terça-feira, 26 de dezembro de 2017

ORGULHOSO

Quando a minha boca livre atingiu violentamente aquela bota suja quebrando cinco dos meus dentes e fazendo a minha exploradora língua degustar o sabor salgado do meu próprio sangue, eu já estava bastante machucado. Era muita gente ou coisa batendo em mim. Eu já não tinha os olhos abertos, pois feito os de um lutador de boxe que apanhou por quinze rounds, eles eram uma massa roxa intumescida, apodrecida e fechada para a vergonha estampada em qualquer espelho.
O golpe que eu recebi no fígado que aguentou centenas de litros de cerveja e whisky por tantos anos, finalmente abalou-me e a pancada covarde que detonou a minha coluna cervical a ponto de dobrá-la feito um coqueiro em tempestade tropical, me fez cair entontecido pela vigésima vez. Mas os socos e chutes derradeiros não aconteceram para que eu pudesse descansar a consciência.
Aí meu irmão, eu fiz a estupidez de me levantar, cuspir a minha bílis, urrar como um Hulk de Biafra e desafiar quem me agredia com toda a raiva estúpida que eu podia. Tomei tanta porrada que virei do avesso. O líquido viscoso avermelhado jorrou do meu nariz que ao mesmo tempo procurou algum aroma ou ar antes que eu me acreditasse despedaçado.
Então eu todo quebrado prometi me erguer toda vez que eu fosse derrubado. Eu continha tanto ódio que amava o meu oponente mais do que me amava. Não me importava o revés do corpo e minha alma até aquele instante só tinha band-aids e merthiolate, tanto que eu desprezava qualquer lancinante dor.
Eu pedi que esfacelassem com um tiro a minha cabeça louca, a minha cabeça louca rogava uma bala que atravessasse os pensamentos bons e vis de quem não aguenta mais a espera para ser feliz. Mesmo banguela eu sabia que receberia o prêmio Nobel da guerra das mãos de Mandela.
Queria eu abrir os braços e receber no ventre um sopro suave que me fizesse lentamente vergar o orgulho e admitir a minha vitória eterna perante a vida. Era talvez triste e difícil constatar assim tão costurado, remendado, estropiado e destruído, que venci.
Fábio Roberto
Do Livro de Textos e Crônicas


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Do Livro dos Destinos: VIDRO

Quem tem telhado de vidro tem cabeça oca.
Quem tem cabeça oca não tem sangue nas veias.
Quem não tem sangue nas veias tem coração vazio.
Quem tem coração vazio não tem sentimentos.
Quem não tem sentimentos não ama.
Quem não ama tem uma vida sem graça.
Quem tem vida sem graça não tem sorriso.
Quem não tem sorriso não tem dente.
Quem não tem dente e tem bom humor é porque não tem telhado de vidro.
Fábio Roberto


domingo, 10 de dezembro de 2017

O SUCO

A música é o suco da arte
Palavras do Fontanetti
Fecha-se claquete
Montam-se cada parte
Do filme que vislumbrei
Som puro e benfazejo
Que no meu violão calejo
A vida em que me sobrei
O líquido percorre
Cada gesto, cada imagem
Cada estrofe e compasso
Preenchendo todo espaço
Mergulhando esta viagem
O meu sentimento escorre

Fábio Roberto
2012


sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

FOGO-FÁTUO

Ao Amor
quem não faz justiça
vira carniça.

Faroberto

BRANCO

dos olhos
do tecido
da nuvem
do sal
da parede
da neve
do carro
do leite
do cão
da pele
do açúcar
da flor
da tinta
da tela
da bandeira
da pomba
do lençol
da fumaça
da vela
da areia
do gozo
do urso
da farinha
da luz
do papel.
Branco
me deu
na cabeça.
Fábio Roberto


imagem wallpapers

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

MADRUGADA

neste instante só consigo escrever escrever escrever escrever. o violão me olha. para ele isso é um replay. faz tststststststs............ sorri em solmaior.
tão claro que fecho os olhos. respiro. dou um gole em algo que está no copo.
é forte. parei de fumar há anos, mas dou uma profunda tragada na fumaça que ainda corre dentro de mim. tusso muito.
bate o coração bate... bate...
s u a v e m e n t e.
e para. silencio. o violão de novo... tststststststs.... os cães latem indignados. abro os olhos. o coração volta de seu cansaço. bate..... bate..... e vai ritmando. cadencia. bate
l o u c a m e n t e
mas acalma repentinamente porque
o som de uma corda rompendo toma o ambiente.
nem mais tststststs sai do violão.
nem sorriso em solmaior.
nem olhar.
nem claridade.
o silêncio se assusta porque nada escuta. pego o violão e faço....... tstststststs....
e toco assim mesmo... faltando uma corda.

