sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

SÉRIE TEXTOS

O ANO NOVO


O Ano Novo resolveu não nascer. De soslaio perscrutou o ambiente e resolveu continuar no casulo. Não gostou de nada do que viu. Pensou, que adianta chegar e tudo ser igual ou pior? Para que novamente tantas falsas promessas ou esperanças que seriam frustradas? Que ficasse tudo como estava, o Ano Velho se perpetuando coberto de insensatez, injustiças e maldades. Quem sabe a realidade se tornando tão cruelmente perene, pudesse em algum momento a vida sorver com a língua suas lágrimas.

E assim, decidido e irredutível, o Ano Novo fechou os olhos e adormeceu na manhã do último dia do Ano Velho. Este, ancião em frangalhos e com a alma carcomida pela dor, desesperou-se e gritou implorando descanso aos céus. Os Senhores do Tempo, subitamente surpreendidos pela inusitada ação do Ano Novo, convocaram uma reunião com todos os Anos Antigos, que estavam muito mais antigos, pois desde que o mundo se tornara mundo um se somava ao outro sem recesso, portanto o ano I era o Pai de Todos. O Pai de Todos os anos falou aos Senhores do Tempo que aquilo era inadmissível, um absurdo, uma afronta. Como aquele rebento que nem saíra ainda das entranhas da mãe eternidade se rebelava contra a lógica da existência? Exigiu uma providência enérgica falando em nome de todos os Anos Antigos e principalmente pelo Ano Velho atual, que tremia em espasmos desesperados, numa espécie de Parkinson aflorado pelo medo. Mas o que os Senhores do Tempo poderiam fazer? Não havia como obrigar o Ano Novo acordar se ele não quisesse. A situação foi piorando e ficando catastrófica, pois no planeta os preparativos para as festas da virada do ano prosseguiam despreocupadamente, até que o Ano Velho avisou que exatamente à meia-noite também adormeceria para o horizonte.

E assim aconteceu. Sob os olhos estupefatos dos Senhores do Tempo e defronte aos boquiabertos Anos Antigos, o Ano Velho deitou-se em nuvens ao lado do Ano Novo, apagando-se rapidamente. Silenciosos e num sono profundo, ambos passaram a sonhar o mesmo sonho: um tempo que merecesse ter continuidade. Ninguém ainda percebeu que desde aquele dia o ano não muda, não vai pra frente nem retorna. E os dois ainda estão lá, sonhando. Quem sabe desta vez, quem sabe desta vez o Ano Novo acorde...

(fábio roberto- dez2009)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

SÉRIE MÚSICAS


IMAGINAR

Última noite que canto
Onde muito me ouviu
Onde sereno ou intranqüilo
Aprender aprendi

Sonoridade a verdade da minha emoção
Silenciosas paredes, olhares, ações

Se as paredes têm ouvidos
Souberam escutar
Mudas, pois assim quiseram,
Saberão calar

E os sons que nós fizemos
Por elas vão estar
Por tudo o que pudemos viver,
Imaginar,
Dizer,
Imaginar,
Morrer,
Imaginar,

Cantar.


Fábio Roberto
(Musicado por Titi Trujillo em 1985)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

SÉRIE POEMAS

MIRAGEM

O tempo não foi complacente hoje
Nem pretendia. Nunca o será.

O tempo, sem pressa e rápido, me foge.

Descortinará
As pálpebras.

Álgebra
Somando o vazio
Com o psiu
Solitário na madrugada.

Lua estatelada
No céu
Escuro.

Véu
Que cobre o muro
Onde meu carro, imaginando não mais ser matéria,
Encontrará o impacto da realidade crua.

Pior teria sido cortar a artéria
Nua
Do pensamento, antes que a hora passasse
Sem que minha alma se costurasse
À tua.

A rua
Bebe insaciável o meu vinho
E me engole toda dor.

Vinho, derramado vinho. Adivinho
Qual a dor.

Sorrio ao tempo e lhe digo:
Tu e eu somos eternos,
Caro amigo.

O tempo me abraça forte e terno
E desaparecemos dos nossos olhos feito miragem.
Fumaça, névoa, neblina que o vento dispersou na paisagem.

Fábio Roberto

domingo, 30 de outubro de 2011

SÉRIE POEMAS

LÁGRI-MAR

QUERIA SER O MAR
SEMPRE LÁ E SEMPRE EM OUTRO LUGAR
ÁGUAS SEMPRE RENOVADAS IRRIGANDO A TERRA
ÁGUAS QUE REFRESCAM CARINHOSAMENTE CORPOS A SALGAR
OU
QUE DESTROEM VIOLENTAMENTE A CIDADE QUE INDEFESA BERRA

QUERIA SER O MAR
SEMPRE LÁ E SEMPRE EM OUTRO LUGAR
MAS SOU FOGO DE QUEIMAR QUIMERAS
OU
LABAREDA DE ACENDER AS FERAS
SOU FOGO DE AGUARDENTE , UM JOGO A  SE JOGAR

QUANDO CANSADO, O FOGO REFLETIDO EM MEUS FARÓIS
 VER-SE-Á DEITANDO COM O LUAR PELOS QUINTAIS
CANTAREI SUSSURANDO, A ÚLTIMA CHAMA, LIVRE DOS ANZÓIS:
“BEIRA-MAR É UM BOM LUGAR, OLHOS VÃO NÃO VOLTAM MAIS...”

TEREI SIDO FOGO E FINALMENTE... MAR.


