sexta-feira, 29 de junho de 2018

HEIN?

Faço poemas pra Musas
-Sacana!
Chamo uma puta de puta
-Canalha!
Digo-me maldito errante
-Psicopata!
Tinjo-me de suavidade
-É gay!
Cortejo quem me atrai
-É casada!
Desdenho quem me enoja
-Vai lá!
Agrido quem merece
-Violento!
Revelo as verdades
-Tarado!
Vomito a sociedade
-Hipócrita!
Isolo-me nas festas
-Estranho!
Sorrio pra desgraça
-Interna!
Choro a beleza
-Piegas!
Acendo uma paixão
-De novo?
Esqueço uma paixão
-De novo?
Tranco o coração
-Que é isso?
Faço uma canção
-Trabalha!
Brindo por viver
-É bêbado!
Distraio-me sonhando
-Drogado!
Desejo só morrer
-Suicida!
Eu olho para frente
-É surdo!

Fábio Roberto
Do livro dos poemas

terça-feira, 26 de junho de 2018

RETICÊNCIAS

Qual é você?
Quem é o seu tempo?
Quando o seu sorriso é maior que felicidade?
Por que eu não te sinto abraço?
Paro de perguntar.
Todas as respostas são uma só:
o talvez que as reticências do teu rosto expressam sem deixar dúvidas!

Fábio Roberto
Do livro dos Poemas

terça-feira, 19 de junho de 2018

VÉIA CÔMICA

Achou-se derramado na sarjeta
O bom humor de algum pobre gaiato
Quem encontrou nem quer ganhar gorjeta
Só quer felicidade sem hiato
Terá sido a alegria posta fora?
Terá sido perdida numa farra?
Será que foi por causa da demora
De alguém em se livrar de dura barra?
Se bocas orgulhosas mostram os dentes
E os risos se transformam em gargalhadas
Serão as faces sérias de doentes
Sem espírito, de vidas empalhadas?
A graça é esquecida em abandono
Por gente que acredita em um ditado:
"Do próprio cu o bêbado não é dono"
Não pode nem beber esse coitado
Mas quem sabe até seja apenas
A diversão atravessada na goela
Brincadeira não o salva, nem novenas
Não ri por sua alma estar banguela

Fábio Roberto
Do livro dos Poemas

domingo, 17 de junho de 2018

O MOTOR

Movimenta-se lento o êmbolo
Visão turva, a imagem embola
Pele carcomida que se esfola
Fraco, cansado, trêmulo
O sangue entope a máquina
Resultando em um coágulo
Paralisando o veículo
Prostrado sobre uma isnáquia
Deslizar é passado
Foram-se cilindros e anéis
Desligaram-se painéis
Nada a ser lubrificado
Não pode ser ressuscitado
Que rezem por ele os fiéis

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas

sábado, 16 de junho de 2018

VOZES

Voluntário ou não o poema surge na cabeça.
Não há porque temê-lo,
Só faço escrevê-lo,
Como se fosse do teatro uma peça,
E musicá-lo.
Dentro de mim há intensa vida,
E o sentimento não calo,
Seja chegada, seja partida,
Seja pra amada, seja ferida...

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas


terça-feira, 12 de junho de 2018

PELO CONTRÁRIO

Se você é contra o sistema, contra tudo, contra todos, contra isto, contra aquilo ou muito pelo contrário, eu apelo que a partir de amanhã não corte cabelo, barba, bigode, pelo de nariz ou ouvido e não depile pernas, axilas ou partes íntimas. Como todos os protestos, este também não vai mudar nada no mundo, mas pelo menos ninguém precisará procurar pelo em ovo.