Fábio Roberto

domingo, 3 de dezembro de 2017

ESPELHO

Eu sou de paz. Até que pisem no meu calo.
Calo? Nunca. Até amordaçado o que eu sinto falo.
Falo? Sempre pronto, duro, ereto e disposto a gozar.
Gozar? Basta olhar para algumas idiotas caras.
Caras? Eu pago o preço e acendo a minha chama.
Chama? Chamo quem eu quiser, mas que alegria traga.
Traga? Aspiro e engulo esta fumaça e as cinzas.
Cinza? Não vejo a cor do horizonte, ele que me fita.
Fita? Já não é preciso prender meus cabelos.
Belos? Somente teus espelhos, você em meus olhos...

Fábio Roberto
imagem wahooart

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

NÃO TENHO TEMPO


Estão todos dormindo
Mesmo quando despertos
Ou pelo menos fingindo
Que estão vivos e espertos
Dizem que o tempo é implacável
Que falta mais que dinheiro
Desculpinha insustentável
Na boca de loroteiro
Fábio Roberto
Foto spiderpic

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O GOL

Tuas pernas duas traves
Tiro livre e direto ao gol
Sem travas ou entraves
Sagrada melodia soul
E posso dizer: que golaço
No copo e no corpo do amor
Agora é correr pro abraço
Vibrando feito goleador
Fábio Roberto

O GOLE

Foi um gole abençoado
Raro, único, maduro
Explicá-lo me aventuro
Um gole a ser admirado
Um prazer antecipado
Derradeiro e prematuro
Como rebento nascituro
Sedentamente desejado
Fábio Roberto

terça-feira, 28 de novembro de 2017

A GULA

Eu te bebo e engulo toda
com sede e fome de animal.
Uma volúpia incômoda,
imensa, desproporcional.
Gula feita de pecado.
Puro desejo sexual.
Revel, indomesticado,
célere, rangente, anormal.
Fábio Roberto

A GOLA

O meu casaco rasgado
Roto, com um grande furo
Puído, sujo, obscuro
Feito coração despedaçado
Vazio de lãs, descosturado
De esperanças, pão-duro
Murmúrio grave que amarguro
Colar que enforca um apaixonado
Fábio Roberto

ILUSÃO

Aí perco o sono, tudo é silêncio, principalmente dentro de mim onde nada estou acontecendo. Porque meu amor não está aqui dormindo, cansada, exausta de paixão. Fico um vazio, inerte palidez de alma, triste porque não me sinto mais doer nem saudade. Procuro um som na paisagem da janela, mas só há murmúrios difusos no escuro da madrugada. Penso ouvir tiros, gemidos de alguém fazendo sexo, gritos de truco, filme passando em televisão, um canto de melodia melancólica, gato miando, cão uivando sem lua no céu, não há céu, não há mundo, nem olhos pra esse nada enxergar. Só queria dormir a mente cansada de existir esta vida, quando lembro que eu já disse que "dormir é a ressaca da vida e o aperitivo da morte"... tudo não passa de ilusão. tudo não passa. tudo não. tudo. tu. Ilusão. 

Fábio Roberto

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

LEXOTAN, CANNABIS, BALLANTINE’S, MORFINA, CICUTA...


Nada aplacou a insuportável dor na execução da Juba daquele que era o Faroberto.

Cada fio de cabelo derramado ao chão estendeu a agonia, que se prolongou por um tempo impossível de ser medido em parâmetros terrenos.

Está submersa em mim a inspiração para sorriso, poesia ou música. Porque ao olhar a vida como ela é não há futuro, não há vida e nem mesmo olhar. Disse eu em uma antiga letra de canção que “...a vida não se enquadra aos olhos de quem a vê. De quem a vê.”

Eu nem me enquadro em mim mesmo. Agora nem me habito ou vejo. Apenas vou andando novamente sem exclamação interrogação vírgulas ou ponto final

Reticências


Fábio Roberto

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

LIVRO DOUTRINÁRIO

Ao saber que eu conclui momentaneamente a Fabiografia - Uma Autobiografia Não Autorizada Pelo Próprio Autor, Leandro Henrique sugeriu que eu escrevesse o meu Livro Doutrinário, cujo título ele definiu como FABÍBLIA!


terça-feira, 21 de novembro de 2017

MOMENTO


Esta noite não vou postar palhaçadas, poemas agoniados, frases espirituosas, netinhas brincando, músicas, fotos de cervejas porque a Sede nunca acaba, elogios pra mulher amada, desprezos às mulheres que amei e não amo mais,críticas de filmes ou séries, churras, saraus, gozações sobre os amigos, textos libidinosos ou malditos, eventos com libações alcoólicas, execrações a políticos ou outros tipos de raças sub-humanas etc. Estou em momento introspectivo e ponto.
Faroberto

