quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Pedidos de Natal de...

criança pobre: banquete
baterista: baquetas
tarado: boquete

guloso: muito peru
goleiro: nenhum peru
peru: nenhum natal

humilde: votos de boas festas
padre: votos de castidade
político: votos

pobre: saúde
remediado: trabalho
rico: grana

homem: uma mulher
mulher: um homem
bi: os dois

crianças: presente
saudosos: passado
velhos: futuro


papai noel: renascer super herói da marvel 


Fábio Roberto

domingo, 18 de outubro de 2015

Ciclo Número Dois

Vozes emudecidas
Violões sem cordas
Cordas sem pescoço

O cérebro amortecido após tecido o sonho
Após ter sido o sonho um sonho

Um vazio
Um imenso, profundo e solene vazio
O silêncio escuta o grito
O delírio queima no ar

Copos e corpos inertes
Mortos a respirar
O brilho
Derradeiro suspiro
O futuro da morte:
o início

Fábio Roberto
(Musicada em 1987)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

TRADIÇÃO

Não chore a cerveja derramada.
Saiba, ela vai pro Santo.
Espírito que espreita em todo canto,
com a boca sedenta escancarada.

Coitado, o paraíso não tem cerva.
Bebe-se só néctar dos deuses,
ao som de líricas berceuses
e ele preferindo uma erva...

Por que foi ser honesto, sem pecado?
Agora, bar em bar caminha errante,
sóbrio, consciente, inconsolável.

Passo sem futuro, flutuante.
Prazer eternamente insaciável,
olho de zumbi, arregalado.


Fábio Roberto

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Sorriso

Viver é doloroso
Por isso o poeta sofre
Nasceu audacioso
Sua sorte jaz num cofre

Viver é doloroso
Por isso o poeta canta
Faz-se de corajoso
E das tumbas se levanta

Viver é doloroso
Por isso o poeta escreve
Um texto pecaminoso
Até isso ele se atreve

Viver é doloroso
Por isso o poeta ama
Cada dia milagroso
Ao lado da sua Dama

Viver é doloroso
Por isso o poeta cansa
E num gesto majestoso
Despede-se numa dança

Mas ele vai sorrindo
Quase inda esperançoso
Por isso o poeta findo
Viver é doloroso



Fábio Roberto

domingo, 5 de julho de 2015

Canção de Cecília e Alice

Crescer
Todo dia crescer
Nascendo
O que ainda vamos ser
O sol
Nos iluminará
A noite
Nos aconchegará

Abraça-nos com um sorriso
o amanhã
Faremos cada adulto
Aprender
Crescendo dia a dia
Como nós
Adultos nada sabem
De nascer

Crescer
Todo dia crescer
Nós duas,
Nossa mãe, nosso pai
Amor,
A poesia do lar
A paz,
Repousando no ar

Faremos gente grande
Compreender
Que o mundo é bem mais simples,
Basta ver
Que os velhos também passam
A depender
De mãos e de cuidados
Pra viver.     
         

Fábio Roberto


segunda-feira, 18 de maio de 2015

24 HORAS

Sempre considerei injusta a divisão dia/noite tão equilibrada. O dia tem o sol nascendo com seu calor e aconchego, a natureza parindo em cada flor que desabrocha, pássaros cantando, a maioria dos trabalhadores se empilhando no transporte público ou seguindo roboticamente solitários em seus automóveis. O padeiro que vai assar os nossos pães, a mãe que leva o filho ao aprendizado escolar, os cães procurando ossos por ofício, os amantes que deixam um motel, o bandido que se esconde em sombras, carroceiros catando nosso lixo, beijos que encontram lábios já de saudade ou lábios que se selam formalmente num até depois. Quando? Quanto?

Mas a noite tem tudo isso e os bêbados vagando, as prostitutas sem prostíbulos ou esquinas fazendo sexo com quem procura amor, o apito do guarda noturno em si bemol, pessoas uivando suas melancolias, bebês chorando serenatas, canções sendo compostas por gênios que nunca terão aplausos, a lua num céu que só poetas enxergam, estrelas que já passaram por ali, corujas procurando ninhos no cimento e passos muito mais consistentes porque o escuro é mistério, medo, dúvida e certeza.