Fábio Roberto

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SÉRIE SEI LÁ

Kardecista de Araque

Sou um kardecista no coração, um ateu na cabeça e um homem-bomba nas atitudes. Porque eu tenho uma mediunidade insuportável. Não posso olhar profundamente o olhar das pessoas, nem de um cão-pessoa. Maldito este dom. Um Inferno este poder. Eu coloco os óculos escuros de manhã, de tarde, de noite, de madrugada e não adianta. Eu vejo. Passado e presente. Acordado, dormindo ou sonhando, se eu olhar eu vejo. Isso basta para vislumbrar o daqui a pouco. Mesmo que um dia eu me torne cego eu já vi, eu vi os olhares, eu entrei dentro deles, eu senti cada riso, desespero, esperança, temor. Eu guardarei em mim, eu vi, eu vejo e não queria saber o que sente cada alma. Eu acabo escrevendo, compondo, descrevendo, vendo...

Olhei, sem desviar, os olhos de um cego e eles, com luz e ao mesmo tempo apagados, eram farol procurando o horizonte e eram farol guiando a escuridão. Que agonia olhar os olhos desse cego.

Olhei os meus olhos no espelho agora.  Rapidamente. Não tive coragem de olhar por mais de alguns segundos. Só os percebi marejarem ondas de alegria. Que medo. Que medo de olhar profundamente nos olhos de alguém. Até de olhar os meus olhos eu tenho medo. Kardecista de Araque!

Fábio Roberto (de olhos fechados)

sábado, 1 de outubro de 2011

SÉRIE TARDES

TARDE NO CEMITÉRIO

Para um coveiro os mortos são os ossos do ofício.

Claro que a tv do coveiro tem fantasmas.

Um coveiro realmente tem que ter presença de espírito.

Para o dono do cemitério um cadáver no caixão vale mais do que dois no necrotério.

Vegetariano pode virar presunto?

Para o defunto tudo são flores.

Existe atitude mais extremista do que dar a extrema unção?

Brancos, negros ou amarelos quando morrem viram cinzas.

Morrer deve sem bom, porque as caveiras nunca deixam de sorrir.

Sempre tem um vivo de olho em uma viúva rica.

Pode fofocar agora porque um dia sua boca será um túmulo.

Nesta sociedade o homem só deixa de ser um cpf quando passa a ser uma lápide.

Epitáfio de viciado: do pó ao pó.

Epitáfio de convencido: meus pêsames para todos vocês.

Epitáfio de indigente: terra à vista!

Os vermes não tem preconceito: não fazem distinção de raça, credo, posição social ou beleza; E a humanidade não consegue...

Para a mulher viuvez é o contrário de gravidez: dói quando o parceiro morre, mas nove meses depois volta com tudo a ativa.

Ironia mesmo é um bombeiro ser cremado.

Ser dono de funerária. Isso é que é apostar no futuro

Quem conta piada em velório acha que existe tumor benigno.

O ateu revirou na tumba quando rezaram uma missa de sétimo dia para ele...

Toda música ruim e de mau gosto é fúnebre.

Fábio Roberto

SÉRIE MÚSICAS

TEATRO


Passando pela vida,
pela curva de qualquer esquina perdida,
o horizonte não se enquadra nos olhos.

Tudo é nuvem espessa, longo caminho.
E todo dia a cortina se levanta.
A história se faz linda, violenta.
O destino improvisa o momento,
deslocado no tempo e no espaço sombrio.
Dramas e comédias de um roteiro
que ninguém escreveu.

Passando por aí,
pela curva de qualquer esquina perdida,
a vida não se enquadra nos olhos
de quem a vê.



              Fábio Roberto (musicado em 1991)

domingo, 25 de setembro de 2011

SÉRIE TEXTOS

ÓCULOS ESCUROS


Vim com somente meus dois olhos claros cor de mel e alguma fotofobia para a claridade mundana deste planeta.
Hoje eu os tenho junto com apenas meus tênis furados, de quem tanto gosto.
Assim como amei todos os anteriores, que foram se desgastando aos poucos por tanto uso. A gente não consegue viver sem nossos tênis companheiros e insiste, insiste em tê-los até quando furam, rasgam, se desintegram...
Então a gente sofre mas os abandona e adquire novos tênis que ficarão velhos também.

Será que amar é assim?
Feito um par de tênis que se ajusta aos nossos pés e depois se desintegra?

O amor vai se moldando ao nosso corpo inteiro, invade, domina, toma tudo.
Fica gostoso, aconchegante, perfeito. Torna-se uma extensão de nós, nos completa.
Não se imagina a vida sem ele. Ele passa do sangue para a alma.
Passamos a ser um só. Corpo, pés, alma, sorriso, lágrimas. Amar é compartilhar tudo.
Tal qual com o nosso velho par de tênis, não damos mais um passo sem ele.
Até que o amor nos enxerga como a um sapato velho e rasgado e nos deixa num canto sem pés, sem amor, vazios.

Será que a vida é assim?
Feito um par de tênis e o amor que se moldam a nós e depois se desintegram?

Nosso corpo vai se adaptando a cada fase do tempo, enquanto desenvolvemos o intelecto, a sensibilidade e todas as variáveis que compõe um ser humano. Aprendemos a valorizar cada respirar e nossas conquistas, até os tênis e os amores. Crescemos com nossas famílias, realizamos sonhos e continuamos desejando realizar todos os sonhos impossíveis. Até que o esqueleto reclama a sua idade. Mas como não se troca esqueletos, a alma busca novos ossos, pois que os velhos se desintegraram.

Vim com meus olhos cor de mel e tudo foi ficando mais claro, a ponto da minha fotofobia se tornar tão intensa que os olhos do meu coração estão se fechando.
Nunca mais vou usar tênis.
Nem vou amar novamente.
Tampouco terei outra vida.
Não há mais óculos que escureçam tudo o que vejo, sei e sinto claramente.

