Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA
Contei no início da
Fabiografia que uma das minhas principais atividades na juventude,
principalmente com os parceiros Titi e Jairo, era ir a shows numa época em que
São Paulo tinha uma infinidade de teatros apresentando espetáculos a preços
aceitáveis.
Assistimos a vários artistas
consagrados, alguns completamente desconhecidos e muitos que iniciaram carreira
para se tornarem depois grandes ídolos da MPB. Comparecíamos em pelo menos dois
shows por semana, nos espaços que se transformariam em verdadeiras lendas da
cidade, como o saudoso Teatro Lira Paulistana, reduto da música de vanguarda
que emergia em Sampa no final da década de setenta para o início da década de
oitenta.
Muitas estórias curiosas
aconteceram nessas oportunidades, inclusive antes dos espetáculos. Encontrar e
bater papo com Plínio Marcos, um dos dramaturgos brasileiros mais importantes,
vendendo seus livros para as pessoas nas filas das bilheterias era uma
constante. Vez ou outra até conversávamos em algum boteco próximo aos teatros,
com músicos que iriam tocar num show, como fizemos com o baixista que
acompanharia Lô Borges no Teatro Getúlio Vargas.
Vou postar algumas dessas
estórias de que lembramos fatos que nos marcaram. Lá vai a primeira:
BETO
O mineiro Beto Guedes tem
conhecida timidez. Às vezes dava a impressão de estar tocando de costas para
não ter que olhar o público. Pouco interagia conversando com os fãs, o que
ninguém reclamava, pois a plenitude do seu som embevecia a plateia.
Em show anterior ele havia
apresentado uma composição dedicando-a ao pai, chamada “Casinha de Palha”. E
num outro realizado no Teatro Getúlio Vargas logo depois desse fato, Beto e
suas músicas provocavam intensas emoções ao público. Bem no meio do espetáculo,
entre uma canção e outra, assim que se encerraram os calorosos aplausos um
silêncio respeitoso tomou conta do ambiente, antes da próxima música deleitar
os espectadores. Foi aí, exatamente nesse curto instante em que não cabia nem
sílaba, que o amigo Jairo se levantou e irrompeu a ausência de qualquer barulho
gritando a plenos pulmões: - toca Casinha Brancaaaaa!
O público que estava mudo,
mudo continuou. Beto Guedes paralisou-se espantado. A banda permaneceu
petrificada e eu comecei a gargalhar, o que não parei de fazer até hoje. O
artista, suando frio e gaguejando, começou a cantar meio sem jeito... “moro,
numa Casinha de Palha...” virado diretamente ao Jairo. Foi um momento histórico
e inesquecível!
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