Faroberto


segunda-feira, 11 de junho de 2018

AMOR À PRIMEIRA VISTA

Resolvi encontrá-la amanhã. A minha namorada, uma mulher especial. E eu vou me apaixonar por ela instantaneamente. Em minutos escreverei três livros de poemas a ela dedicados. E serão compostas por mim, em menos de meia hora, uma centena de músicas inspiradas por essa Musa.
Ela, com seu jeito ora tímido ora maroto, conquistará meu coração com tanta força que a pedirei em casamento amanhã mesmo. Com um sorriso resplandecente, amanhã ela dirá sim. Amanhã nos enlaçaremos e vamos nos amar tão intensamente que geraremos nossos filhos, que ainda amanhã crescerão belos e saudáveis.
Nós seremos eternamente companheiros amanhã. Envelheceremos juntos vivendo esse dia de forma violentamente verdadeira. O tempo não terá para nós nenhum sentido. Não nos fará falta, nem nos sobrará. Só nos importará o dia de amanhã. Não anos atrás, que nem existiram. Não ontem, quando não existimos realmente porque nosso amor não existia.
Renasceremos amanhã com o nosso amor. Sem pressa. Sem passado. Sem futuro. Um amanhã que nunca acabará e deixará o depois de amanhã sem ter o que fazer, estático, num perpétuo aguardar sem nem poder admirar o nosso amor que nunca terá acontecido ontem. Por ter nascido e vivido dessa forma impossível, invejada, platônica, onírica, romântica, perfeita, loucamente apaixonada, utópica, lírica, mágica, totalmente e somente amanhã.

Fábio Roberto
Do Livro dos Textos

domingo, 10 de junho de 2018

SERVIÇOS PÚBLICOS OU PRIVADOS

O que se fala da qualidade dos serviços públicos é impublicável.
Podemos exemplificar a qualidade dos serviços privados dizendo que está igual aquilo que se encontra nas privadas.
Com a iluminação pública só dá pra ver claramente a péssima iluminação pública.
Opções de velocidade de internet: planos lesma, tartaruga, bicho-preguiça ou barrichello.
O saneamento básico está cheirando mal.
A coleta seletiva está um lixo.
Ninguém coloca a mão no fogo pela qualidade da água.
A telefonia celular é perfeita. Para surdo-mudo.
Ônibus ou metrô no horário do pico é o fim da picada!
O sistema de saúde está em estado terminal.
Até o caixa do banco chamar a sua senha os juros, o dólar e a inflação aumentarão 12%. Mas a economia continuará bem. A economia dos bancos.
É totalmente inseguro até comentar sobre segurança pública.
É injusto dizer que todo político rouba. Existem também os que furtam
e os que assaltam!
O nível da educação? Educação é o c......!

Faroberto

terça-feira, 5 de junho de 2018

LÓGICA

Quem me diz um cara agoniado?
Falam-me insano, melancólico?
É meu pensamento claro e estoico, 
marginal, estranho e desviado.
Fora de controle e equilíbrio.
Longe de conduta elogiada.
De reputação pouco ilibada.
Átomos na mente de um ébrio.
Esta consciência incandescente,
confunde fusa, mínima, colcheia.
Semibreve eu faço o impensável.
Viver o sonho eterno, de repente
palpável, comestível e potável.
Pacto do sangue com a veia.

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas


domingo, 3 de junho de 2018

PONTO DA SURPRESA

estou cansado mas não consigo e não quero parar então continuo e vou indo sem pausa sem reabastecer as energias sem acomodar o corpo sem fechar o olhos sem esticar os ossos numa cama ou chão e com os meus músculos rígidos sem relaxar sigo adiante sem interrupção sem repouso pois não há intervalo para afrouxar os passos ou motivo para diminuir o ímpeto de ir em frente e assim vou sem suspender o ritmo das pernas que andam nesse compasso rápido sem se deterem por nada com a mesma intensidade sem decrescerem a velocidade sem sustarem o movimento sem cessarem a ação portanto eu nem olho para trás para não perder um segundo sequer de espaço futuro caminhando assim sempre ao além do possível além das forças além da vida além do sonho para chegar ao ponto de descanso e com a vontade de ultrapassar todos os limites prosseguir para mim não existe ponto final vírgula ou reticências e só vou parar numa exclamação de alegria ou dor

Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas