Sou
mais fiel do que o alcoólatra a pinga e muito mais do que o cão ao dono.
Do
que o mar a praia, do que as estrelas ao céu, do que a mata a chuva, do que os
chinelos aos pés, de tudo isso sou extremamente mais fiel.
Nem
se compara a minha fidelidade com a do lençol a cama, da tomada ao plug, da
gasolina ao carro, do travesseiro a cabeça.
As fidelidades do sangue a veia, da saliva a boca, do rato ao queijo, da lavra ao vulcão
também não chegam perto.
Eu sou fiel além do que um filho ao pai, do que o dinheiro a carteira, do que um
rio ao leito, do que a notícia ao jornal, do que os óculos aos olhos.
E mais ainda do que a folha a árvore, a terra ao chão, a vingança ao ódio, a lágrima a
tristeza, a palavra ao poeta, a fome ao seio, a vontade a ação, o fogo ao
carvão, a bunda ao sofá, a fé a certeza, o fanático ao time, a esperança ao
futuro, o covarde ao medo, o amor ao coração, a voz a garganta, a honestidade ao princípio, o trigo ao pão, a
lua a noite, o poeta a madrugada, o anel ao dedo, a paisagem ao retrato, o frio
ao inverno, os dentes ao riso, a vida a morte, o telhado a casa e, finalmente, absurdamente mais fiel do que a crase ao a.
Para que eu não seja fiel é preciso que o vento traia ao ar, a paixão ao sentimento, o
etcétera ao incompleto, as reticências ao eterno.
E do que o alcoólatra a pinga, o cão ao dono...
Fábio
Roberto