terça-feira, 27 de dezembro de 2016

DRAMA

O que há de se fazer quando a paixão morre
Além de poetizar uma canção e o porre
Sempre foi assim e assim será depois
Do próximo amor que nem chegou, já foi


Fábio Roberto

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

EPITÁFIOS

Rico: o futuro... adeus, pertences! 

Sovina: Deus me pague! 

Ateu: há...deus? 

Pobre: lápide retirada por inadimplência 

Gay: já dei o que tinha que dar

Devedor: devo, não nego, vem aqui me cobrar

Modelo: meu esqueleto veste um terno Giorgio Armani

Fumante: estou na área reservada para fumantes

Atleta: bati o meu recorde sem respirar!

Bombeiro: cheguei tarde, só restaram cinzas...

Pescador: tantas minhocas, mas cadê a vara?

Ansioso: já fui tarde

Incrédulo: isto não está acontecendo

Otimista: passei desta para melhor

Viciado: do pó ao pó e vice versa

Convencido: meus pêsames pra vocês

Marinheiro: terra à vista!


Temer: não renuncio à vida

Moro: tenho convicção que morri

Dilma: porque morte é morte, vida é vida e cada um é uma coisa

Lula: o comunismo se fidel!

Odebrecht: a obra deste jazigo foi realizada sem propina e aprovada pelo PMDB... 

Faroberto

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

PANDORA

Hoje o meu poema não é triste,
tampouco minha música alegre.
Mais rápido que os dedos num tuíte.
Lentamente quanto amor que desintegre.

Hoje é assim um quase ou quase nada,
tal como estar de fraque e ser um pária.
Fugaz como o amor que se evada.
Eterno como a voz em uma ária.

Não sei se é hoje o tempo desta história.
Sei lá se estou vivendo este agora,
ou se é um pesadelo da memória.

Pergunto ao céu se fico ou vou embora.
Não sei se é fuga, encontro, paz ou glória,
mas fecho-me na caixa de Pandora.


Fábio Roberto

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A MOSCA

O tempo parece estar parado. Nada se moveu por uma eternidade até uma mosca pousar subitamente em meu nariz. Não sei por que não consegui mover braços para espantá-la, quando lembro imediatamente da canção “eu sou a moscaaaaa...”. A Brachycera voou e o tempo pareceu parado outra vez, mas há um ventilador girando segundos lentamente. Tão lentamente que não sinto o vento que ele faz. Aliás, nem sinto calor. Percebi que nem pisco, afinal o tempo parece não passar. Somente a mosca vai e volta. Ela tem asas e olhos enormes que me fitam fixamente, assim tenho certeza de que o tempo está inerte. Nos brilhantes olhos da mosca vejo refletido um ambiente morto. Como se fosse um fúnebre desenho. Mas não sei como é possível haver movimentos numa imagem estática. Como pode a mosca voar e o ventilador girar, mesmo malemolente, com o tempo e tudo mais imóvel? Por que não levanto, balanço pernas ou simplesmente grito? Descubro agora o motivo dos meus olhos não piscarem. Eles estão fechados como a porta que também se fecha, não antes de alguém desligar o ventilador e apagar as velas. Aqui somente a mosca continuará voando até cumprir seus trinta dias de vida e o tempo definitivamente parar. 

Fábio Roberto







sábado, 15 de outubro de 2016

EVOLUÇÃO

No fundo do poço existe outro poço e outro fundo do poço onde existe outro poço e outro fundo do poço.
E assim,
Sucessivamente.

Lenta,
Muito
L  e  n  t  a  m  e  n  t  e,
Nessa jornada ao inverso da vida haverá o revés do passo, pois que a vida não tem fim.

E será assim,
Sucessivamente,
Até que não existam poço e fundo do poço onde existam outro poço e outro fundo do poço e outro poço,

Que só restará a opção de subir.


Fábio Roberto

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

SEDE

Pode a palavra apagar
Pode o canto emudecer
Mesmo se o dia dormir
Sem que haja anoitecer

Pode parar de brilhar
Uma estrela a morrer
Um rio não mais navegar
E a saudade esquecer

Nossa história

Eu lembro como se fosse agora
Cravei as mãos nas tuas costas
Deixando dor/prazer marcados
No corpo que era a minha cama

Gemidos congelaram as horas
Os gritos excitaram as velas
O fogo mordendo os lençóis
Deu Sede que bebi teus lábios

Fábio Roberto
Escrito e musicado em 2011




terça-feira, 23 de agosto de 2016

TUMBA

Cansado desta poesia maldita que dilacera as palavras,
o coração e transcende à alma.
Não há como criar novas canções.
Os temas se repetiram, repetiram, repetiram
na constante perversa de uma vida e sua incógnita.
Pois, sim, existe vida após a morte.
Mas não sei o que existe antes.
Seria tudo um pensamento ou um espasmo,
 um flash, o último piscar dos olhos do tempo?

Sem resposta as musas, também cansadas desta poesia maldita
que dilacera as palavras, as canções, o coração e transcende à alma,
recolheram-se ao interior das suas asas que nunca mais abrirão.

E assim resta apenas o silêncio cinza e austero de uma tumba confortável e bela,
onde dormirá eternamente toda e qualquer inspiração.



Fábio Roberto

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Rumos e Rimas:

o poeta vive em agonia. Semelhante a um médium vê a vida, pode amá-la, mas não pode alterar os seus rumos. Depois que a poesia nasce o poeta não pode nem mesmo mudar as suas rimas.


Fábio Roberto 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Cemitério de Leões

A selva não mais me alimenta.
Nem a carne, nem o espírito.
O rio secou água da lenda.
Caíram árvore, sombra e mito.

Rugido não mais ecoa forte.
A caçada terminou em armadilha
Uma feroz espera pela morte.
A sílaba que faltou na redondilha.

Assim, façam a festa abutre e hiena.
Meus ossos vão voltar à natureza,
como se fossem a dor de uma gangrena
que devorou a alma da tristeza.


Fábio Roberto


sábado, 26 de março de 2016

BILHETE ÚNICO

Certas pessoas não passam pela nossa vida
Certas pessoas passam pela nossa vida
Certas pessoas não passam vida
Certas não pessoas passam
Certas pessoas não passam
Incertas pessoas
Incertas vidas
Certas vidas
Passam



Fábio Roberto

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

PEDINTE

Solitária régua sem compasso,
incapaz de desenhar a curva.
Rio morto aguardando chuva.
A marcha que perdeu o passo.

Palavras numa boca muda.
Estória nunca terminada.
Terra livre, fértil e não lavrada.
Mãos ágeis que o vazio saúda

Coração novo e enferrujado.
A vida ausente de esperança.
Um mundo frio e inabitado

e mesmo assim na esquina dança,
memória de céu estrelado:
carrega o olhar de uma criança.


Fábio Roberto

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Poema de Ano Novo

Ter esperança é lindo
e simultâneo ínfimo
quando o futuro findo
quando desespero íntimo

Ter esperança de novo
roda da vida roda
quando o futuro é corvo
quando o presente é foda

O que se sabe hoje
nunca se soube agora
vomito tudo fora

entranha que me foge
sorriso de outrora
mundo que me enoje



Fábio Roberto