terça-feira, 31 de outubro de 2017

MAGALI

A maioria das mulheres que passaram pela minha vida virou poesia e canção, fossem Musas eternas ou de um momento.
Escrevendo a quinta parte da Fabiografia descobri que importantes amigas não haviam sido brindadas com essa tradição. Quarenta e nove anos depois me redimo desse descuido escrevendo para a primeira namorada oficial, que representará as outras meninas e mulheres que amei sem compor ou poetizar.
Da Fabiografia Parte 5
MAGALI
Maga, a feiticeira de abrir sorrisos
Amiga de pensamentos precisos
Olhos espertos, vivos e curiosos
Corpinho de movimentos teimosos
Escapando lépida da bola na queimada
Canta comigo, menina apaixonada
Brinca aventura no barracão escuro
Não importa qual foi nosso futuro
Pularemos muro, a infância, o tempo
Buscaremos na memória o sentimento
Viveremos a alegria que transborda
O relógio andou sem darmos corda
Cada um buscou a ilusão de sua paz
Quem virou a página sem olhar pra trás?
Quem será você hoje além deste poema?
A fotografia é a saudade suprema
De ser feliz, herói, ter esperança
Mas isso fica pra quem agora é criança.
Fábio Roberto

sábado, 28 de outubro de 2017

FOGO

Eu te queimo
E em te queimar eu teimo
Eu te domino e queimo inteira por dentro
Pelas pontas, pelos poros, pelo centro
O meu calor vai percorrendo teu organismo
Num ardor como se fora um eufemismo
Mesmo se do teu corpo estiver fora.
Queimo sem parar e a toda hora
Porque queimo mesmo havendo esta distância
Queimo seja qual a circunstância
Teus lábios sentem minhas labaredas
Mesmo que queimar não me concedas.
Queimo-te no sonho em que me abraças
Teus olhos brilham feitos duas brasas
Queimo até virarmos só fumaças
Estrelas fumegantes nossas casas

Se em cinzas porventura transformados
Ou se dissipados pelos ventos
Queimaremos ainda apaixonados
Queimaremos se existirem pensamentos
Os nossos sentimentos escaldados
 Sorrisos serão deles testamentos


Fábio Roberto


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

EXERCÍCIO DA GUERRA

Rajadas de metralhadoras são expelidas por consideradas bocas santas. As más línguas, com seus ditados impopulares, espalham a notícia. O Alfabeto traído, encurralado no beco escuro da ignorância, foi assassinado sem dó nem piedade. A escrita e a fala não mais existem. O analfa matador de aluguel grunhe um som ininteligível de vitória. Ao mesmo tempo, perto dali, nasce a Mímica.




Fábio Roberto

LOBO

Noite sem lua.
A luz está escondida atrás das nuvens dos olhos fechados.
Noite sem uivo.
O sentimento está oculto no íntimo do corpo cansado.
Mas, de súbito, os olhos se abrem, as nuvens se dissipam,
A lua aparece, a emoção se solta
E o coração bate forte, compassado,
Rompendo o silêncio da solidão de vasto mundo.
O uivo que seria lúgubre e melancólico,
Não ressoa no breu da vida.
O lobo estanca o grito, maravilhado
Com um sorriso arrepiante que vislumbra no infinito.
No céu da boca e no canto dos seus lábios, ele
Timidamente espasma um quase sorriso em retribuição,
Admirando o sol nascer só para haver esperança
De um dia melhor.
E assim, foge sereno e majestoso para a distância em que habita.

Fábio Roberto

terça-feira, 24 de outubro de 2017

M USA

Não posso e não vou dizer aqui o teu nome,
justamente aqui onde consigo me expressar.
Quem me sabe, sabe o tamanho da minha fome.
Conhece esta volúpia que cresce e nunca irá passar.

Sou um devorador voraz, mas sensível do tempo.
Ansiedade pra mim morreu ontem, ou antes,
atrasada perante a pressa do meu sentimento.
Renasço, sem que do cadáver minha alma se levante.

Ah, mas se poeta sou, não tinha que palavras soar.
Se minha boca fechasse, mosquito nenhum entrava.
Não existiria confusão ou algo a nossa alegria amaldiçoar.
Nem conheceria o tormento que a frase correta trava.