ATENÇÃO, ATENÇÃO

Informo aos amigos e amigas que a sentença de execução da juba farobertiana proferida na semana passada dentro da Operação LEVA JEITO, foi confirmada.
Hoje, numa profunda preparação espiritual e psicológica, foram cortados o basto bigode e a espessa barba.
Caso a apelação feita ao STF não consiga deferimento, o implacável suplício será consumado entre quinta feira e sexta feira, em cerimônia restrita aos amigos e amigas que pagarem cerveja depois.
Faroberto

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

ESCRITAS

Eu escrevo palavras tortas, em linhas retas e mortas.
Apago longínquas memórias, rasgo páginas e histórias.
Cerro os olhos, fecho as portas, seco o sangue das aortas,
surdo a rezas, rogatórias, tempestades peremptórias.
Eu escrevo sem sentido, sem ter tido, sem ter ido,
porque sempre soube e não coube ou não houve, me ouve:
seja o meu verso o inverso perverso, que a vida louve
uma poesia ter sido, ter lido, ter sentido...
Fábio Roberto

sábado, 18 de novembro de 2017

O ESTERTOR DA POESIA

Não sei por que eu teimo e escrevo
Talvez da poesia eu seja escravo
Juntar algumas sílabas me atrevo
Dedicando à vida um desagravo

O sentimento surge logo cravo
Nem sei de onde vem, só o transcrevo
Se for suave dramatizo e agravo
Se for maldito e bravo só descrevo

Se me acabam as rimas, modifico
Pena que não é assim com a vida
Penso que estou, nem fui nem fico
Alma vagueando numa ermida

Ah palavra, agora eu te hiberno
Presa, ficarás em minha cabeça
Queimaremos juntos neste inferno
Até que a consciência desfaleça


Fábio Roberto

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

CELEIRO

Pouco de mim resta-me inteiro.
Colo-me aos pedaços de minhas sobras.
Sem gabaritos, linhas, elos, dobras,
reconstruo-me com esmero de engenheiro.

Em cada parte no revés do chão jazia,
mas fui me recolhendo da poeira.
Faxinei-me até toda a sujeira
da frustração, sobrar-se íntima e vazia.

Nada mais existo além de vida.
Meus olhos os que fitam-me primeiro,
diamantes garimpados na jazida,

aprovam-me no espelho do meu rosto.
Minh’alma recupera-me em seu posto.
Retorno-me discreto ao meu celeiro.


Fábio Roberto

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

HORA DA DESPEDIDA

Adeus.
Chegou a temida hora. Tristeza. Não há como voltar atrás.
Em breve subiremos ao cadafalso, mas ficamos juntos um bom tempo. Passamos momentos difíceis e outros felizes. Sonhamos e vivemos a nossa estória.
É muita dor, mas a separação é necessária e inevitável. E a ruptura tem que ser assim como a morte sempre é: abrupta, violenta e impiedosa!
Ficarão a saudade e a memória gravadas na alma e registradas pelas fotografias.
Agora só me resta orar para que vocês, após cortados, renasçam e cresçam fortes novamente, meus queridos cabelos!
Que a juba leonina volte a preencher rapidamente a cabeça do estranho que me olhará do espelho.
Fábio Roberto


domingo, 12 de novembro de 2017

BODAS COM A LOUCURA

Quero que o silêncio paire
E assombre qualquer palavra
Que impeça que eu desvaire
Mesmo as de minha lavra
Mesmo as de outras bocas
Sejam intensas, sejam ocas
Mesmo que elas me provoquem
Que me afaguem ou me soquem
Quero que o silêncio assuste
A palavra que me ajuste
Que não deixe que eu descambe

E neste túmulo sambe
Mesmo a palavra pura
Que de um câncer seja a cura
Mesmo que definitiva
Seja amável ou aflitiva
Quero que o silêncio espante
A palavra mesmo que marcante
Mesmo a mais tranquilizante
Ou a que soe retumbante
Mesmo a que seja materna
Ou como a luz de uma lanterna
Como a de um pai pra um filho
Ou venenosa se de um deus caudilho
Quero que as palavras morram todas
E levem o meu silêncio insuportável
Festando com a loucura estas bodas
Eternas em um caixão desconfortável


Fábio Roberto

depositphotos

sábado, 11 de novembro de 2017

ALMA

Saudade é a fome da alma de quem ama.
É a tristeza aguda do final de um drama.
Não há remédio ou cura, pois não é doença.
Não lhe move fé, misticismo ou crença.
Saudade é a fome da alma nunca saciada.
É fissura e dor pulsante de uma viciada.
É sentir-se do avesso dentro de uma roupa.
É desejar morrer quando a morte, vil, te poupa.
Saudade é não abrir os olhos e ainda ver,
a imagem cristalina do que não vai viver.
É liberto acorrentar-se à antiga cama,
pra sempre insone. Fome da alma de quem ama.
Fábio Roberto

