Uma das mais disseminadas teorias Fabiais é “A Dor do Alívio”, sensação que surge entre o susto do medo e a alegria do alívio ao escapar de uma perigosa situação, seja ela real ou imaginária. Durante esse processo que pode durar vários segundos, acontece a Dor do Alívio, que precede o alívio propriamente dito, com a força e o poder de um raio penetrando a terra. É uma inexplicável e inevitável sensibilidade que nos percorre desde a alma se distribuindo pelo corpo. Inicia comumente nas unhas dos dedões dos pés, alcançando até os fios dos cabelos que ficam eriçados, bem como todos os pelos do esqueleto vestido de carne. Essa dor sem linimento provoca terrível frio na barriga, arrepio da pele, os olhos esbugalhados de pavor que então lacrimejam cataratas, sudorese acentuada, atividade cardíaca acelerada, paralisação de movimentos, interrupção do raciocínio, contração dos ossos como se eles estivessem sendo esmagados em uma prensa, o sangue alternando temperaturas entre a mais gélida de um iceberg até a mais fervente de um centro de vulcão em erupção, tudo isso culminando com respiração ofegante até o sufocamento. O ser que sofre a Dor do Alívio tem a mesma angústia de um moribundo antes dele dar o último suspiro. Em casos extremos essa dor causa involuntárias diarréias em algumas pessoas mais covardes. Outras acabam se urinando como se fossem bebês. A maioria chora copiosamente de forma descontrolada por muito tempo. E invariavelmente, na iminência de ocorrer o pleno alívio, a pessoa percebe que superou o tormento ou ele nem era tão danoso assim. Mas o desenvolvimento inexorável da Dor do Alíviojá aconteceu.
Segundo Lacan “o homem
sofre por não compreender o medo, entrando em estado de pânico que se
transforma em neurose e esta em histeria, fazendo o corpo adoecer, mesmo que na
realidade esteja saudável.” Para esse estudioso,“na neurose obsessiva não se controla
mais os pensamentos, os objetos adquirem significações diversas e geram medo.”
Para Freud “a angústia vive latente em relação à consciência. Esse sentimento
estaria vinculado a uma descarga manifestada através do distúrbio de uma ou
mais funções corporais.” E como tudo, para Freud, “o mecanismo presente nas
neuroses está associado a uma deflexão da excitação sexual somática da esfera
psíquica e ao emprego anormal dessa excitação. A neurose seria então produto de
todos os fatores que impedem a excitação sexual somática de ser psiquicamente
elaborada.” É necessário transar muito e sempre, eu concluo e tento fazer a
minha parte com afinco.
Estudando esses autores
podemos entender o medo que os homens têm da famosa brochada, algo que jamais
confessam que lhes ocorreu, nem mesmo aos melhores amigos. No meu caso,
felizmente e de verdade, nunca tive tal problema, tendo-o ao contrário, mas
totalmente controlado. Brochada nunca fez parte da minha lista de medos, mas
abstinência sexual sim e constantemente me preocupa. Segue abaixo, sem temor ou
qualquer pudor, a minha lista de medos em ordem de importância aleatória:
- Não conseguir fazer
sexo devido à eventual idade provecta (desejo de morrer antes do fato) ou
desprezo de todas as mulheres do mundo (sintoma de timidez aguda)
- Cortar cabelo (paúra de
que eles nunca mais cresçam e de ficar careca de forma natural ou por doença).
- Dentista/dor de dente
(recomendo leitura do meu conto “Anti-dentistas”).
- Cebola, alho, pimenta e outros condimentos
utilizados de forma indiscriminada nos alimentos como tempero (terror ligado ao
meu paladar apurado e bom gosto incomparável).
- Calor insuportável (clima
de deserto do Saara, sertão nordestino ou Cuiabá me causam pânico).
- Perder a inspiração (pavor
de nunca mais escrever uma linha poética ou melódica, totalmente ligado ao medo
de não mais ter Musas).
- Invasão de pernilongos
e assemelhados (leia o capítulo “Aventura em Trindade” constante na segunda
parte da Fabiografia).
- Ter que ficar quieto e
parado em um lugar sem poder andar pra lá e pra cá, não poder quando sentado
ficar balançando as pernas, nem meditar em movimento ou em caminhadas a esmo
(síndrome da petrificação).
- Não poder mais beber
(horror associado ao possível desaparecimento ou proibição do álcool no mundo,
principalmente cervejas).
- Ter medo (ligado ao
fato de me considerar um super-herói desde a infância).