quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Frases

Aperto
Para quem está com diarreia mais vale um penico do que um banquete.
Faminto
Para quem está com fome mais vale um ovo estrelado do que um céu idem.

Faroberto
do Livro das Frases, Questões e Trocadilhos

sábado, 25 de agosto de 2018

POST MORTEN



Queria te dizer uma palavra de alento,
só que o meu peito se abriu antes
que você percebesse o movimento
errado, estranho, frio, deselegante,

dos seus passos e pensamentos.

Sinto dizer que agora é além de tarde.
Nenhum amor ou resto de nós nos sucedeu.
Não adianta gesto, choro ou alarde.
Cada um dos nossos olhos já entardeceu

e é impossível ressuscitar os sentimentos.

Não somos sombra ou mito do que fomos.
Só emitimos este canto suave, lindo e fúnebre,
réstia da lembrança onde nos decompomos
tempo sem esperança, dolorido, lúgubre

inteiro e em pedaços, partes, fragmentos...


Fábio Roberto


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

IDADE

A enganosa vingança do feio recalcado é quando o bonito envelhece e esse feio acha que o bonito finalmente ficou feio também. É que sendo feio por dentro e por fora ele não enxerga a beleza de almas sem idade.

Faroberto

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CARRO


Pisei no freio e ele falhou. Como sempre falo, nada me segura!

Faroberto



terça-feira, 21 de agosto de 2018

SEDE


Pode a palavra apagar
Pode o canto emudecer
Mesmo se o dia dormir
Sem que haja anoitecer

Pode parar de brilhar
Uma estrela ao morrer
Um rio não mais navegar
E a saudade esquecer

Nossa história

Eu lembro como fosse agora
Cravei as mãos nas tuas costas
Deixando dor/prazer marcados
No corpo que era a minha cama

Gemidos congelaram as horas
Os gritos excitaram as velas
O fogo mordendo os lençóis
Deu sede que bebi teus lábios


Fábio Roberto



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

HERMETO PASCHOAL


Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA
Sexta estória

HERMETO PASCHOAL
Se fosse verdade a quantidade de gente que afirma ter estado no Show do Hermeto Paschoal e banda no TUCA, aquele que virou lenda urbana, o público lotaria um Morumbi. Realmente o teatro estava absurdamente lotado e posso dizer que Jairo Medeiros, Marcos Araújo, Titi Trujillo e eu estivemos lá. Aliás, depois que vimos o Bruxo atuar ao vivo pela primeira vez, comparecemos em muitas outras oportunidades para reverenciá-lo. A banda era de impressionar desde o mais aficionado e purista fã de jazz até o vanguardista mais radical e revolucionário, pois Hermeto é tudo e mais um pouco. Ele é um som. É o som na essência física, etérea, espiritual.

O grupo de multi-instrumentistas virtuoses se revezava em teclados, cordas, sopros e percussões. Bombardino e tuba numa banda, por exemplo, eram muito raros de se poder apreciar, mas os músicos de Hermeto os tocavam.

Entre tantos músicos fantásticos, discípulos do Mestre, dois eu tive oportunidade de acompanhar mais de perto depois. Carlos Malta, o mago dos sopros, em apresentações solo ou com outros artistas, e Itiberê Zwarg, baixista e pianista que dava umas canjas surpresa na banda que acompanhava Sonia Santhelmo na Baiúca Roosevelt. Coincidentemente, quando Sonia começou a cantar tempos antes na Baiúca Jardins, o trio de músicos era integrado pelos irmãos do Itiberê, o pianista Mário Zwarg e o baixista Ipojucan Zwarg.

Naquela noite no Tuca o show de Hermeto, que costumava ser longo, transcendeu tempo e espaço. Explico. Transcendeu o tempo porque o evento pode ter durado cinco horas ou dois dias, pois todos ali perderam a noção. Lembro que foi um espetáculo onde o Bruxo dedicou-se muito ao piano, inclusive tocou uma música composta na hora, tão divinamente bela e delicada, que só lágrimas de emoção podem expressar o sentimento ao escutá-la. E transcendeu o espaço porque os limites das paredes do teatro não seguraram Hermeto e banda, que pegaram instrumentos, desceram do palco, andaram pelo meio da plateia e saíram pra Rua Monte Alegre com o público atrás, tocando para uma lua espantada e com as estrelas servindo de holofotes. As luzes dos prédios vizinhos também se acenderam, as cabecinhas nas janelas e sacadas se maravilharam com o episódio improvisado. Subimos e descemos a Monte Alegre atrás de Hermeto e banda junto com o povo, completamente enfeitiçados, todos em puro êxtase.

Felicidade não é efêmera quando nascida da arte. Estamos todos lá e dentro de nós, sorrindo, dançando e cantando até hoje: Hermeto, Banda, Povo e nossas felicidades.

