NASCER
OUTRA VEZ.



 Fábio Roberto
(Poema musicado em 1992)