Não posso e não contarei aqui como tu chamas.
Só quero gritar ao mundo que te amo,
no precedente instante que me apague a chama
dos olhos, da mente, do sangue que derramo.

Não falarei, deixo musicada e escrita a minha herança
explícita, óbvia, claríssima, a ti inteiramente dedicada.
À minha musa coberta de paixão, sonho e esperança,
precisavam falar meus olhos, sons, poemas e mais nada.

Fábio Roberto


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A IMUNIDADE

Eu sempre fui considerado e sempre me senti diferente de seres humanos. Nem melhor, nem pior, apenas diferente, mesmo porque, de modéstia e humildade incomparáveis, mesmo nascido leonino, não tenho insegurança em me saber longe da mediocridade mundana. Portanto, com essa decisiva ausência de dúvida, pior que outros jamais eu seria.

Os humanos, na maior parcela de sua vasta população, são sujos, nojentos, desprovidos de sensibilidade e inteligência. Raramente são caridosos e restringem a prática da solidariedade ao acontecimento de tragédias, apenas porque pensam que pode acontecer com eles amanhã. Interesseiros, amorais e antiéticos, são os maiores destruidores do planeta, consumindo avidamente a natureza, os animais e seus semelhantes, predadores de si mesmos sem nem perceberem, devorando-se dos pés ao pescoço até a inanição absoluta.

Obviamente toda exceção tem uma regra e no caso dos humanos é algo a ser conferido, pois os que se destacam das premissas apontadas provavelmente habitam este espaço forçadamente, não são daqui, exatamente como eu.

Realizei esta digressão para situar a imunidade apontada no título do capítulo: o estranho fato de Faroberto nunca ter sido acometido de uma mísera gripe. Pergunto-me há anos como é ficar constipado, com dores por todo o corpo, cabeça pesada rodando e com desvarios pela febre alta. Espirros intermitentes, frio intenso, olhos vermelhos lacrimejantes. O pulmão saindo pela boca por causa da agressividade da tosse. Todos os mais de 298 sintomas ou resultados dos famigerados vírus já descobertos, eu nunca tive a oportunidade de sentir, provocando o menosprezo, a inveja, o preconceito das pessoas, inclusive dos amigos próximos.

E olha que eu tentei de todas as formas ser contaminado. Andei durante invernos no horário de pico em ônibus e metrôs lotados de gente doente. Perambulei nos prontos socorros de hospitais públicos de baixo nível, repletos de enfermos. Visitei amigos combalidos e prestei assistência a desconhecidos empalamados. Fiquei o mais próximo possível das amigas achacadas por meros resfriados ou por vírus influenza A, o pior e mais fatal. Colei no corpo e na alma das minhas Musas da Vida quando debilitadas por fortes gripes, fazendo amor delicadamente por dias, trocando fluídos e energias intensamente. Em vão. Nada aconteceu. Nem um simples espirro eu consegui obter, restando-me apenas a frustração e a sensação de ser um pária, proscrito até dos exilados de Capella.



A inusitada imunidade foi notada quando eu era um roliço bebê, um dia em que a minha mãe, por compromissos inadiáveis, deixou-me na creche da Antarctica, empresa onde o meu pai trabalhava. A quantidade de crianças era enorme e todas, de forma praticamente epidêmica, estavam gripadas. A minha chegada causou espanto. Primeiro pela recusa taxativa em beber leite. A mera proximidade de uma mamadeira com esse líquido asqueroso causava jatos certeiros de vômito, que se espalhavam no ambiente atingindo as enfermeiras. Segundo pela contagiante alegria e impressionante saúde. Imediatamente os médicos infectologistas do Hospital Santa Helena foram chamados pelo pediatra da creche, preocupado que eu estivesse com uma nova modalidade de vírus incubado, que talvez se manifestasse violentamente depois. Exames de todo o tipo foram realizados sem nada constatar, então fui liberado no fim da tarde, com a recomendação de observação cuidadosa e diária pela prestimosa Lourdes, mãe exemplar e enfermeira de carreira.