Fábio Roberto

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SÉRIE POEMAS

ADVERSOS

Escreve numa porta de banheiro
O poeta, versos pra sua amada
Sim, pois o poeta é por inteiro
Mesmo com seu riso na privada

Escreve o poeta em cemitério
Versos tão festivos pra sua amada
Ele não teria o rosto sério
Mesmo se a paixão fosse enterrada

Escreve o poeta em uma cova
Sim, são versos pra sua amada
Cabelos do esqueleto ele escova
Feliz, mesmo já sendo alma penada

Escreve pra sua amada até no inferno
Versos com a palavra amaldiçoada
Pra alguns soa romântico e pós-moderno
Mas os nenhuns recebem como bofetada

Segue o poeta rindo ao paraíso
Vendo o amor em face bela e iluminada
Tantos versos feitos de improviso
Só importavam mesmo a sua amada!

Fábio Roberto

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

SÉRIE POEMAS

CELEIRO
Pouco de mim resta-me inteiro.
Colo-me aos pedaços de minhas sobras.
Sem gabaritos, linhas, elos, dobras,
reconstruo-me com esmero de engenheiro.

Em cada parte no revés do chão jazia,
mas fui-me recolhendo da poeira.
Faxinei-me até toda a sujeira
da frustração, sobrar-se íntima e vazia.

Nada mais existo além de vida.
Meus olhos os que fitam-me primeiro,
diamantes garimpados na jazida,

aprovam-me no espelho do meu rosto.
Minh’alma recupera-me em seu posto.
Retorno-me discreto ao meu celeiro.

                       Fábio Roberto

terça-feira, 20 de setembro de 2011

SÉRIE POEMAS

MIJO E PAIXÃO

Houve o tempo de belo regozijo
Quando então aproveitamos o ensejo
De executarmos um humilde mijo
Reconfortante, denso e benfazejo

Ah, o mijo quente que nos abandona
Deixando o frio veículo em mãos
Um pênis murcho que perdeu a dona
Do liquido filtrado pelos rins irmãos

Mas existe festa onde houver bexiga
Aliviada de excretos eliminados
Tal qual uma criança com lombriga

De estômago e olhos saciados
Privada ungida pela urina amiga
Descarga de uréteres apaixonados

                    Fábio Roberto

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SÉRIE MÚSICAS


METADE


SE NÃO POSSO ESTAR NUM LUGAR,
PELA MÚSICA EU ESTOU LÁ
PELA VONTADE DE ESTAR,
PELA SAUDADE.

SE NÃO POSSO FICAR NO LUGAR
PELA MÚSICA EU FICO LÁ.
PELA REALIDADE DE ESTAR
PELA METADE.

 Fábio Roberto
   (Musicado em 1981)

                                 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SÉRIE POEMAS


C asa


e eu pensando em nós dois numa casa

e eu pensando em nós dois

numa casa

pensando

nós dois

casa

nós



2                                                        asas



nós

casa

nós dois

pensando

numa casa

e nós pensando em nós dois

e nós pensando em nós dois numa casa

                                                 Fábio Roberto

sábado, 16 de julho de 2011

SÉRIE POEMAS

AMAR

Eu penso que amar é para fracos
que se despedaçam em cacos.
Gente que precisa de muleta
pro coração
não ficar jogado na sarjeta
da emoção.
Gente que se vê sem par
e logo corre pro bar
para afogar mágoas,
onde garrafas viram táboas
de náufragos num mar
de solidão.
Abandonam até o lar
na imensidão
de uma tristeza tão dolorida,
maior do que cabe na vida.

É por isso que sou forte
e não amo. Amor é morte.
Vou ao bar beber sem agonia.
Não importa se estou só,
pois mais dia menos dia
todos viraremos pó.
Resistirei, então, eterna e bravamente
a este sentimento
vagabundo, podre e insolente
que me ataca neste momento,
tirando dos meu olhos a cor:

a vontade de amar-te desesperadamente,
como se condenado fosse ao amor.
O que me mataria certamente,
como um inseto mata uma flor.

Devorando-a inteira e lentamente.

Fábio Roberto

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SÉRIE MÚSICAS

CÉU E INFERNO

O amor quando céu o amor busca ser.
O amor busca o seu prazer,
Viver.

Mas o amor, quando não, quando nem mais talvez,
É o inferno de não ser mais,
Morrer.

E não olha pra trás, pois tem medo da dor.
Ou tem medo até de não sentir a dor
E de não esquecer
Tal amor que, finito,
Durou só o tempo de ser
Tão bonito...
  
   Fábio Roberto
(musicado em 2007)

terça-feira, 5 de julho de 2011

SÉRIE POEMAS

OLHA MARILI

Olha menina, eu bem te queria
Fazer  uma presa da fotografia
Paisagem rebelde, se esconde,  se mexe,
Fugindo da cena,  das luzes do flash

Mas  não te entendo,  inteira beleza
Refletes no espelho, a  vida em pureza
Saiba menina,  o sonho te espera
Para a primavera vestir teu olhar

Meiga e selvagem, humilde e ousada
Pulsando energia sã, delicada
Arde menina, eu te vejo nua
Como fosses lua beijando a maré

Não tens moldura, retrato fugindo
Deixando alegria, brilhando, se abrindo
E vais declamando poemas assim
Como fosses rio que nunca tem fim

Sobrevoando palavras, menina,
O tempo é um dia que não terminou
Foge menina, teu sonho te espera
Não há uma quimera onde se perder

Anda Menina, pois eu só teria
A minha poesia pra te oferecer
Corra Menina, da minha agonia
Da fotografia que quer te prender...