A mulher que eu amo é dia, mas é muito mais noite. É tudo e além. É sempre um querer sem medidas, um relógio que eu queria atrasar para ter um pouco mais de alegria e adiantar para ser eterno prazer.

É injusta a divisão dia/noite tão equilibrada, porque a noite é agora e esperança, o dia é amanhã e realidade.

A gente sonha muito melhor na noite que nunca acaba.


Fábio Roberto

sábado, 16 de maio de 2015

OS OLHOS DA LUA (RAISSA)

Pequena criatura
Os olhos da lua te mostram o caminho
De outra missão
Corrente de água começa outro mar

A vida não esquece
Se em alguém permanece raiz e saudade
Morrer não é morte
Saudade é transporte

Agora tua festa de rabo-sorriso
É de estrela em estrela, passeio bonito
Coleira de nuvens
Tão grande o teu novo lar

Pequena criança ouviu o assobio
O chamado, o pedido desse outro amigo
Pois guarde esse dono (o dono do mundo)
Tal como comigo precisa tua brincadeira

Raízes de um coração
Não batem, só brilham
Não batem, só brilham

Não bate, só brilha


Fábio Roberto




sábado, 9 de maio de 2015

AMAR

Eu penso que amar é para fracos
que se despedaçam em cacos.
Gente que precisa de muleta
pro coração
não ficar jogado na sarjeta
da emoção.
Gente que se vê sem par
e logo corre pro bar
para afogar mágoas,
onde garrafas viram taboas
de náufragos num mar
de solidão.
Abandonam até o lar
na imensidão
de uma tristeza tão dolorida,
maior do que cabe na vida.

É por isso que sou forte
e não amo. Amor é morte.
Vou ao bar beber sem agonia.
Não importa se estou só,
pois mais dia menos dia
todos viraremos pó.
Resistirei, então, eterna e bravamente
a este sentimento
vagabundo, podre e insolente
que me ataca neste momento,
tirando dos meus olhos a cor:
a vontade de amar-te desesperadamente,
como se condenado fosse ao amor.
O que me mataria certamente,
como um inseto mata uma flor.

Devorando-a inteira e lentamente.

fÁBIO rOBERTO(2008) 

quinta-feira, 30 de abril de 2015

TEU TEMPO

Pra que correr se és o tempo e tão menina
e para ti o dia chega como brisa,
acarinhando teus cabelos na esquina
da vida, cena que a paisagem frisa

em nossos olhos ansiosos e anciãos.
A nós o tempo já não mais espera.
Já passou, escorregando pelas mãos.
Morrer tranquilo e feliz, ai quem me dera...


Fábio Roberto

segunda-feira, 30 de março de 2015

O OLHAR

Quem irá entender as minhas palavras sem que passe pela cabeça que eu sou uma atitude vaga e penso sempre antes do momento existir?

Não tenho tempo para explicar o tempo do meu desgaste.

Não sou um bom amigo para beber cervejas sem falar bobagens próprias ou filosofar sobre uma frase de Thoreau.

Não sou um bom amante se não devorar a alma de quem amo e me entregar às mãos dessa amada como se ela fosse Deus.

Plantei filhos e para eles não transmiti mentiras sociais, para que pudessem colher da arte o alimento supremo na realização plena de suas vidas.

Eu sou um descasamento, sou certamente um errante. Um materializador de sonhos. Um destruidor de sonhos. Um pesadelo que fez sorrir.

Não sou um compositor de jingles, mas poderia colocar uma pimenta no seu doce de coco e vendê-lo como pipoca.

Tenho medo de dor de dente, tenho medo de dor no dedo, tenho medo de cebola.

Não tenho medo da morte, mas não a aceito agora, sem antes encontrar com o meu destino cara a cara com a faca na boca, a caneta na mão e um papel em branco para mostrar a ele que a poesia não precisa assistir ao por do sol ou a uma luta.
Ou será que um cego não pode ser poeta?

Mas não seria a morte encontrar-se finalmente com o destino?

Eu sei de tudo o que vivi ontem.
O meu ontem foi muito mais do que todas as vidas de muita gente.

Nossa, como sou arrogante!
E agora estou calmo demais.

O futuro está nos meus olhos.
O futuro está nos teus olhos.

Resta saber para onde iremos olhar.


Fábio Roberto


domingo, 29 de março de 2015

EXEMPLO

Eu sou um exemplo de homem.
Um de uma intensa mulher e só.
Os outros vulgarmente as comem,
maltratam suas peles sem dó.
Usam, abusam e somem.
Quando nasce o dia o amor vira pó.

De homem sou um modelo nobre e raro.
Um que sempre ampara a sua dama.
Os outros não deixam nada claro.
Só as querem levar para uma cama.
Dizimam-lhes o prazer como acaro.
Corações nem no eletrocardiograma.

Já eu sou incomparável como amante.
Satisfaço plenamente a minha Deusa.
Os outros querem os dotes de Bacante,
servem-nas como vinho e adorno à mesa.
Depois, em gesto ingrato e ultrajante,
oferecem-lhes a solidão como surpresa.

Eu e apenas eu sou desigual.
A minha mulher é um sorriso eternamente.
As outras, sem paixão tão surreal,
no rosto uma tristeza transparente,
no corpo uma doença terminal
e a dor de uma alma evanescente.


Fábio Roberto

domingo, 8 de março de 2015

Dia da Mulher

Uma mulher é realmente importante pra você quando ela não faz falta. Faz pênalti!

Faroberto

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

EXERCÍCIO DA GUERRA

Rajadas de metralhadoras são expelidas por consideradas bocas santas. As más línguas, com seus ditados impopulares, espalham a notícia. O Alfabeto traído, encurralado no beco escuro da ignorância, foi assassinado sem dó nem piedade. A escrita e a fala não mais existem. O analfa matador de aluguel grunhe um som ininteligível de vitória. Ao mesmo tempo, perto dali, nasce a Mímica.

Fábio Roberto


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

BEIJO

Vou guardar pra sempre na memória da minha alma até os momentos que não vivi ou viverei com você.

Não cabe em mim o tamanho de um sorriso.
Tenho boca curta, dentes cansados, língua silenciosa, garganta espremida.

Queria expressar ao mundo o sentimento explosivo de compartilhar um amor tão calmo e selvagem.
Queria gritar nossos sons, declamar nossas palavras derramadas do copo caído.
Beberia cada gota espalhada no chão pisado e sujo.
Deitaria no sereno, recebendo-o em meu corpo seco como se fosse o último gole do teu beijo.

O vento gelado da madrugada não consegue apagar o meu fogo, consumir a minha fome ou saciar a minha sede.
Os sonhos que são nossos sobrevoam os passos que ando.
A realidade em que acordo é um tempo que ninguém pode entender, nem mesmo eu.

Não sei quando vou sentir a dor de não te ver no espelho dos olhos,
mas vou guardar pra sempre na memória da minha alma o que vivi com você.



Fábio Roberto

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

OUTRO DIA


CHOVE LÁ FORA, É NOITE.
PESSOAS ESTÃO TRISTES,
OUTRAS FELIZES.
UMAS NASCEM,
OUTRAS MORREM,
OUTRAS NADA.

CHOVE LÁ FORA,
COMO É BOM.
ÁGUA, LÁGRIMA,
ESTRELA E SORRISO
SE MISTURAM,
BRILHAM TÃO IGUAIS,
INOCENTES.

E A LUA NÃO SENTE A DOR
DAQUELE QUE NÃO PARTIU.
A LUA NEM SENTE A DOR TERMINAR.

NÃO TEM CULPA DO DIA NASCER
OUTRA VEZ.



 Fábio Roberto
(Poema musicado em 1992)