quarta-feira, 6 de novembro de 2024

FABIOGRAFIA 11- CAPÍTULO 136

 

O JEITINHO DA MUSA E A MINHA FORMA DE OLHAR

Várias mulheres perceberam a maneira que as olhei, profundamente, desde que as conheci, desnudando-as completamente na imaginação tarada, em cada peça de roupa que elas usavam ou despindo-as em cada gesto marcante que as suas almas, naquela pureza do momento, provocavam nas mãos que alisavam os cabelos tão gentilmente, que nem importava deles a cor. Um sorriso largo que  culminava numa gargalhada retumbante, ou um sorriso discreto e misterioso, também chamavam a minha atenção.

Certa vez, em um bar muito frequentado por barulhentos publicitários, foquei nos seios acomodados em vestido de ousado decote, de uma depois amiga sentada na cadeira em frente ao meu olhar, que passou a viajar  interiormente pelas plagas das ideias mais mirabolantes, até que a voz irritada da moça, ajeitando os volumosos  pomos no recorte da roupa, me despertou: -Fábio, você nunca viu seios de uma mulher? A minha resposta foi contundente: -jamais poderia ter visto seios mais belos do que os seus, querida! Ao contar sobre meus devaneios, rimos do episódio boa parte da noite.

Em outro lance, uma amiga me pediu para escrever a apresentação do seu livro de poemas e assustou-se ao ver no texto a descrição exata de como ela estava vestida, em todos os detalhes, no dia em que nos conhecemos, décadas atrás.

Antes de contar o caso que originou estas digressões, lembrei de um fato deveras curioso. Convivi quase que diariamente por cerca de vinte anos com um casal de amigos – o quanto que durou o amor deles – e, com tanto tempo juntos, várias estórias aconteceram. Teve um período em que, sem motivação diferente, eu fui abordado por belas donzelas sob o testemunho do casal. Foi uma, foram duas, três, quatro vezes seguidas, sei lá, e a mim não cabia questionar o destino e sim aproveitá-lo antes que o encanto passasse. Foi quando o amigo perguntou na mesa em que estávamos os três, o que explicava os acontecimentos? E a esposa, despojada de frescuras , o que só a intimidade cúmplice permite, disparou: - é que o Fábio tem “cheiro de p---o! Elas o atacam! O amigo, tentando disfarçar o ciúme, não resistiu a perguntar: - mas eu não tenho esse cheiro? Teve que ouvir a voz da sinceridade,  saindo da garganta da esposa: - não! Quase apanhei nessa noite, sendo, como sempre, inocente.

Contei tudo isso para registrar a visita que recentemente recebi, da musa das musas. Conversávamos despreocupadamente, como de hábito. Subitamente notei, enquanto a musa depositava palavras no ar, seus lábios delicados que emolduravam a fala, quase uma melodia desenhada nessa partitura etérea. Relembrei, em segundos, fechando os olhos pra disfarçar a dor que tenho sentido há dias, o tanto que compartilhamos de alegrias, aventuras e artes. Paixões. Abri os olhos novamente e a vontade de beijar aqueles lábios apaixonantes, foi forte demais, tanto quanto aquela que senti no primeiro dia em que a vi. Mas igual àquela oportunidade, não beijei. Só consegui dizer: -como você está linda! O jeitinho cativante dessa Musa ao olhar pro lado, quase que perguntando modestamente a um ser imaginário se era dela que eu estava falando, preencheu o meu coração de alento. Logo depois a Musa foi embora e eu aproveitei a dor do corpo para lagrimar de saudade.

Espero que as amigas que ainda pensam em me visitar e que porventura não tenham percebido como as olho com olhar de tara, admiração e amor, que não desistam de vir.  Essa é apenas a minha forma de olhar.

Fábio Roberto

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