domingo, 3 de janeiro de 2021

CENA

Não fiz a tradicional música do primeiro dia do ano,
Poema algum eu escrevi
E na verdade não me surgiram pensamentos ou saudades.
Há uma longa falta de tempo pela frente,
Tudo acaba ficando na vontade e só respirar é necessário.
Há uma longa falta pela frente,
Dessa vontade ou perícia, oportunidade perdida,
Desejo que se suicida feito o de um kamikaze
Que entrou de gaiato nesta estória
Deslocada de senso ou sensibilidade.
Há um longo vazio pela frente,
Mas que será preenchido cedo ou tarde ou noite ou madrugada,
Antes que eu durma ou no momento em que eu acorde dissonante
E saia andando como sempre, sem eira nem beira,
Até que o combustível do corpo evapore.
Porque este coração não tem estepe e os meus passos são cada vez mais...
Curtos, grisalhos, cansados como fim de outono,
Quando a vitalidade se esgotou e caíram todas as folhas, em branco,
E nem mesmo uma última tragada pra minimizar o drama num cigarro é possível,
Pois parei de fumar. Isso deixaria a cena melancólica, mas bonita.
Fábio Roberto