sexta-feira, 27 de abril de 2018

DERRADEIRA CHANCE

Uma chance a mais... eu não a quero.
O que faria eu com outra chance?
Nada mais me resta, nada espero.
É impossível que alguém me alcance.
Ninguém desejo, nem vou amar.
Olhos meus sempre estarão fechados,
lágrimas secando a beira-mar
e aos horizontes desesperados.
Recuso outra chance, eu não preciso.
Cansei de cair nas madrugadas,
procurar beleza num sorriso
e beijar as bocas desalmadas.
Amar só serviu pra poesia
tornar-se pungente, melancólica,
perdida, enlouquecida, vazia.
Solitária, mas também simbólica.
Desprezo maldito sentimento,
tão bonito que ainda ressoe
em céus azuis, levado no vento.
Mas não o sabemos: por que foi
o nosso amor morrer de repente,
pra nem mesmo haver em outra vida
derradeira chance refulgente?
Restou-nos o sabor da partida.
Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas

quinta-feira, 26 de abril de 2018

ACHADOS E PERDIDOS

Perdi a habilitação, ora pois,
não é que fiquei menos hábil.
Achei minha habilitação depois,
não sei se encontrei o Fábio.
Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas


domingo, 22 de abril de 2018

ODE (ódio) AO AMOR

Poema de amor é ridículo e infame
Na verdade é assim e de mim não reclame
Amor é tragédia, o recheio do drama
É o fim, egoísmo, traição em uma trama

Amor não existe e não cabe em sorriso
É paixão, o tesão das peles sem siso
Falso, ilusório, vazio e ligeiro
Tristeza do céu. Mal jamais passageiro

É coração partido. Dois pés numa bunda
Dor grudada na alma depois de uma tunda
Saiba ser o esperto, fuja dessas armadilhas
Distancie de gente pelo menos mil milhas

Feito Lobo da Estepe de olhos espertos
Da civilização espreitando seus restos
As sobras do amor são as partes feridas
Saudade que vence e transcende as vidas

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas



sábado, 21 de abril de 2018

TELA

Só numa tela para tê-la
inteira

e numa remota vela vê-la
partir
dos meus olhos, mares.
Quando me amares,
paisagem leira
no porvir.

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas


sexta-feira, 20 de abril de 2018

PEQUENA ESTÓRIA DE UM INFINITO AMOR

Quando as nossas almas se tocaram,
os corações cansados ficaram iluminados.

Que paixão foi essa que nasceu após as tempestades,
como se as idades perdurassem além do tempo?

Feito uma saudade inexistente,
nó já desatado,
assunto resolvido,
verso do passado.

Nem o futuro assustou o passo que viria,
mas a febre não amainou a fome insaciável e voraz.

Cada instante era o primeiro e o único que tínhamos pra viver.
E vivemos felizes para sempre em nossa história:

era uma vez...


Fábio Roberto

Do Livro dos Poemas


quinta-feira, 19 de abril de 2018

PREMONIÇÃO

O dia em que eu morri foi muito louco.
Moscas borboletavam o meu cadáver murcho e florido.
Triste foi aguentar o meu desodorante vencido!


Faroberto


quarta-feira, 18 de abril de 2018

PROFESSOR

Não me sabia professor de matemática.
No máximo aprendiz da dialética.
Hoje, mais adepto da estática,
ainda apaixonado pela ética.
Uma mulher considerou-me antigo mestre,
que outrora fora muito importante.
Enganou-a este Einstein quase eqüestre,
pois dos números sou mero retirante.
Eu poderia engabelar a tal donzela.
Talvez até fingir-me engenheiro
que nunca fui. A lousa era mazela.
Perdia-me nas fórmulas inteiro.
Será que valeria intenso esforço,
pra calcular da soma o resultado?
Da expressão restou-me apenas um esboço,
feito com giz, rabiscado e apagado.
Se a incógnita do amor é uma rima,
o xis da equação é evidente
e eu concluo sem pensar aqui de prima:
sou teu por mais que a diaba tente.
Faroberto

domingo, 15 de abril de 2018

INGREDIENTES

Paixão não se alimenta de fermento,
que só serve para crescer a massa,
sem dar sabor algum ao sentimento.

E sem recheio até um grande amor passa.


Faroberto


BOM DIA

Machucado, mas alegre,
bom-humor é uma febre:
caveira sempre sorrindo.

Prossiga o mundo dormindo
quando o escuro, ainda nem findo,
o amanhecer eu celebre.



