quinta-feira, 28 de março de 2019

FUMAÇA

Foi o tempo de fumar um último cigarro,
lentamente retirado do derradeiro maço.
O isqueiro falhou, mas não o teu charme.
Eu vou me dissolvendo, feito de barro.
Eu vou me desbastando, pelo cansaço,
mas teus olhos inda estão a chamar-me.
Você traga profundamente, eu viro fumaça
misturada com o ar e o vento a dissipa.
Meus restos descansam displicentes no cinzeiro.
Meio cigarro queimando o minuto que passa
e a minha boca o teu beijo antecipa.
O beijo que me tornaria vivo e fidalgueiro.
E súbito nos toma mais que doída saudade:
teus olhos pedem pra ficar dizendo adeus
e eu não impeço esta tua decisiva tragada.
Ah... como eu queria ter o tempo da tua idade,
desde sempre e para sempre aos olhos teus.
A solidão jaz no cinzeiro, apagada...

Fábio Roberto

quinta-feira, 14 de março de 2019

ENTARDECER

Um céu incrivelmente lindo nesta cidade. 
Paira sobre pessoas que não o merecem. 
Talvez seja um lindo céu de tempestade.
Quem sabe seja o que meus olhos querem de paisagem.
Pode ser em meus olhos, apenas.
Ou orações que vejo, sinto, ouço: novenas.

Fábio Roberto

quarta-feira, 6 de março de 2019

BADEN CANÇÃO


O teu coração para antes do meu.
Eu fico aqui não. Também já me deu.

Mundo está doente, salve-nos loucura.
Toda essa gente nem poesia cura.

O teu coração penso que ele é o meu.
Calo a canção se ele não bateu.

E no dia a dia, olhos de saudade,
brindes,  melodias, sagrada amizade.

O teu coração para antes do meu.
Eu fico aqui não. Também já me deu.

Tanto faz o plano, vida é utopia.
Tempo nos abrace. Sinto a tua alegria..

O teu coração penso que ele é o meu.
Calo a canção se ele não bateu.


Fábio Roberto
22-2-19