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POEMA SUAVE

Sóbrio eu não existo em minha cabeça. A minha cabeça passeia longe de mim.
Sóbrio a realidade é muito pior, porque a cabeça não descansa. E eu não sei aonde escondo o cansaço.
A inteligência, a criatividade, a sensibilidade e a pressa se aguçam se eu estou sóbrio e isso é cruel. A alegria se torna tão extrema quanto a melancolia.
Sóbrio, todas as drogas que já usei se acendem em mim violentamente. Penso de forma mais ousada, tenho vontade de voar o carro naquela estrada mesmo que o carro se arrebente. Prefiro até ir sem freios.
Sóbrio os poemas são mais agressivos, as músicas mais encrencadas... a palavra deixa de ser irônica para ficar sarcástica e amarga.
Sóbrio eu arrisco tudo: a vida, o amor, a amizade, a família, o trabalho. Fica tudo nublado, tudo escurecido, percebo que as pessoas são muito mais ridículas do que o normal.
Sóbrio eu tropeço na minha alma. Quero que os demônios e os deuses morram abraçados. Eu mergulho nas viagens mais profundas do bem e do mal. Não há mais o certo e o errado. Não tenho medo de nada. Desrespeito qualquer lei, dogma, regra, contrato, convenção, norma ou acerto. Nada me segura. Nada me impede. Perco completamente o medo e os limites quando estou sóbrio.
Sóbrio eu não me olho no espelho porque não estou lá. Estou do lado de fora de mim. Sozinho como o mais miserável dos pecadores. Sozinho porque não vou compartilhar este momento de lucidez ensandecida com ninguém.
Quando eu voltar desta paisagem sombria e selvagem talvez renasça em um poema suave. Palavras e cenas que os teus e os meus olhos gostarão de ler e ver. Ou esquecer.
Fábio Roberto

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

DESA-BAFO

Este momento é tão desagradável,
que até o meu desa-bafo cheira mal.
Por ser efeito e causa do odor
de uma palavra amarga: dor.
Mas a palavra é biodegradável,
assim como amar não é normal
para um lobo da estepe verdadeiro,
que ronda a podre sociedade humana,
devorando as reses e os cordeiros
e saciando a sede que o dana.
Eu sou este leão, perdi o meu bando.
Felino velho, solitário e selvagem.
Ferido, espreitando a paisagem
e sabendo, o caçador está chegando.
Quem sabe seja então o dia da caça
e o predador sinta a força do meu beijo.
E peça a mim num último desejo,
que o mate logo pra que logo ele renasça.
Soprarei meu bafo renovado em uma brisa,
com cheiro de chuva molhando a terra.
Uma criança será minha algoz e minha juíza,
com a inocência de um deus que nunca erra.
Fábio Roberto


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A PRESSA

A vida não tem pressa.
Pressa mesmo tenho eu.
Saiba que o futuro aconteceu
e foi bom, foi bom à beça.
Ser devagar a mim não peça.
Momento ruim se escondeu.
Eu quero a calma às avessas,
vivendo aquilo tudo que foi meu:
o dia que ainda não chegou,
a noite que ainda nem perdi.
Não sei se o tempo será ou se passou,
nem sei se nasço, vivo ou já morri.
Fábio Roberto

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

FINADOS

Quem é morto sempre aparece
Nas lembranças de uma saudade
Basta fazer uma prece
Basta querer de verdade
O vivo é quem desaparece
E assombra com sua maldade
Mas desse qualquer um esquece
Nem lhe sobra piedade
Isto é o que acontece
Eu te conto por amizade
Tem vivo que ao inferno desce
Tem morto no céu, majestade!
Fábio Roberto

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O POEMA NOVO

Fiz este poema em 2008. Sempre novo.
O POEMA NOVO
A minha prioridade não é mais você.
É uma pena, mulher dos meus sonhos.
Mas como um poeta que não dorme pode sonhar?
Como pode se iludir se a realidade é tão simples.
Nascemos em quais planetas?
Crescemos em quais paisagens?
Onde vivemos as nossas aventuras?
Quando os nossos passos se cruzaram?
Nossos corpos se completaram antes que as nossas almas se reconhecessem.
Foi isso... foi isso... foi isso...
Os nossos olhares se fundiram naquele momento em que o tempo sorriu.
Foi o meu desespero ou o teu?
Foi a tua ou a minha mão que nos puxou para um abraço tão poderoso?
Qual a boca que nos engoliu pelos dois?
Qual o sexo que transbordou primeiro?
Eu, um fogo ora brando ora abrasador, te quero como quero a vida.
Nasci poeta melancólico e palhaço.
Como podem habitar os dois ao mesmo tempo em mim?
Mar ora revolto ora tranqüilo, você me ama e dispensa este amor eterno.
Que vida você terá sem um amor de tal intensidade?
Como pode habitar ao mesmo tempo em ti a minha presença e a minha ausência?
Porque você experimentou a minha força. Conheceu até a minha covardia.
E eu experimentei o sabor dos teus desejos. Até aqueles que só eu gostei.
Eu te sei antes dos teus gestos. Eu te sei antes de tuas lágrimas surgirem.
Eu te sei antes das palavras te fluírem. Antes que imagines algo, te sei.
E tu me sabes tanto, tanto, tanto, que me desprezaste hoje sem querer.
Mesmo sabendo que irás sofrer. E que terás uma saudade insuportável.
Estou olhando para a linha do horizonte e não sei se estou vendo você.
Você está me vendo? Se estiver, minha linda, cante, cante para eu te encontrar.
Eu te alcançarei com meu violão vagabundo, meu tênis velho, meu cabelo bagunçado, minhas roupas surradas, meu coração cansado e o poema novo que fiz pra você.
Fábio Roberto

DO ADVOGADO AO JUIZ

Tempos atrás fui acusado de relacionamento com mulheres comprometidas. Mesmo não sendo advogado resolvi exercer o direito de auto defesa, indignado por sofrer tamanhas injúrias, calúnias, aleivosias e difamações. Esta foi a peça por mim produzida, que hoje consta nos anais (sem conotação sexual) dos tribunais brasileiros, jurisprudência ainda hoje utilizada para inocentar outras pessoas vilãmente injustiçadas.
DO ADVOGADO AO JUIZ
Meritíssimo Dr. Desembargador,
Data vênia dirijo-me a este ilustre magistrado, solicitando a priori ab-rogação deste actio. Deste actio, não o actio sexual.
Ad causam do réu peço aditamento neste agravo, apontando injusto arresto. Agora é tarde.
Há atenuantes nesta citação, contra juz, contra legem e contratura (Aplicaram o kama Sutra sem alongamento).
Por que não se atentou ao contraditório? Ex adverso, as mulheres não foram ouvidas por liberum arbitrium vitae.
A quem cabe o ônus da prova? Ao anus? Há anos é quaestio facti.
Necessário se faz desprover esta denúncia, cuja lide deve observar a ausência de dolo ou busca de emolumentos através das paixões envolvidas.
O réu alega usucapião para resguardar os seus direitos junto a todas as mulheres citadas neste fórum.
Aos namorados de ficta possessio resta após esta facta concludentia, ex tempore encerrar esta denunciação caluniosa in honoris causa.
Pleni jure rogo a este tribunal placitar a liberdade do réu nesta petição, segundo o sanctio juris e o sanctio tesão.
Sine qua non considerar res judicata esta ação, fato pelo qual o requerido solicita extinção do processo.
Ex bona fide e por consensus ominiuim, de jure publico assim que absolvido o inocentado aguardará as moças na saída, permissa vênia.
Faroberto

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

SEXO: QUANTIDADE E QUALIDADE

sexo uma vez por ano é absurdo,
uma vez por mês é ridículo,
uma vez por semana é pouco,
três vezes por semana é normal,
todo dia é vício,
três vezes ao dia é tara,
três vezes ao dia com parceiras diferentes em cada vez é devassidão,
três vezes ao dia com três parceiras diferentes em cada vez é perversão.
sexo bem feito é raro.
sexo ruim é melhor do que nenhum.
sexo é melhor do que viver.

Faroberto

domingo, 5 de novembro de 2017

RAP DO MORALISTA

Eu fui convidado pra uma noite de sexo.
Achei a estória estranha, parecia sem nexo.
Não houve conversas, nem preliminares,
carinho, envolvimento, troca de olhares.
Será que estou por fora, velho, ultrapassado?
Agora não é preciso ser apresentado?
“Oi linda como vai, você vem sempre aqui?”
Hoje é “nossa, que abusado, tira a mão daqui!”
Não rola conquista, não existe paquera,
o tal do romantismo está esquecido em outra era.
Agradecendo a sorte fiquei lisonjeado,
era mulherão pra me deixar apaixonado.
Mas subitamente surgiu outra donzela,
que veio desfilando deslumbrante e bela.
Perguntou-me displicente, natural, faceira,
se podia também participar da brincadeira.
Confesso que na hora fiquei sem ação.
Duas beldades, meu deus, que tentação!
Será que dou conta? Estaria em forma?
Pensei, “já faz um tempo que não quebro a norma.”
Eu já não conseguia esconder o tesão.
Quem manda ser casado e viver na prisão?
Haveria que encarar o risco da aventura.
Recusar essa parada seria loucura.
Aí a consciência traiçoeira me lembrou,
que do jovem maluco nada mais sobrou.
Tornei-me um cara sério, de família, comportado.
Camisa social, cabelo bem cortado.
Mas dispensar as moças feito um moralista,
disfarçando o membro ereto pra não dar na vista?
Isso não acontece toda hora, todo dia.
Uma anjinha e uma santinha... eu que virei vadia.
Eu tinha que contar ao mundo esta façanha,
saciei os meus caprichos de tara tamanha.
Como disse sabiamente o Grão Mestre Vinícius,
o lobo perde os pelos, mas não perde os vícios...
Faroberto
Do “Blog do Poemas Brabos” em priscas eras