Quem consultar os arquivos dos jornais da época constatará a grave e preocupante pandemia que se alastrou pela cidade de São Paulo, atingindo principalmente crianças, idosos e pessoas insalubres. Assustando a todos eu permaneci alheio a qualquer problema, fama que se difundiu despertando o interesse do Dr. Luiz RotzenbergerAlfitstofen, Mestre Livre Docente da USP e Chefe da Área de Moléstias Contagiosas do Hospital das Clínicas, que se intrigou com o meu “caso” de nunca ter tido uma gripe ou resfriado, em meio à verdadeira praga que devastava a cidade e começava a se espalhar pelo país. Não conseguindo explicações após criteriosas análises, o luminar esculápio recorreu ao colega e conceituado especialista Dr. Jorge Alberto Pereira Barreto, Diretor do Hospital Emílio Ribas, de Isolamento, Referência no Tratamento de Doenças e Moléstias Contagiosas na América Latina. A junta médica não alcançou diagnóstico, tornando a solução da minha imunidade um desafio à ciência. E muito mais do que isso, se obtivessem êxito conseguiriam criar um medicamento para a erradicação definitiva da gripe no mundo, o que resultaria num valioso prêmio Nobel de Medicina ao Brasil. Como era um desafio científico, resolveram então convocar o trabalho de um dos principais cientistas do planeta.

Foi aí que conheci o Doutor Fernando Buarque Cristóvão Bastos, emérito e laureado pesquisador do Instituto Biológico, que contava 41 anos de idade. Gentil, de gestos suaves e fala quase sussurrada, Dr. Fernando executou questionamentos meticulosos aos meus pais e avaliou por meses todo o extenso trabalho dos colegas anteriores para, só então, traçar o planejamento do seu estudo. A partir daí solicitou uma batelada de exames e começou a sua pesquisa. No ano seguinte ele levou amostras do meu sangue ao Instituto Nacional de Saúde, nos Estados Unidos, para inclusão no Programa de Doenças Não Diagnosticadas (UDP), apesar de não tratar-se de doença e sim busca de uma cura. Utilizando tecnologia de ponta para a realização de cuidadosos exames, juntou-se ao Geneticista William Gahl, Diretor das Pesquisas do Metabolismo, Formações Genéticas e Doenças Sem Diagnóstico daquele Instituto. O fato que os deixou completamente desarticulados foi que, além das propriedades afeitas ao sangue de qualquer ser humano, detectaram uma porcentagem quase imperceptível de álcool oriundo de cerveja, o que só foi possível descobrir em equipamentos altamente sofisticados. Atônitos, vieram ao Brasil, deixaram-me em dieta controlada por seis meses, tiraram muitas amostras de sangue e voltaram aos Estados Unidos, onde até os dias de hoje procuram incansavelmente uma resposta que explique o meu sangue e a imunidade, para chegarem à conseqüente cura da gripe. Eles sabem que isso está no meu sangue misto de plasma, hemácias, leucócitos, plaquetas e cerveja. Dr. Fernando, aos 98 anos e em cadeira de rodas, e o Dr. Willian, completamente encurvado e com problemas de visão por tanto utilizar microscópios, afirmam com lucidez que jamais desistirão.

Não é fácil ser assim diferente e incompreendido, mas somos o que somos.  Nasci assim, tentei de todas as maneiras pegar uma gripe e não consegui. Espero que quando eu não estiver mais aqui, os seguidores dos pesquisadores iniciais prossigam essa nobre missão dos abnegados cientistas que mencionei, para que as futuras gerações tenham a gripe erradicada de suas vidas. Gerações mais saudáveis e onde eu não me sentiria tão isolado como no vasto e estranho mundo de agora.

Fábio Roberto
(da Fabiografia – uma biografia não autorizada pelo próprio autor –

 Parte 4- Capítulo 73)

sábado, 21 de outubro de 2017

CALIDOSCÓPIO (musicada em 2007)

Havia uma promessa
Arquitetando o espaço
Reescrevendo a peça
Acompanhando o passo
Eu o andei sem pressa
Redesenhando o traço
O fim que não começa
Aumenta o meu cansaço
O frio me atravessa
O nó aperta o laço
Queria sair dessa
Sentindo o seu abraço
 Reescrevendo a peça
O nó aperta o laço
 O fim que não começa
Redesenhando o traço
O frio me atravessa
Aumenta o meu cansaço
Queria sair dessa
Acompanhando o passo
Eu o andei sem pressa
Sentindo o seu abraço
Havia uma promessa
Arquitetando o espaço
Reescrevendo a peça
Acompanhando o passo
Eu o andei sem pressa
Redesenhando o traço
O fim que não começa
Aumenta o meu cansaço
O frio me atravessa
O nó aperta o laço
Queria sair dessa
Sentindo o seu abraço
Reescrevendo a peça
O nó aperta o laço
O fim que não começa
Redesenhando o traço
O frio me atravessa
Aumenta o meu cansaço
Queria sair dessa
Acompanhando o passo
Eu o andei sem pressa
Sentindo o seu abraço
Havia uma promessa...