Faroberto


sábado, 14 de abril de 2018

POETAS dos POEMAS BRABOS

Restaram poucos dos poetas
brabos no octógono das linhas.
Almas quando são analfabetas
voam longe, feito andorinhas
procurando o colo de um verão.
Medo de um tenebroso inverno
que lhes prenda o verso no alçapão.
Vivem em grades do silêncio eterno.

Aves brabas sobem muito além,
nunca temem pedra de estilingue.
Brotam-lhes palavras no harém,
para que a escolhida vingue.
Forma-se na página um ringue.
Polemizadores nos seus córners.
Escrevem tanto, até que o sangue pingue
e a folha inteira um poema adorne.


Faroberto


sábado, 7 de abril de 2018

POVO VALENTE

Na minha adolescência, no meio da década de 70, vivíamos sob o jugo de uma pesada ditadura militar, com direitos suprimidos e praticamente sem liberdade de expressão, como se sabe. Nem eventuais imbecis batedores de panelas podiam bater panelas, mesmo porque os covardes se escondiam em suas tocas.
Incrível dizer isso hoje, mas o meu cabelo nos ombros, junto com a colorida bolsa de crochê a tiracolo, tamanco nos pés, jeans surrados no corpo e ideias na cabeça, causavam a repulsa dos convencionais.
E estamos vivendo uma ditadura e um retrocesso novamente. Há uma guerra civil causando a morte do povo nas ruas e uma máfia no poder, que tomou conta de todos os setores da sociedade. O golpe ainda em andamento foi diferente do daquela época. Tanto que agora boa parcela da população, mesmo sofrendo a cada dia maiores injustiças e contando com cada vez menos benefícios, nem percebeu a realidade que a cerca. Não vê que alimentou o predador que a está devorando vorazmente, como um boi pelas piranhas.
Naquela época fiz uma canção e só espero que o fim da estória seja outro:

POVO VALENTE
Olha o povo vem vindo
Olha o povo marchando
Olha o povo sorrindo
Por não poder chorar
Olha o povo cantando
Olha o povo sangrando
Olha o povo pegando
A viola pra guerrear
Cantam hinos valentes
Bem defronte aos canhões
Vê como balas calam as vozes
Que clamam paz
Mas outro, pega a viola
E outro vem pra cantar
Olha o povo cantando
Por não saber lutar
Olha o povo valente
Vem sangrando e sorrindo
Olha o povo morrendo
Por não saber matar
Fábio Roberto

sexta-feira, 6 de abril de 2018

NÃO TENHO TEMPO

Estão todos dormindo
mesmo quando despertos,
ou até mesmo fingindo
que seguem vivos e espertos.

Dizem que o tempo é implacável
e falta mais do que dinheiro.
Desculpa insustentável
na boca de loroteiro.

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas



domingo, 1 de abril de 2018

FICÇÃO

Criei o roteiro de um filme sobre a história do futebol. Nele eu abordo desde o início, quando os chineses inventaram o macarrão, a roda, o fogo, a cerveja e a bola, explicitando que a origem do jogo propriamente dito, com regras, traves e árbitro, derivou-se de danças africanas, principalmente da cultura Zulu.
Conto que o esporte difundiu-se no Brasil por conta dos homens aqui trazidos como escravos, que popularizaram o futebol juntamente com a capoeira, o candomblé, a feijoada, o samba, o carnaval e o jogo do bicho (com os animais que habitavam aquele continente).
Descrevo como Maradona dedicou o seu milésimo gol às criancinhas e Pelé livrou-se arduamente do vício das drogas. Falo a respeito de um grupo de atletas brasileiros que na década de 80 se rebelou contra as regras do sistema esportivo, realizando um movimento denominado de Democracia Palmeirense.
Não deixo de fora momentos curiosos como a invenção da bicicleta por Dario Maravilha, da folha seca por Marcelinho Carioca e do cartão vermelho por Luis Fabiano.
Demonstro que foi Afonsinho quem desenvolveu o mecanismo dos passes dos jogadores pertencerem aos clubes.
Aprofundo as explicações de que Garrincha driblava mal por ter pernas tortas e mostro que Rivelino disputava as competições oficiais vestindo a camisa do São Paulo por baixo da dos seus times.
No final revelo que Tostão é o Pai do Real e, doa a quem doer, provo que Rogério Ceni foi o melhor futebolista de todo os tempos, atuando na linha. Vou parar por aqui para não entregar todas as surpresas.
Eu agradeço se alguém puder indicar um diretor de cinema bom nessa coisa de Baseado. Baseado em Fatos Reais, claro!
Fábio Roberto