O tempo parece estar parado. Nada se
moveu por uma eternidade até uma mosca pousar subitamente em meu nariz. Não sei
por que não consegui mover braços para espantá-la, quando lembro imediatamente
da canção “eu sou a moscaaaaa...”. A Brachycera voou e o tempo pareceu parado
outra vez, mas há um ventilador girando segundos lentamente. Tão lentamente que
não sinto o vento que ele faz. Aliás, nem sinto calor. Percebi que nem pisco,
afinal o tempo parece não passar. Somente a mosca vai e volta. Ela tem asas e
olhos enormes que me fitam fixamente, assim tenho certeza de que o tempo está
inerte. Nos brilhantes olhos da mosca vejo refletido um ambiente morto. Como se
fosse um fúnebre desenho. Mas não sei como é possível haver movimentos numa
imagem estática. Como pode a mosca voar e o ventilador girar, mesmo malemolente,
com o tempo e tudo mais imóvel? Por que não levanto, balanço pernas ou
simplesmente grito? Descubro agora o motivo dos meus olhos não piscarem. Eles
estão fechados como a porta que também se fecha, não antes de alguém desligar o
ventilador e apagar as velas. Aqui somente a mosca continuará voando até
cumprir seus trinta dias de vida e o tempo definitivamente parar.
Fábio Roberto