Fábio Roberto


                            Foto tripadvisor




sexta-feira, 20 de outubro de 2017

INSPIRAÇÃO

A inspiração sempre se esconde. Faz-se de difícil.
No início é sempre recatada. Sabemos que é bela e cheia de mistérios. Ela não mostra as suas pernas, somente os tornozelos. Deixa ver parte, só partezinha de uma linda tatuagem em seu corpo.

Chega de repente, sem pedir licença. Invade e domina a cena. Toma conta inteirinha de nós, que cremos de imediato a possuirmos completamente. Em vão.

Ri muito gostoso um riso cheio de sensualidade quando ficamos desesperados, sem jeito, tímidos com um papel em branco a nossa frente. Ou com o violão emudecido encostado num canto.

Provoca-nos. E quando a gente acredita tê-la nas mãos, escapa-nos sutilmente. Aí a gente a pega forte novamente, pensando que finalmente a dominamos. Olhamos profundamente dentro de seus olhos e ela com um jeito maroto nos fala: sou tua!

Ah... isso dá uma coisa na gente. Soltamos tudo o que temos de melhor dentro de nós acreditando nessas palavras. Compomos músicas, sinfonias. Escrevemos poemas, livros. Aprendemos a dançar um verdadeiro balé. Tornamo-nos românticos, delicados, atenciosos, líricos, sensatos, calmos, compreensivos e muito mais humanos.

Trabalhamos elucubrando as nossas criações mais loucas sem parar. As nossas obras primas ficam prontas cada vez que isso acontece.

Mas esquecemos de tomar cuidado e toda vez a estória se repete. Toda vez acontece o mesmo êxtase e o mesmo sofrimento.

A inspiração é mulher.


Fábio Roberto


terça-feira, 17 de outubro de 2017

DECISÃO

A partir de agora só vou me apaixonar por mulheres que não cantam não compõe não dançam não escrevem não sapateiam não pintam não atuam não esculpem não desenham não tocam instrumentos musicais não filmam não fotografam não poetizam não façam qualquer tipo de arte.

Estarei blindado a todas as tentações. Podem ser lindas, deliciosas, inspiradoras musas. Posso ficar sozinho, deprimido, abandonado. Mesmo que eu vire um lobo da estepe miserável, faminto, drogado e alcoólatra rondando as cidades e uivando para luas imaginárias, somente vendo estrelas quando refletidas em poças d'água nas sarjetas, fugirei dessas pessoas especiais e desafiadoras.

Até se não conseguir mais escrever uma sílaba com intenção poética ou compor uma nota de me
melodia, não haverá chance de me aproximar intensa, profunda, densa e totalmente dessas mulheres que me atraem feito o cão ao dono, a boca ao copo, o vício ao viciado, a tara ao sexo, o sonho à alma.

Nem se o planeta virar deserto e só existir um lago num oásis imaginário, mergulharei nessas águas refrescantes e balsâmicas. Serei duro, resistente à erosão que esse tipo de amor faria na superfície do meu coração.

E se eu voltar atrás, o que é impossível para um cara firme como eu, esqueçam tudo que eu escrevi agora.Estarei criando uma canção pra Ela.


Fábio Roberto


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

CÉU E INFERNO – Fábio Roberto

Livro Estórias das Músicas

CÉU E INFERNO – Fábio Roberto
(canção a ser gravada)

A canção descreve uma paixão vivida em toda a sua verdade: o céu dos momentos felizes de amor eterno e o inferno da decepção e da ruptura inevitáveis. Uma modesta homenagem ao poeta Vinícius de Morais que sabiamente vaticinou ao amor:  “...que seja eterno enquanto dure.”

CÉU E INFERNO (2007)
O amor quando céu o amor busca ser.
O amor busca o seu prazer,
Viver.

Mas o amor quando não, quando nem mais talvez,
É o inferno de não ser mais,
Morrer.