Fábio Roberto - para Marili Gabriel

SÉRIE TEXTOS

CARTA DE DESPEDIDA

Decidi virar um ermitão. Amanhã irei embora para longe, sem passado. Não tenho grana para deixar. Rasguei todos os meu documentos, cartões de todos os tipos. O violão também fica. Que o pegue quem quiser. As minhas pastas de músicas, os cadernos de poesias, contos e palavras soltas ficarão na gaveta, junto com cds, fotos, filmes e todas as lembranças de quem não sou mais. Os computadores e seus arquivos não me sobram importância. Os bancos que busquem os carros, pois para onde vou só chego com meus pés. Estou muito aliviado em me transformar finalmente num ser arredio e solitário. Prefiro estar a margem desta sociedade cansativa e rotineira. Que bom deixar o cabelo crescer até os ombros, nunca mais colocar um sapato. Não precisar falar bom dia, boa noite, boa tarde, como vai, e aí, tudo bem, quanto tempo, te amo, te quebro, que raiva, que alegria, que merda, que delicia, me liga, quanto custa, quanto falta, que horas são... Que maravilhoso será o silêncio da minha mente ausente de sonhos, desejos, vontades, frustrações, arrependimentos, orgulhos, realizações. Mais nenhuma oração será preciso, darei descanso eterno a Deus. Uma existência sem celular, tv, rádio, notícias, emails, pessoas, bondade ou maldade. A minha boca não sentirá mais os sabores amargos das bebidas que fizeram tão mais doce a realidade que terminou. Deixarei livre todas as pessoas que amo, porque amar de verdade talvez seja assim. Amar e partir. Amanhã, quando subirem as cortinas dos meus olhos, seguirei esse destino derradeiro. Será impossível me seguir porque estarei escalando uma montanha que só eu vejo. E lá na minha caverna, bem no topo, admirando o horizonte do mundo a luz de uma fogueira aconchegante e sentindo o abraço da escura noite, aquela maldita e única lágrima secará em meu rosto. Vou fechar os olhos respirando o cheiro de mato trazido pelo vento e sorrir. Vou voltar a sorrir por estar novamente tão perto e tão longe da vida.

Fábio Roberto

segunda-feira, 4 de julho de 2011

SÉRIE TEXTOS

VIDA

Era uma vez um poeta. Por ser poeta era um sonhador. Por ser sonhador, dele a vida escarnecia, abusava, chegava a judiar. Nem era um tão brilhante poeta, mas vivia tão como poeta que rimava seus passos. Via imagens em preto em branco e as descrevia coloridas, porque as coloridas ficavam lindas romanceadas em preto e branco. Sonorizava batidas de coração com melodias ora suaves ora agressivas. Quando abria os olhos podia ser visto até a primeira geração de suas existências pregressas. Ninguém entendia, nem ele, a confusão de tantas certezas e a resposta habitava em sua alma e nas cicatrizes do seu corpo. Transparente e etéreo que era, o amor o atravessava. Não conseguia reter o amor. Procurava o amor como o olfato ao aroma, ou carbono e água a luz. Mas o resultado da sua fotossíntese era sempre solidão. Assumindo a marginalidade da sua poesia maldita, desistiu de amar. Entretanto, insistentemente continuou a preencher linhas e linhas, palavrando de sentimentos e emoções os passageiros personagens do seu filme. Um dia esse poeta incansável cansou de ser poeta, despertou de todos os sonhos, acendeu a realidade, embaralhou suas rimas, silenciou o coração e desconfundiu-se apagando todas as linhas preenchidas, relendo apenas as cicatrizes d’alma e corpo. Finalmente a luz transformara carbono e água em oxigênio e o olfato encontrara o aroma desse último alento. O poeta sorriu antes do apagar derradeiro de olhos, porque a vida não teria mais a quem desamar e ninguém, absolutamente ninguém havia amado a vida assim intensa, profunda, verdadeira e poeticamente como ele.

Fábio Roberto

domingo, 26 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

SÉRIE POEMAS

Rotina na Retina

A rotina não persegue a minha retina.
Faça o que eu faça igual todo dia, noite ou madrugada.

Quero a mesma mulher que amo.
O mesmo abraço dessa mulher é cada dia melhor.
Por ser mais forte é sempre diferente.
A paixão é cada vez mais e muito além quanto eu mergulho.

Quero sempre o mesmo bar que desesperadamente bebo.
Quero nele o mesmo copo, mesa, garçom, lugar.
Nada ali se repete em minha mente
A paisagem sempre muda frente aos meus olhos.

Quero os mesmos amigos de sempre,
de mesmo velhos papos que já escutei,
porque os ouço como se fora a primeira vez.
E os papo que ainda não soube serão impressionantes, já sei.

Quero o meu mesmo trabalho seja ele qual seja
e em qual momento e em qual escritório.
A mesma cadeira, o mesmo telefone e batalha.
O mesmo computador de teclado apagado digitando novas conquistas.

Quero o mesmo violão que toco há 40 anos, só trocando cordas.
Quero as minhas mesmas palavras, que as embaralho de outra forma.
Quero as minhas mesmas notas e melodias, que faço outro som.
Eu tenho tanto ainda para criar do mesmo sentimento...

Quero a mesma família em todas as vidas.
O mesmo pai, a mesma mãe, a deles sabedoria.
O mesmo filho, a mesma filha, o mesmo deles orgulho.
A mesma esposa, a mesma estória, começo e fim sempre inesperados.

Mesmo semelhantemente o meu cotidiano é sempre diferente.
Semelhante mente, a minha está repleta de aventuras.
A minha retina está muito louca pra enxergar uma rotina,
pra ter um pouco de paz e um sono pouco, só um pouco tranquilo.

Mas a rotina não persegue a minha retina
Faça o que eu faça igual todo dia, noite ou madrugada...