sábado, 4 de novembro de 2017

Carta de Poeta Suicida

a vida segue o seu rumo. portanto, não tem culpa de nada, culpado é o rumo. a vida é um simples roteiro de novela. não é literatura nobre. a vida fica tão estupefata quanto os seus personagens a cada cena rodada. a vida é a metalinguagem da eternidade. tudo muda na vida, mas a vida é sempre a mesma. ela não tem uma face. não tem corpo próprio, é uma incorporação. a vida é uma alma percorrendo ora o limbo, ora o olimpo sem estar ou ficar em lugar algum porque está em todos. é muito difícil ser a vida, sempre insatisfeita com ela mesma porque sabe que poderia ir muito longe, mesmo não sabendo aonde ou quanto. por isso a vida e só a vida não teme a morte. não existe sem ela. a morte é o pulmão da vida. sem a morte a vida seria apenas tristeza. perderia a graça, o mistério e a beleza. por isso morro agora. assim eu volto a ter graça, terei algum mistério, quem sabe alguma beleza. poesia certamente não possuirei mais para não ser triste nem ter felicidade efêmera. poesia é morte, lágrima nos olhos e sorriso no canto da boca da vida sem face.

Faroberto


SILÊNCIO

Meu violão ficou sem cordas,
mas eu que perdi a fala.
Palavras vieram, hordas,
juntei-as numa cabala,
segurei-as pelas bordas:
o poeta um dia se cala.

Fábio Roberto

terça-feira, 31 de outubro de 2017

MAGALI

A maioria das mulheres que passaram pela minha vida virou poesia e canção, fossem Musas eternas ou de um momento.
Escrevendo a quinta parte da Fabiografia descobri que importantes amigas não haviam sido brindadas com essa tradição. Quarenta e nove anos depois me redimo desse descuido escrevendo para a primeira namorada oficial, que representará as outras meninas e mulheres que amei sem compor ou poetizar.
Da Fabiografia Parte 5
MAGALI
Maga, a feiticeira de abrir sorrisos
Amiga de pensamentos precisos
Olhos espertos, vivos e curiosos
Corpinho de movimentos teimosos
Escapando lépida da bola na queimada
Canta comigo, menina apaixonada
Brinca aventura no barracão escuro
Não importa qual foi nosso futuro
Pularemos muro, a infância, o tempo
Buscaremos na memória o sentimento
Viveremos a alegria que transborda
O relógio andou sem darmos corda
Cada um buscou a ilusão de sua paz
Quem virou a página sem olhar pra trás?
Quem será você hoje além deste poema?
A fotografia é a saudade suprema
De ser feliz, herói, ter esperança
Mas isso fica pra quem agora é criança.
Fábio Roberto

sábado, 28 de outubro de 2017

FOGO

Eu te queimo
E em te queimar eu teimo
Eu te domino e queimo inteira por dentro
Pelas pontas, pelos poros, pelo centro
O meu calor vai percorrendo teu organismo
Num ardor como se fora um eufemismo
Mesmo se do teu corpo estiver fora.
Queimo sem parar e a toda hora
Porque queimo mesmo havendo esta distância
Queimo seja qual a circunstância
Teus lábios sentem minhas labaredas
Mesmo que queimar não me concedas.
Queimo-te no sonho em que me abraças
Teus olhos brilham feitos duas brasas
Queimo até virarmos só fumaças
Estrelas fumegantes nossas casas

Se em cinzas porventura transformados
Ou se dissipados pelos ventos
Queimaremos ainda apaixonados
Queimaremos se existirem pensamentos
Os nossos sentimentos escaldados
 Sorrisos serão deles testamentos


Fábio Roberto


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

EXERCÍCIO DA GUERRA

Rajadas de metralhadoras são expelidas por consideradas bocas santas. As más línguas, com seus ditados impopulares, espalham a notícia. O Alfabeto traído, encurralado no beco escuro da ignorância, foi assassinado sem dó nem piedade. A escrita e a fala não mais existem. O analfa matador de aluguel grunhe um som ininteligível de vitória. Ao mesmo tempo, perto dali, nasce a Mímica.




