Considerava-se Perverso.
Tentava ser o pior homem da face da Terra. Nunca dormia o sono dos justos. O
seu grande sonho era tornar-se o inimigo público número um.
Mas por pior que tentasse ser, não conseguia. Todos gostavam dele e desejavam conhecê-lo, compreendê-lo e ajudá-lo. Justo ele que queria ser odiado. Queria ser apontado nas ruas como marginal. Queria ver o seu nome nas páginas policiais como bandido perigoso, para que as pessoas fugissem de medo ao avistá-lo.
Maldoso, fazia cara de ruim, mas as crianças o chamavam de “tio” e iam com ele brincar. Chutava os cachorros que atravessavam o seu caminho, mas eles voltavam com o sorriso no balançar frenético do rabo. Vagabundeou, mas lhe ofereceram um ótimo emprego. Roubou e pelo roubado foi perdoado. Pecou, desejando a mulher do próximo, mas o próximo se ausentou.
Cansado, caiu na realidade e entristeceu.
Chegou a noite e foi se esquecendo em um canto, afundando em seus pensamentos. Derramou muitas lágrimas pelo seu fracasso.
Enfim, refletiu e arrependeu-se, compreendendo que não nascera para ser mau. Começaria nova vida mudando seu modo de ser, agir e pensar, agradecendo a todos que o tinham respeitado até aquele momento.
No outro dia morreu e sua alma foi arder no inferno.
Fábio Roberto
Do Livro de Textos e Crônicas
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