Fábio Roberto

quarta-feira, 23 de março de 2011

SÉRIE MÚSICAS

A REALIDADE


SOU UM HOMEM , SOU NADA
TEMPORAL QUE DESTRÓI
ORVALHO DA MADRUGADA

SOU PRISÃO E PÁSSARO QUE VOA
CONSCIENTE DO FUTURO
PASSEANDO À TOA

SOU VENTO E O TEMPO PARADO
A PALAVRA QUE CORTA
SILÊNCIO ABENÇOADO

O PARAÍSO, A PORTA DO INFERNO
SEMENTE NA TERRA
A PAZ QUE SOBROU DA GUERRA

ESPERANÇA E TUMULTO
DESESPERO DA CRIANÇA
ÊXTASE DO ADULTO

SOU PERIGO
E O BRAÇO DO AMIGO
A PONTA DA AGULHA,  FAGULHA

MEMÓRIA
OU FIM DA HISTÓRIA
SOU ISSO , SOU AQUILO

SOU, NA VERDADE,
APENAS UMA MENTIRA,
OU A REALIDADE QUE A VERDADE ATIRA

Fábio Roberto - musicado em 1995

domingo, 20 de março de 2011

SÉRIE POEMAS

NA MADRUGADA

neste instante só consigo escrever escrever escrever escrever. o violão me olha. para ele isso é um replay. faz tststststststs............ sorri em solmaior.
tão claro que fecho os olhos. respiro. dou um gole em algo que está no copo.
é forte. parei de fumar há anos, mas dou uma profunda tragada na fumaça que ainda corre dentro de mim. tusso muito.
bate o coração bate... bate...
s u a v e m e n t e.
e pára. silêncio. o violão de novo... tststststststs.... os cães latem indignados. abro os olhos. o coração volta de seu cansaço. bate..... bate..... e vai ritmando. cadencia. bate
l o u c a m e n t e


mas acalma repentinamente porque
o som de uma corda rompendo toma o ambiente.


nem mais tststststs sai do violão.
nem sorriso em solmaior.
nem olhar.
nem claridade.


o silêncio se assusta porque nada escuta. pego o violão e faço....... tstststststs....


e toco assim mesmo.... faltando uma corda.


Fábio Roberto

segunda-feira, 14 de março de 2011

SÉRIE POEMAS

BRANCO

dos olhos
do tecido
da nuvem
do sal
da parede
da neve
do carro
do leite
do cão
da pele
do acúcar
da flor
da tinta
da tela
da bandeira
da pomba
do lençol
da fumaça
da vela
da areia
do gozo
do urso
da farinha
da luz
do papel.

Branco
me deu
na cabeça.


Fábio Roberto


SÉRIE TEXTOS

AMOR À PRIMEIRA VISTA


Resolvi conhecê-la amanhã.
A minha namorada, uma mulher especial.
E eu vou me apaixonar por ela instantaneamente.
Em minutos escreverei três livros de poemas
a ela dedicados. Irei compor, em menos de meia hora, 
uma centena de músicas inspiradas por essa musa. 
Ela, com seu jeito ora tímido ora maroto, conquistará meu coração
com tanta força que a pedirei em casamento
amanhã mesmo. Com um sorriso resplandecente,
amanhã ela dirá sim. Amanhã nos enlaçaremos
e vamos nos amar tão intensamente que geraremos
nossos filhos, que ainda amanhã crescerão belos
e saudáveis. Nós seremos eternamente companheiros
amanhã. Envelheceremos juntos vivendo esse dia de
forma violentamente verdadeira. O tempo não terá
para nós nenhum sentido. Não nos fará falta, nem
nos sobrará. Só nos importará o dia de amanhã.
Não anos atrás, que nem existiram. Não ontem,
quando não existimos realmente porque nosso amor
não existia. Renasceremos amanhã com o nosso amor.
Sem pressa. Sem passado. Sem futuro. Um amanhã
que nunca acabará e deixará o depois de amanhã
sem ter o que fazer, estático, num perpétuo aguardar
sem nem poder admirar o nosso amor que nunca terá
acontecido ontem ou antes de ontem. Por ter nascido e vivido 
dessa forma impossível, invejada, platônica, onírica, romântica,
perfeita, loucamente apaixonada, utópica, lírica, mágica,
totalmente e somente amanhã.

Fábio Roberto

quinta-feira, 3 de março de 2011

SÉRIE FRASES

EPITÁFIOS:

de Rico: O futuro... adeus, pertences! 
de Sovina: Deus me pague! 
de Ateu: Há...Deus? 
de Pobre: Lápide retirada por inadimplência 
de gay: Já deu o que tinha que dar
de devedor: Devo, não nego, vem aqui me cobrar
de modelo: Meu esqueleto veste um terno Giorgio Armani
de fumante: Estou na área reservada para fumantes
de atleta: Batendo meu recorde sem respirar!
de bombeiro: Cheguei tarde. Só restaram cinzas....
de pescador: Tantas minhocas, mas cadê a vara?
de ansioso: Já foi tarde
de incrédulo: Isto não está acontecendo
de otimista: Passei desta para melhor

FR

SÉRIE FRASES

O carteiro não queria sê-lo.

FR

SÉRIE MÚSICAS

NÓS DE PESCADOR

Eu te dei o meu amor
Pois faça dele o que bem quiser
Não me importa o coração
Que não bata junto ao meu
Emoldure, jogue aos cães
Pode empilhar junto dos demais
Dê um nó de pescador
Pra saudade não soltar
Vou-me embora tarde vou já deu a hora do adeus

Prenda os olhos num varal
Pro sol secar tuas lágrimas
Deixe o vento recolher
Dos teus lábios a paixão
Na ausência de nós dois
A nossa história é de emocionar
Deixe o vento carregar
Pra bem longe todo amor
Vai-te embora cedo esteja deu a hora do adeus

 Música: Fábio Roberto/Letra: Leandro Henrique e Fábio Roberto
Gravada por Márcia Salomon no CD Anjo Malandro de Leandro Henrique
Pode ser ouvida no: http://clubecaiubi.ning.com/profile/FabioRobertoRibeiroSilva 

quarta-feira, 2 de março de 2011

SÉRIE CRÔNICAS

A ESTÓRIA DO CACHIMBO CONTINUA

Mesmo com minha santa ingenuidade fiquei levemente desconfiado. O rebento Leandro chegou bem no momento em que eu acendia o vigésimo quinto free longo da noite e foi logo sugerindo para eu largar o cigarro e fumar o cachimbo da primeira estória. Declinei, as agruras pregressas estavam frescas na minha mente e não houvera ainda a oportunidade de compartilhar o aprendizado com o capitão da nau desbravadora de oceanos desconhecidos. O travesso insistiu. Não havia necessidade de tal experiência, comentou. Disse ele que eu era um típico cachimbeiro, um fumista nato dessa chupeta aspiradora de vapor oriundo de extratos vegetais. Diante de tamanha confiança em mim depositada, assenti. Segui o ritual de colocar o tabaco irlandez no devido compartimento conforme as regras vigentes, peguei o isqueiro, incendiei a borda do aparelho fumador, traguei fortemente e tossi como uma vaca. Se vocês leram o texto anterior não preciso explicar como as vacas tossem e eu tossi muito, porque para fazer a combustão se espalhar pelas folhas solanáceas, há que se puxar com veemência, acarretando a emanação para os pulmões. Notei um leve sorriso de satisfação irônica na face leandrina, mas insisti e obviamente a vergonha e a raiva me enrubesceram. Após as várias insensatas tentativas que realizei, já não mais tossindo como uma vaca, mas em plena convulsão, o maroto pediu-me candidamente para tentar o pito, não sem antes me apelidar de boca de neve. Impressionante. Ele pitou e a fumaça saiu calma e decidida do recipiente, o traquinas puxava e expulsava de si a névoa tabagenta como se fora, ele sim, um destemido marinheiro. Claro que fiquei tentando imitá-lo, mas o máximo que me aproximei da façanha foi igualar-me a um náufrago em bote à deriva. Fumamos, quer dizer, ele fumou e eu tossi por bastante tempo. Após breve colóquio regado a cervas a respeito de mulheres, músicas, mulheres, poemas e mulheres, ainda não satisfeito com a adiantada madrugada, foi proposta pelo espertinho mais uma rodada de cachimbo, pois que sobravam várias cervas na geladeira. Como um leonino não foge a desafios concordei prontamente, para que não fosse julgado um fumeta covarde, um reles incompetente sugador e borrifador de tabacos venenosos. Questionei na hora ao jovem malandro, que naquele momento não tinha nada de anjo, se ele fizera um rápido treino com o mestre cachimbeiro da barba espessa, ar intelectual e cabelos suavemente desgrenhados, o que foi rechaçado sem abalo. Para mostrar a sua sapiência cachimbal, maliciosamente Leandro acendeu a madeira e generosamente ensinou-me, já sem conseguir segurar o risinho fácil, a dar uma assopradinha e puxar com menos violência. Dei a assopradinha, mas o cachimbo praticamente ficou em labaredas, pois leonino é constituído do elemento fogo, única explicação plausível para aquele fato. Quando a gargalhada já irrompia da garganta do jovem gozador, consegui coordenar a assopradinha com a puxadinha, assopradinha e puxadinha e, depois de quase três horas pitando, consegui dar o meu primeiro trago verdadeiro no inocente equipamento fumegante. Aí, o Sábio rapaz foi ensinando mais técnicas ao incrédulo Fábio, comprimindo o tabaco no invólucro, o que não deixava apagar a chama, principalmente com dois defumadores atuando. Ficamos ali bebendo, pitando, proseando sobre mulheres, músicas, mulheres, poemas e mulheres até a última gota de cerva, eu então finalmente embarcado na caravela. Só restando cinzas do tabaco e da conversa, fomos dormir realizados. Leandro sem conseguir disfarçar o sorrisinho nos lábios Sábios, enquanto eu adormeci todos os intranqüilos Fábios, sem imaginar que poucas horas depois, já pela manhã, ao tentar trocar o pneu furado do carro, mesmo após todos os parafusos serem retirados, o maldito pneu permaneceria grudado à roda feito nossas bocas no cachimbo ou semelhante aos nossos lábios nos lábios das amadas. Mistério. Mas essa é uma outra estória, não tem nada a ver com o cachimbo, nem com lábios, tampouco com as amadas. Ou será que tem?

Fábio Roberto

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

SÉRIE POEMAS

AVISO

Não me olhe com esses olhos de desejo
Que eu te viro inteira do avesso,
Com um simples e ardente beijo
Nos lábios. E será só o começo

Da viagem do teu corpo em meu prazer.
Deixar-te enfeitiçada e quase louca.
Sem rumo, sem saber o que fazer.
Presa, indefesa, nua e rouca

De gritar o teu prazer tão desmedido,
Sem regras, sem limites, censurável.
E tu farás de joelhos o pedido:
que eu te consuma além do suportável

     Fábio Roberto

domingo, 20 de fevereiro de 2011

SÉRIE FRASES

REFLEXÕES ESPORTIVAS

 

No futebol feminino deveria ser obrigatória a troca de camisas ao terminar o jogo.

Em futebol misto deveria ter troca de camisinhas.

Já no futebol gay deveria ter troca-troca.

Na F1 também é proibido dar carrinho.

Intelectual só faz gols de letra?

Metalúrgico só faz gol de placa?

Chifrudo pode fazer gol de cabeça?

No basquete o buraco é mais em cima.

Se no futebol há o voleio, no volei há o futeboleio?

Futebol feminino  é para quem tem peito.

Nado sincronizado com irmãs gêmeas é sacanagem: a gente ficava achando que estava de porre...

Técnico de futebol que vai de terno ao jogo logo perde a esportiva.

O técnico não ajudô nada e os atletas apanharam no tatame.

Não entendo porque o tênis não tem patrocínio da Adidas, da Rainha ou da Topper...

Mulher que transa com locutor de rádio acha que ainda está trepando enquanto o cara já narrou o gozo.

Gay é louco por um salto com vara.

Dopingpong é doping no tênis de mesa.

A menina desistiu de ser jóquei porque cresceu e virou uma potranca.

Jóquei tem obrigação de lavar a égua?

O vencedor sempre tem espírito esportivo.