Fábio Roberto

LOBO

Noite sem lua.
A luz está escondida atrás das nuvens dos olhos fechados.
Noite sem uivo.
O sentimento está oculto no íntimo do corpo cansado.
Mas, de súbito, os olhos se abrem, as nuvens se dissipam,
A lua aparece, a emoção se solta
E o coração bate forte, compassado,
Rompendo o silêncio da solidão de vasto mundo.
O uivo que seria lúgubre e melancólico,
Não ressoa no breu da vida.
O lobo estanca o grito, maravilhado
Com um sorriso arrepiante que vislumbra no infinito.
No céu da boca e no canto dos seus lábios, ele
Timidamente espasma um quase sorriso em retribuição,
Admirando o sol nascer só para haver esperança
De um dia melhor.
E assim, foge sereno e majestoso para a distância em que habita.

Fábio Roberto

terça-feira, 24 de outubro de 2017

M USA

Não posso e não vou dizer aqui o teu nome,
justamente aqui onde consigo me expressar.
Quem me sabe, sabe o tamanho da minha fome.
Conhece esta volúpia que cresce e nunca irá passar.

Sou um devorador voraz, mas sensível do tempo.
Ansiedade pra mim morreu ontem, ou antes,
atrasada perante a pressa do meu sentimento.
Renasço, sem que do cadáver minha alma se levante.

Ah, mas se poeta sou, não tinha que palavras soar.
Se minha boca fechasse, mosquito nenhum entrava.
Não existiria confusão ou algo a nossa alegria amaldiçoar.
Nem conheceria o tormento que a frase correta trava.

Não posso e não contarei aqui como tu chamas.
Só quero gritar ao mundo que te amo,
no precedente instante que me apague a chama
dos olhos, da mente, do sangue que derramo.

Não falarei, deixo musicada e escrita a minha herança
explícita, óbvia, claríssima, a ti inteiramente dedicada.
À minha musa coberta de paixão, sonho e esperança,
precisavam falar meus olhos, sons, poemas e mais nada.

Fábio Roberto


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A IMUNIDADE

Eu sempre fui considerado e sempre me senti diferente de seres humanos. Nem melhor, nem pior, apenas diferente, mesmo porque, de modéstia e humildade incomparáveis, mesmo nascido leonino, não tenho insegurança em me saber longe da mediocridade mundana. Portanto, com essa decisiva ausência de dúvida, pior que outros jamais eu seria.

Os humanos, na maior parcela de sua vasta população, são sujos, nojentos, desprovidos de sensibilidade e inteligência. Raramente são caridosos e restringem a prática da solidariedade ao acontecimento de tragédias, apenas porque pensam que pode acontecer com eles amanhã. Interesseiros, amorais e antiéticos, são os maiores destruidores do planeta, consumindo avidamente a natureza, os animais e seus semelhantes, predadores de si mesmos sem nem perceberem, devorando-se dos pés ao pescoço até a inanição absoluta.

Obviamente toda exceção tem uma regra e no caso dos humanos é algo a ser conferido, pois os que se destacam das premissas apontadas provavelmente habitam este espaço forçadamente, não são daqui, exatamente como eu.

Realizei esta digressão para situar a imunidade apontada no título do capítulo: o estranho fato de Faroberto nunca ter sido acometido de uma mísera gripe. Pergunto-me há anos como é ficar constipado, com dores por todo o corpo, cabeça pesada rodando e com desvarios pela febre alta. Espirros intermitentes, frio intenso, olhos vermelhos lacrimejantes. O pulmão saindo pela boca por causa da agressividade da tosse. Todos os mais de 298 sintomas ou resultados dos famigerados vírus já descobertos, eu nunca tive a oportunidade de sentir, provocando o menosprezo, a inveja, o preconceito das pessoas, inclusive dos amigos próximos.

E olha que eu tentei de todas as formas ser contaminado. Andei durante invernos no horário de pico em ônibus e metrôs lotados de gente doente. Perambulei nos prontos socorros de hospitais públicos de baixo nível, repletos de enfermos. Visitei amigos combalidos e prestei assistência a desconhecidos empalamados. Fiquei o mais próximo possível das amigas achacadas por meros resfriados ou por vírus influenza A, o pior e mais fatal. Colei no corpo e na alma das minhas Musas da Vida quando debilitadas por fortes gripes, fazendo amor delicadamente por dias, trocando fluídos e energias intensamente. Em vão. Nada aconteceu. Nem um simples espirro eu consegui obter, restando-me apenas a frustração e a sensação de ser um pária, proscrito até dos exilados de Capella.