E não olha pra trás, pois tem medo da dor.
Ou tem medo até de não sentir a dor
E de não esquecer
Tal amor que finito,
Durou só o tempo de ser
Tão bonito...

Fábio Roberto


sábado, 14 de outubro de 2017

DEPOIS

Perambulei pelas planícies da morte,
mas editarei este poema em brusco corte.
O início: movimento sorridente.
Longe de ser boca de um indigente.

A cena vista de cima, horizonte.
Em plano americano, pilares de ponte.
O zoom não disfarça na cara a ruga.
A câmera de olhos fechados, fuga.

A imagem vista de baixo, pernas andando.
Quando sentida por dentro, sangrando.
Imaginada na fonte do etéreo, aroma.
Vivida pela crueza do eterno, coma.

O melhor é ver a filmagem de lado.
Em qualquer sequencia, um ar desesperado.
Passear este filme por tanta imundície,
sem focalizar no fim que ali estava a planície.

A planície. A planície. A planície.


Fábio Roberto

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

COCAR – Fábio Roberto

Livro Estórias das Músicas
COCAR – Fábio Roberto
(a ser gravada)

A primeira vez que fui ao Centro Espírita do Calvário, há quase trinta anos atrás, uma médium descreveu que uma entidade se apresentou como Cacique, dirigiu-se a mim, retirou o cocar da sua cabeça e o colocou na minha.

Nos trabalhos espirituais, os que se mostram como índios visitam para resgate de sofredores os umbrais mais tenebrosos, guerreiros que são. Além disso, vigiam e protegem os centros, seja no plano espiritual ou físico. Talvez aquele Cacique fosse o meu guia. Talvez tenha me passado uma missão. Quem sabe me transmitiu uma mensagem, dizendo o guerreiro que devo ser nesta vida. Ou pode ter sido tudo isso.

Depois desse fato eu persegui o tema por anos até compor Cocar, uma homenagem ao Cacique e também a minha Casa, a Casa do Sarau, a Sagrada Oca, o Lar da Família que constituí nesta vida.

COCAR (2010)
Oca
Longe do oco o seu mundo
Soco em estomago imundo
Olhos dos deuses invoca

Oca
Sagrada toca da tribo
Da natureza o recibo
Força dos ventos convoca

Oca
Deixa essa gente coroca
Cheia de ódio e fofoca
Que em nenhum rio desemboca

Oca não teme desdém
E enfrenta quem rindo a provoca
É apenas inveja de quem
O lar fica numa biboca

O coração desta oca
Pulsa energia do sol
Guia-nos feito farol
Amor e paixão... pororoca



quarta-feira, 11 de outubro de 2017

VIVER E BRINCAR (musicada em1981)

Canção criada antes de ter filhos e netas:

VIVER E BRINCAR (musicada em1981)
Dorme criança
Dorme e sonha
E sorri pras estrelas

Dorme criança
Dorme tranquila
E acorda pra ser sol

Vive criança
Vive e brinca
De viver

Brinca criança brinca
Antes que o tempo te faça crescer
E esquecer
Brinca criança brinca
Faça o tempo pra sempre feliz

Vive criança e brinca
Branda esperança vive
Cresce esperança e vive

Dorme criança e sonha
Dorme esperança
Descansa


Fábio Roberto

Foto: Cecília e Alice em 2010

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

INSÔNIA

Uma parte lutava pra dormir,
a outra insistia em pensar.
Fazendo uma parte se coçar,
a outra adorava oprimir.
Uma parte começou a deprimir,
outra não deixou de lhe espicaçar.
Essa parte só deixou de ameaçar,
quando a outra irritada fez bramir.
E assim noite adentro a esgrimir,
uma parte viu o tempo passar.
Desejando mais um pouco troçar,
a outra ficou a se consumir.
Breu confuso lhes restava exprimir.
Não puderam ou souberam conversar.
Duas vozes: a insônia a engessar
a idéia que nasceu só pra sumir.


Fábio Roberto


sábado, 7 de outubro de 2017

CLAVE DE FÁbio

a sonoridade das minhas unhas rasga o teu corpo inteiro.
a minha boca e dentes estalam na carne do teu pescoço.
a melodia é esta, de selvagem leão, e é o que compor eu posso. 
é este meu desespero que te ofereço, linda, como fiel parceiro.
o meu coração irá parar de percutir nesta pauta partida,
pois em alguma noite eu me permitirei esta sábia decisão.
por enquanto, escute-me paixão, olhos, calor e tesão.
dentro de você eu canto o melhor canto da minha vida.
Fábio Roberto

SAL

Mas quem é esse que tanto falo em romance?
Esse não sou eu, então que eu pare antes que me canse.
Eu sou um poeta maldito que as palavras no papel vomita,
feito comida deteriorada e fria de suja marmita.

