sábado, 7 de abril de 2018

POVO VALENTE

Na minha adolescência, no meio da década de 70, vivíamos sob o jugo de uma pesada ditadura militar, com direitos suprimidos e praticamente sem liberdade de expressão, como se sabe. Nem eventuais imbecis batedores de panelas podiam bater panelas, mesmo porque os covardes se escondiam em suas tocas.
Incrível dizer isso hoje, mas o meu cabelo nos ombros, junto com a colorida bolsa de crochê a tiracolo, tamanco nos pés, jeans surrados no corpo e ideias na cabeça, causavam a repulsa dos convencionais.
E estamos vivendo uma ditadura e um retrocesso novamente. Há uma guerra civil causando a morte do povo nas ruas e uma máfia no poder, que tomou conta de todos os setores da sociedade. O golpe ainda em andamento foi diferente do daquela época. Tanto que agora boa parcela da população, mesmo sofrendo a cada dia maiores injustiças e contando com cada vez menos benefícios, nem percebeu a realidade que a cerca. Não vê que alimentou o predador que a está devorando vorazmente, como um boi pelas piranhas.
Naquela época fiz uma canção e só espero que o fim da estória seja outro:

POVO VALENTE
Olha o povo vem vindo
Olha o povo marchando
Olha o povo sorrindo
Por não poder chorar
Olha o povo cantando
Olha o povo sangrando
Olha o povo pegando
A viola pra guerrear
Cantam hinos valentes
Bem defronte aos canhões
Vê como balas calam as vozes
Que clamam paz
Mas outro, pega a viola
E outro vem pra cantar
Olha o povo cantando
Por não saber lutar
Olha o povo valente
Vem sangrando e sorrindo
Olha o povo morrendo
Por não saber matar
Fábio Roberto

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