Para ser viado no futebol tem que ser macho para caralho!!!

Surfista só faz onda.

No automobilismo vivem fazendo planos-pilotos.

Jogador daltônico nunca leva cartão vermelho.

No esporte feminino mulheres menstruadas não fogem às regras.

Goleiro gay adora levar um peru.

Filho de árbrito vive levando a-pito.

Iatista quando não vence a regata fica a ver navios.

Pode um iatista usar camiseta pólo e um jogador de pólo usar camiseta regata?

Uma partida nunca fica inteira?

Se você estiver com a pressão alta não exagere no futsal.

      Fábio Roberto

sábado, 19 de fevereiro de 2011

SÉRIE CRÔNICAS

FATO VERÍDICO

Sempre achei que o jeito durão do Carlão é apenas uma defesa, uma casca pronta a ser descascada assim que uma oportunidade real de desvendar-se surja à frente dele. Maduro, homem que cresceu na vida as próprias custas, esse invólucro permite que ele mantenha suas emoções controladas, pelo menos até a quinta garrafa de cerveja, quando se libera levemente brindando os amigos com seu humor impagável – ele nem cobra por isso -, contagiante e único. Eu conheço um pouco da história do Carlão. Ninguém pode imaginar a determinação do nosso amigo em superar todas as dificuldades da infância vivida na roça, nem as vicissitudes dos empregos humildes da adolescência, para chegar ao momento da aventura corajosa da juventude em São Paulo, cidade que desbravou sozinho perambulando pelos quarteirões que se sucediam aos seus pés. Nem sonhava em transformar-se no declamador emérito de hoje. Nessa época foram muitas as experiências do Carlão: viu cenas de sangue num bar da Avenida São João, pois tava lá um corpo estendido no chão. Entrou em bolas divididas, amou fazendo de conta que era o primeiro, costurou retalhos de cetim e escreveu cartas a Mários ausentes. Esses acontecimentos moldariam dentro dele, juntamente com a prática da meditação transcendental, o Mestre que posteriormente afloraria. Rapaz no auge da forma física resistiu à tentação de tornar-se garoto de programas ou posar nu para a G-Magazine. Seria dinheiro fácil, mas Carlão e seu caráter impoluto tinham outros objetivos. Ator e locutor talentoso, primeiro queria chegar aos monitores de TV de todos os lares brasileiros, meta que alcançou rapidamente com os vários comerciais que protagonizou. Depois de provar não ser apenas mais um rostinho bonito, resta agora o segundo passo: a conquista de Hollywood e do mundo! Voltando ao cerne da estória, o jovem impetuoso seguiu o seu trajeto incólume. Excluindo um trabalho de faculdade em que posou de cueca para um outdoor, nunca Carlão utilizou os elogiados (pelo público feminino/gay) atributos do seu corpo para obter quaisquer vantagens e só voltaria a exibir-se publicamente de cueca num fatídico churrasco na casa do Jairo, após agressivas provocações das meninas presentes. E era cueca de bombeiro, segundo Rosana, mas deixemos esse caso momentaneamente de lado...
Com o tempo tornamo-nos amigos, companheiros inseparáveis de cervas e papos. Certa noite, entre vários assuntos debatidos, o Mestre e eu conversamos sobre cães e de como eles se tornam importantes integrantes das famílias, com todas as regalias dos seres humanos. Carlão, entretanto, afiançou nessa data que para ele existiam limites, pois nunca chamaria sua cadelinha Princesa de filhinha, por exemplo. Nunca diria “vem com o papai”. Discordei, propus uma aposta, mas infelizmente Carlão perdeu o papel...

A ampulheta da eternidade foi virada diversas vezes. Recém empossados do novo lar, Carlão e Isabela receberam a visita da Princesa para o final de semana. Princesa foi com sua mala de roupinhas, cremes, xampus, rações, fitinhas, guloseimas e brinquedinhos, sem esconder a imensa alegria, o que demonstrou lambendo freneticamente a face séria do nosso amigo. Puro disfarce. Fosse cachorro Carlão estaria também abanando instintivamente o rabicó, mas sendo humano e tendo que demonstrar que é durão, não podia dar o rabo, quer dizer, o braço a torcer. Manteve-se impassível, mandando a cadelinha comportar-se, mesmo porque com o apartamento ainda em reformas a mudança nem fora totalmente completada. Muita arrumação para fazer. Portanto, Princesa, não faça bagunça, disse firmemente o Mestre com o dedo em riste. Agradecida pela preocupação do Carlão, a quem fitou com olhinhos meigos, a canina deitou-se obediente em sua caminha e passou a observar os donos arrumarem-se para sair. Uma das coisas mais agonizantes para um cão é observar os donos preparando-se para sair. Os cães têm a plena convicção de que serão abandonados, entrando em total desespero interior. Alheios a isso, pai e filha dirigiram-se aos respectivos passeios. Carlão teve ainda o cuidado de puxar uma pesadíssima porta ainda não instalada para melhor acomodar Princesa em seu aposento, separando-o assim da sala. Deixando a cadelinha em segurança, nossos amigos caíram na noite.
Voltaram no início da madrugada e tiveram uma surpresa. Ao saírem do elevador escutaram Princesa ganindo como se estivesse sendo torturada. Agilmente, apesar do suave torpor etílico que lhe assomava, Carlão encontrou o molho de chaves no bolso, incrivelmente escolheu a chave certa, virou-a na fechadura, empurrou a porta e... nada. Os ganidos de Princesa aumentaram ao ouvir a movimentação dos seus donos. Carlão, assaz contrariado, empurrou com mais força, mas a porta não deu sinal de abrir-se. A cadelinha começou a uivar e Carlão também. O Mestre respirou fundo, emitiu um mantra tibetano e num esforço hercúleo empurrou novamente a porta, que moveu o suficiente para mostrar que aquela outra porta que ele havia puxado antes de sair para separar os ambientes estava emperrando a entrada. Como aquilo teria acontecido impossível saber. A cadelinha não teria forças para tanto, nem mesmo o vento teria. Mistério. Princesa esvaia-se em lágrimas uivando e ganindo, Carlão também. Isabela acendeu mais um cigarro e exigiu providências. Apareceu o zelador, depois o síndico. Muitos vizinhos congestionaram o hall, o prédio inteiro acordou.  O morador do andar de baixo surgiu com um serrote, Carlão quase lhe serrou o pinto. Aliás, o Mestre já ficou bem popular no condomínio. Chamaram um chaveiro, a polícia, um ladrão arrombador de apartamentos, mas ninguém teve uma idéia para entrar no apartamento novinho sem causar destruições. Até que Carlão, em pânico, teve um lampejo entre um espasmo histérico e outro: - resta chamar meus amigos bombeiros!