A inusitada imunidade foi notada quando eu era um roliço bebê, um dia em que a minha mãe, por compromissos inadiáveis, deixou-me na creche da Antarctica, empresa onde o meu pai trabalhava. A quantidade de crianças era enorme e todas, de forma praticamente epidêmica, estavam gripadas. A minha chegada causou espanto. Primeiro pela recusa taxativa em beber leite. A mera proximidade de uma mamadeira com esse líquido asqueroso causava jatos certeiros de vômito, que se espalhavam no ambiente atingindo as enfermeiras. Segundo pela contagiante alegria e impressionante saúde. Imediatamente os médicos infectologistas do Hospital Santa Helena foram chamados pelo pediatra da creche, preocupado que eu estivesse com uma nova modalidade de vírus incubado, que talvez se manifestasse violentamente depois. Exames de todo o tipo foram realizados sem nada constatar, então fui liberado no fim da tarde, com a recomendação de observação cuidadosa e diária pela prestimosa Lourdes, mãe exemplar e enfermeira de carreira.

Quem consultar os arquivos dos jornais da época constatará a grave e preocupante pandemia que se alastrou pela cidade de São Paulo, atingindo principalmente crianças, idosos e pessoas insalubres. Assustando a todos eu permaneci alheio a qualquer problema, fama que se difundiu despertando o interesse do Dr. Luiz RotzenbergerAlfitstofen, Mestre Livre Docente da USP e Chefe da Área de Moléstias Contagiosas do Hospital das Clínicas, que se intrigou com o meu “caso” de nunca ter tido uma gripe ou resfriado, em meio à verdadeira praga que devastava a cidade e começava a se espalhar pelo país. Não conseguindo explicações após criteriosas análises, o luminar esculápio recorreu ao colega e conceituado especialista Dr. Jorge Alberto Pereira Barreto, Diretor do Hospital Emílio Ribas, de Isolamento, Referência no Tratamento de Doenças e Moléstias Contagiosas na América Latina. A junta médica não alcançou diagnóstico, tornando a solução da minha imunidade um desafio à ciência. E muito mais do que isso, se obtivessem êxito conseguiriam criar um medicamento para a erradicação definitiva da gripe no mundo, o que resultaria num valioso prêmio Nobel de Medicina ao Brasil. Como era um desafio científico, resolveram então convocar o trabalho de um dos principais cientistas do planeta.

Foi aí que conheci o Doutor Fernando Buarque Cristóvão Bastos, emérito e laureado pesquisador do Instituto Biológico, que contava 41 anos de idade. Gentil, de gestos suaves e fala quase sussurrada, Dr. Fernando executou questionamentos meticulosos aos meus pais e avaliou por meses todo o extenso trabalho dos colegas anteriores para, só então, traçar o planejamento do seu estudo. A partir daí solicitou uma batelada de exames e começou a sua pesquisa. No ano seguinte ele levou amostras do meu sangue ao Instituto Nacional de Saúde, nos Estados Unidos, para inclusão no Programa de Doenças Não Diagnosticadas (UDP), apesar de não tratar-se de doença e sim busca de uma cura. Utilizando tecnologia de ponta para a realização de cuidadosos exames, juntou-se ao Geneticista William Gahl, Diretor das Pesquisas do Metabolismo, Formações Genéticas e Doenças Sem Diagnóstico daquele Instituto. O fato que os deixou completamente desarticulados foi que, além das propriedades afeitas ao sangue de qualquer ser humano, detectaram uma porcentagem quase imperceptível de álcool oriundo de cerveja, o que só foi possível descobrir em equipamentos altamente sofisticados. Atônitos, vieram ao Brasil, deixaram-me em dieta controlada por seis meses, tiraram muitas amostras de sangue e voltaram aos Estados Unidos, onde até os dias de hoje procuram incansavelmente uma resposta que explique o meu sangue e a imunidade, para chegarem à conseqüente cura da gripe. Eles sabem que isso está no meu sangue misto de plasma, hemácias, leucócitos, plaquetas e cerveja. Dr. Fernando, aos 98 anos e em cadeira de rodas, e o Dr. Willian, completamente encurvado e com problemas de visão por tanto utilizar microscópios, afirmam com lucidez que jamais desistirão.

Não é fácil ser assim diferente e incompreendido, mas somos o que somos.  Nasci assim, tentei de todas as maneiras pegar uma gripe e não consegui. Espero que quando eu não estiver mais aqui, os seguidores dos pesquisadores iniciais prossigam essa nobre missão dos abnegados cientistas que mencionei, para que as futuras gerações tenham a gripe erradicada de suas vidas. Gerações mais saudáveis e onde eu não me sentiria tão isolado como no vasto e estranho mundo de agora.

Fábio Roberto
(da Fabiografia – uma biografia não autorizada pelo próprio autor –

 Parte 4- Capítulo 73)