Fábio Roberto


RAUL SEIXAS

Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA
RAUL SEIXAS
O saudoso maluco beleza Raul Seixas tinha um público enorme e fiel, que o acompanhava nas apresentações e tocava suas canções em todas as rodas de viola das turmas não convencionais de Sampa. Não sei como nasceu a bobagem pejorativa da expressão “toca Raul”. Talvez porque seu público executava as músicas de forma muito simples. Mas Raul é um artista revolucionário na composição, que mistura diversos ritmos com o rock, tem ótimo nível poético, desenvolvido em temas polêmicos e fora de padrões, sendo ainda inovador na sua postura artística e pessoal, como contestador de conceitos, filosofias e sistemas sociais.
O show que assistimos foi na quadra do Cursinho Equipe, pois o teatro era pequeno demais para Raul. Nessa oportunidade ele exibiu-se levemente embriagado, o que se notava pelo andar meio cambaleante, mas a voz e a performance estavam excelentes. Isso foi por volta de 1980, época em que Raul criou o “Rock das Aranhas”, cuja letra ele dizia ser uma homenagem ao não contato das coisas, uma sátira bem humorada ao homossexualismo.
A composição acabou tendo a sua execução pública proibida pela censura, só que nessa tarde ele cismou de cantá-la. De repente dois meganhas da polícia federal invadiram o palco, se identificaram, impediram Raul de continuar o rock que mexia com as estruturas e tentaram retirá-lo dali. A reação do público foi tão violenta que os fardados desistiram imediatamente da empreitada. Pois Raul voltou ao microfone e não intimidado com a confusão, leu parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo aplaudido efusivamente e de pé por minutos. Raul Seixas levou o espetáculo até o seu final de forma irreverente e desafiadora. Diz a lenda que ele foi preso temporariamente depois do show.
Jairo Medeiros, Titi Trujillo e eu jamais esquecemos que testemunhamos esse grande ícone do rock brasileiro enfrentar a Ditadura com tanta coragem e talento.
Fábio Roberto

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A COR DO SOM

Fabiografia - Parte 9
Capítulo 99 - Os Shows da Vida
Quarta estória:
A COR DO SOM
O Grupo “A Cor Do Som” integrado pelo eletrificado Armandinho, um dos maiores guitarristas da música internacional, fazia espetáculos impossíveis de serem assistidos sentados. Na verdade era uma farra, onde se pulava o tempo inteiro ao som alucinante da banda. Era uma época em que podíamos ser politicamente incorretos, não havia tanto mimimi, tampouco assédios forçados. Nos shows as pessoas se encostavam, se pegavam e deixavam rolar o que o sentimento da hora comandasse.
E lá estávamos Jairo Medeiros, eu e Titi, este último dotado de longos e bem cuidados cabelos. Tão atraentes que o negão que dançava atrás, imaginando que em sua frente rebolava uma donzela, abraçou o Titi bem forte. Quando este virou o rosto extremamente sério sem dizer palavra e com aqueles olhos arregalados tipo Jack Nicholson em “O Iluminado”, eu juro, o Negão ficou pálido! Balbuciou palavras tentando se explicar, enquanto Jairo e eu riamos incontrolavelmente.
Antes de Titi falar algo, o incauto Negão desapareceu sem nem saber se o nosso amigo tinha se apaixonado! Devem estar correndo até hoje, o Titi e o Negão.
Fábio Roberto

terça-feira, 7 de agosto de 2018

ALCEU VALENÇA

Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA
A terceira estória:
ALCEU VALENÇA
Décadas atrás li num jornal uma pequena matéria sobre um cantor nordestino que havia percorrido o centro de São Paulo de megafone, divulgando o seu show que aconteceria num teatro da Avenida São João. A sua primeira apresentação não tivera público, então o artista foi à luta. Isso ficou na minha cabeça porque Alceu Valença havia me impressionado num festival da TV Globo com a música “Vou Danado pra Catende”, onde a crítica especializada o apelidara com sua banda de Pink Floyd do Sertão. Quando soube que ele se apresentaria no Teatro Equipe, um dos espaços musicais que frequentávamos assiduamente, eu chamei Titi Trujillo, Jairo Medeiros e fomos lá.
O diminuto teatro estava lotado e foi uma apresentação performática e musical memorável, ousada e bem humorada. Alceu chegou até a tentar construir uma “obra” empilhando cadeiras de madeira, que obviamente foram todas ao chão. Passamos a acompanhar por anos esse grande artista, até que a fama o tirou dos espaços alternativos da cidade.
Mas antes disso fomos a um show dele no Tuca. Chegamos cedo, mas aos poucos a enorme fila na entrada foi se avolumando e as pessoas se aglomerando ao ponto de ficarem literalmente grudadas umas nas outras. Em um momento bem sufocante eu fiquei entre duas garotas desconhecidas e não havia como nenhum de nós nos mexermos. A menina de trás me encoxava tão colada que eu sentia a sua respiração quente e sua boca resvalando no meu pescoço. E eu encoxava a moça da frente já quase me excitando com a involuntária, mas prazerosa situação. Até que a jovem, com extremo bom humor, virou a cabeça de lado, sorriu graciosamente e falou pra quem quisesse ouvir: - o chato é que aqui está tão apertado que nem dá pra sentir tesão! Saudades daqueles shows do Alceu...
Fábio Roberto

