Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA
Sexta estória
HERMETO PASCHOAL
Se fosse verdade a quantidade de gente que afirma ter estado no Show do
Hermeto Paschoal e banda no TUCA, aquele que virou lenda urbana, o público
lotaria um Morumbi. Realmente o teatro estava absurdamente lotado e posso dizer
que Jairo Medeiros, Marcos Araújo, Titi Trujillo e eu estivemos lá. Aliás,
depois que vimos o Bruxo atuar ao vivo pela primeira vez, comparecemos em
muitas outras oportunidades para reverenciá-lo. A banda era de impressionar
desde o mais aficionado e purista fã de jazz até o vanguardista mais radical e
revolucionário, pois Hermeto é tudo e mais um pouco. Ele é um som. É o som na
essência física, etérea, espiritual.
O grupo de multi-instrumentistas virtuoses se revezava em teclados,
cordas, sopros e percussões. Bombardino e tuba numa banda, por exemplo, eram
muito raros de se poder apreciar, mas os músicos de Hermeto os tocavam.
Entre tantos músicos fantásticos, discípulos do Mestre, dois eu tive
oportunidade de acompanhar mais de perto depois. Carlos Malta, o mago dos
sopros, em apresentações solo ou com outros artistas, e Itiberê Zwarg, baixista
e pianista que dava umas canjas surpresa na banda que acompanhava Sonia
Santhelmo na Baiúca Roosevelt. Coincidentemente, quando Sonia começou a cantar
tempos antes na Baiúca Jardins, o trio de músicos era integrado pelos irmãos do
Itiberê, o pianista Mário Zwarg e o baixista Ipojucan Zwarg.
Naquela noite no Tuca o show de Hermeto, que costumava ser longo,
transcendeu tempo e espaço. Explico. Transcendeu o tempo porque o evento pode
ter durado cinco horas ou dois dias, pois todos ali perderam a noção. Lembro
que foi um espetáculo onde o Bruxo dedicou-se muito ao piano, inclusive tocou
uma música composta na hora, tão divinamente bela e delicada, que só lágrimas
de emoção podem expressar o sentimento ao escutá-la. E transcendeu o espaço
porque os limites das paredes do teatro não seguraram Hermeto e banda, que
pegaram instrumentos, desceram do palco, andaram pelo meio da plateia e saíram
pra Rua Monte Alegre com o público atrás, tocando para uma lua espantada e com
as estrelas servindo de holofotes. As luzes dos prédios vizinhos também se
acenderam, as cabecinhas nas janelas e sacadas se maravilharam com o episódio
improvisado. Subimos e descemos a Monte Alegre atrás de Hermeto e banda junto
com o povo, completamente enfeitiçados, todos em puro êxtase.
Felicidade não é efêmera quando nascida da arte. Estamos todos lá e
dentro de nós, sorrindo, dançando e cantando até hoje: Hermeto, Banda, Povo e
nossas felicidades.
Fábio Roberto