A minha poesia é para ser lambida pelos cães sem donos,
aqueles que bebem as águas apodrecidas nas sarjetas,
uivando para receber réstias de luar, como gorjetas
clamadas pelos miseráveis que habitaram tronos.

O que escrevo é uma ferida purulenta que nunca cicatriza.
É um sentimento que invade. Não se doma. Não se exorciza.
Corrói por ser lava que desce fumegante a encosta,
queimando a alma numa dor tão forte e poderosa que se gosta.

Estas são as declarações de amor deste visionário insano.
O sabor da minha boca pode ser amargo, estranho, obsceno.
Nunca será doce, tampouco suave. Eu não existo ameno.
Sou o tempero mergulhado sob as ondas do oceano.

Fábio Roberto


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

SOM DA NOITE ESCURA

Noite escura acendo os meus faróis.
Não encontro estrelas, luas ou heróis.
Sem poesia resta este silêncio estranho.
Mundo esvaziado, lúgubre, tacanho.
Noite escura apago os meus faróis.
Universos regem os ritmos dos sóis.
Vaga-lumes mortos ainda brilham.
Já não voam e as naturezas maravilham.
Noite escura e nem a morte dói.
Uma melodia invade e corrói.
Nunca mais a esqueço, som de violoncelo.
Era fim da noite, um solo denso e belo.

(imagem: depositphoto)

POESIA SOBRE O FEDOR DO MUNDO

O mundo é uma merda!
Sim, ele é. Não discuta
Madrasta a vida te herda
Mergulha-te em insana labuta
A paisagem aos teus olhos é lerda
Parece que só solidão te escuta

O mundo é um zero à esquerda
Uma ausência, um vazio, uma perda
Uma fome tamanha e injusta
Uma realidade que assusta
Um frio que atravessa as cerdas
O amargo sabor que degustas

Sendo merda o que o mundo te é
Certamente já sujaste teu pé
Mas seja Santo, Maria ou José
Acredite, acredite em tua fé
Pra exalar em tão podres narizes
Um perfume que inebrie as crises

Um perfume superior ao fedor
Dessa merda, da tristeza e da dor


Fábio Roberto
foto Daniel Souza Lima

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

SINGELO POEMINHA DE QUINTA FEIRA

Meus dois olhos espelhados,
Um fecha às vezes, sorrateiro. 
É o olho de um afogado:
Vê o mundo belo, mas traiçoeiro.

O outro olho, sempre aberto,
Só te admira, enxerga mais nada.
Não importa o mundo vasto e incerto,
Se eu puder olhar só a minha amada.


Fábio Roberto

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O TEMPO DE UM SORRISO


E justo quando a conjunção de todos os astros houve em noite bendita,
a minha alma de poeta estava distante, covarde, melancólica e aflita.
A palidez da pele era de cadáver, o espelho mostrava uma face espectro.
Mas se eu fosse tanta coisa ruim assim, eu mesmo me diria: - vai de retro...
Olhando bem no fundo da retina, eu sabia que ainda me existia.
Ousei um desafio aos deuses. Sem resposta, alucinado eu insistia
até que as musas não me trouxeram palavras, me apresentaram a vida
de poeta na essência da poesia, de paixão eterna, mas em momentos combalida.
Descansei nos braços de uma melodia viva, ritmada, indomável, instigante.
Uma rima absurda, irreal, num verso nunca menos que per-verso e delirante.
Escrevi uma pauta sem compassos compostos, só para experimentar a normalidade.
Respirando com faro dodecafônico, só me restou o aroma agressivo da saudade.
Caminho de poeta traz alegria poderosa e deslumbrante, contagia, mas é fugaz.
Onde todos perceberão a guerra das vozes, ele ouvirá o silêncio austero da paz.
Não há como ele dividir, não pode, não deve compartilhar com o amor sua agonia.
Uma existência tão profícua, só dura luz e calor do sol que nasce e morre todo dia.
Fábio Roberto