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

LÔ BORGES

Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA

Esta é a segunda estória do capítulo:

Como os parceiros Beto Guedes e Milton Nascimento, Lô Borges também tem conhecida timidez, talvez característica dos músicos do Clube da Esquina, mas no caso dele mais fora do que dentro dos palcos, onde apresentava seu brilhante repertório sempre acompanhado por banda de alto nível.
Titi Trujillo, Jairo Medeiros e eu fomos a um show dele no Teatro Getúlio Vargas, mas não sem antes fazermos o Jairo assinar um termo se comprometendo a não solicitar músicas ao artista, para não repetir o episódio do show do Beto... Neste, tudo transcorreu muito bem e nos deslumbramos com o som do admirado compositor.
Terminado o espetáculo nos dirigimos ao boteco que ficava ao lado do teatro, para refrescar as gargantas e comentar arranjos e execuções das composições. Tinha pouca gente no bar e quando estávamos na terceira ou quarta cerva entrou o Lô, logo depois seus músicos e pessoas da sua produção. O cantor sentou-se ao balcão e pediu uma aguardente, que servida bebeu de uma vez. Pediu outra dose e ficou ali sozinho, calado com os seus pensamentos por poucos instantes. Sim, a paz do pós-show do artista durou pouco.Enquanto Jairo entabulou conversação com o espontâneo e receptivo baixista da banda, que já ficara amigo no boteco antes do show, Titi abriu grande sorriso, levantou da cadeira e antes que pudéssemos impedir sentou-se ao lado do Lô Borges dando abraço, pedindo autógrafo e falando sem parar. A produção pagou a conta, levando Lô e banda rapidamente dali.

Depois disso fizemos Titi assinar um termo se comprometendo a nunca mais abordar artistas daquela maneira. Pelo que lembro, no caso dele não adiantou!



domingo, 5 de agosto de 2018

BETO GUEDES


Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA

Contei no início da Fabiografia que uma das minhas principais atividades na juventude, principalmente com os parceiros Titi e Jairo, era ir a shows numa época em que São Paulo tinha uma infinidade de teatros apresentando espetáculos a preços aceitáveis.
Assistimos a vários artistas consagrados, alguns completamente desconhecidos e muitos que iniciaram carreira para se tornarem depois grandes ídolos da MPB. Comparecíamos em pelo menos dois shows por semana, nos espaços que se transformariam em verdadeiras lendas da cidade, como o saudoso Teatro Lira Paulistana, reduto da música de vanguarda que emergia em Sampa no final da década de setenta para o início da década de oitenta.
Muitas estórias curiosas aconteceram nessas oportunidades, inclusive antes dos espetáculos. Encontrar e bater papo com Plínio Marcos, um dos dramaturgos brasileiros mais importantes, vendendo seus livros para as pessoas nas filas das bilheterias era uma constante. Vez ou outra até conversávamos em algum boteco próximo aos teatros, com músicos que iriam tocar num show, como fizemos com o baixista que acompanharia Lô Borges no Teatro Getúlio Vargas.
Vou postar algumas dessas estórias de que lembramos fatos que nos marcaram. Lá vai a primeira:

BETO
O mineiro Beto Guedes tem conhecida timidez. Às vezes dava a impressão de estar tocando de costas para não ter que olhar o público. Pouco interagia conversando com os fãs, o que ninguém reclamava, pois a plenitude do seu som embevecia a plateia.
Em show anterior ele havia apresentado uma composição dedicando-a ao pai, chamada “Casinha de Palha”. E num outro realizado no Teatro Getúlio Vargas logo depois desse fato, Beto e suas músicas provocavam intensas emoções ao público. Bem no meio do espetáculo, entre uma canção e outra, assim que se encerraram os calorosos aplausos um silêncio respeitoso tomou conta do ambiente, antes da próxima música deleitar os espectadores. Foi aí, exatamente nesse curto instante em que não cabia nem sílaba, que o amigo Jairo se levantou e irrompeu a ausência de qualquer barulho gritando a plenos pulmões: - toca Casinha Brancaaaaa!
O público que estava mudo, mudo continuou. Beto Guedes paralisou-se espantado. A banda permaneceu petrificada e eu comecei a gargalhar, o que não parei de fazer até hoje. O artista, suando frio e gaguejando, começou a cantar meio sem jeito... “moro, numa Casinha de Palha...” virado diretamente ao Jairo. Foi um momento histórico e inesquecível!

sábado, 4 de agosto de 2018

GIRASSOL


Solar
Solar o sol
Solar o ar
Solar o sol, o ar

Solar
Solar o sol
Solar o lar
Solar o sol, o lar

Solar
Solar o sol
Solar o solo
Solar o sol, o solo

O sub-sol
O sub-ar
O sub-lar
O sub-solo

Solar
O girassol
Solar o sol
Solar o som do sol


Fábio Roberto
Musicado em 1981