Não sei, nem me interessa saber porque só interessa para a Rosana, se a cueca dos bombeiros era igual a do Carlão ou vice versa. O que importa é que enviaram mais de quatro viaturas de bombeiros, a defesa civil e o Samu para esse salvamento no Jaguaré. A essa altura tinha virado salvamento porque Princesa estava quase enfartando e Carlão também... Infelizmente não mandaram um carro com a escada magirus, só para complicar a situação. Mas após horas analisando as possibilidades, quase ao amanhecer os destemidos bombeiros subiram ao topo do prédio, montaram seus equipamentos e desceram de rapel até o apartamento do Carlão, que nesse momento quase mordia a própria orelha enquanto Isabela filava o segundo maço de cigarros dos espectadores. Por sorte a janela da cozinha estava aberta e os bombeiros entraram. Um pegou a assustada cadelinha no colo, enquanto outro desobstruiu a porta. Quando Carlão viu Princesa combalida, em prantos e extenuada abanar o rabinho para ele, abriu os braços, impostou o famoso vozeirão e falou sem titubear: - vem com o papai, Princesa!
Eu sabia. Era só casca de durão.

Fábio Roberto

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

SÉRIE FRASES

CARNAVAL

pode um sambista ser pé de valsa?

FR

SÉRIE POEMAS

COFRE


O meu negócio agora é grana.
Vou aposentar-me da poesia.
Grana. É isso e tomar uma cana.
Basta de música e melancolia.

Só grana eu vejo na frente.
Por ela eu comerei até grama.
Chega de ser indigente,
honesto e ter jornais como cama.

O meu negócio agora é grana.
Nem mulheres cheias de amores quero.
Comprarei putas, chega de puritanas.
Com grana terei os carinhos que espero.

Com grana comprarei saúde.
Ficarei forte, me farei mais novo.
Terei felicidade amiúde.
Serei dono do sorriso do povo.

Chega de ajoelhar e rezar.
Minha grana comprará padres e pastores.
Até o demônio ficará com pesar.
Comprarei dele todos os temores.

Grana. Depois vou distribuí-la aos pobres.
Assim farei para Deus me perdoar.
Então serei dono das almas mais nobres.
E só a minha alma a um cofre irei doar.

Fábio Roberto

SÉRIE POEMAS

DERRADEIRA CHANCE


UMA CHANCE A MAIS... EU NÃO A QUERO.
O QUE FARIA EU COM OUTRA CHANCE?
NADA MAIS ME RESTA, NADA ESPERO.
É IMPOSSIVEL QUE ALGUÉM ME ALCANCE.

NINGUÉM DESEJO, NEM VOU AMAR.
OLHOS MEUS SEMPRE ESTARÃO FECHADOS,
LÁGRIMAS SECANDO À BEIRA-MAR
E AOS HORIZONTES DESESPERADOS.

RECUSO OUTRA CHANCE, EU NÃO PRECISO.
CANSEI DE CAIR NAS MADRUGADAS,
PROCURAR BELEZA NUM SORRISO
E BEIJAR AS BOCAS DESALMADAS.

AMAR SÓ SERVIU PRA POESIA
TORNAR-SE PUNGENTE, MELANCÓLICA,
PERDIDA, ENLOUQUECIDA, VAZIA.
SOLITÁRIA, MAS TAMBÉM SIMBÓLICA.

DESPREZO MALDITO SENTIMENTO,
TÃO BONITO QUE AINDA RESSOE
EM CÉUS AZUIS, LEVADO NO VENTO.
MAS NÃO O SABEMOS: POR QUE FOI

O NOSSO AMOR MORRER DE REPENTE,
PRA NEM MESMO HAVER EM OUTRA VIDA
DERRADEIRA CHANCE REFULGENTE?
AMAR FICOU SABOR DE PARTIDA.

Fábio Roberto

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SÉRIE CRÔNICAS

O QUE AS LENTES NÃO CAPTAM

Leandro e todas as suas idades sobem ao palco. Como definiu Edu Gomes, para poetizar com tanta sabedoria só uma alma muita antiga vestida de um jovem de luz. Outro jovem, o anfitrião André, tentando envelhecer a aparência com sua barba rebenta, recebe todos com braços abertos no sorriso largo. A cada cerva destampada as nossas gargantas gargalham, regadas de inspiração. Enrique e Marili comparecem ao evento. Se você não acredita em almas gêmeas é porque não conhece Enrique e Marili. Não foram feitos um para o outro, um fez o outro. Certamente eles se desenharam e fugiram do papel para a realidade. Márcia aguarda o palco vir buscá-la. Sim, porque Márcia não sobe ao palco, é o palco que sai do seu espaço limitado, vai até ela, coloca-a em cima dele com suavidade e reverência e a carrega para iluminar o ambiente ao interpretar cada palavra-melodia intensamente, como nem o compositor-poeta jamais imaginou. Enquanto isso a adorável Thati borboleteia sua simpatia pelo bar e pela turma toda. A prima do Lê, de sangue e amizade. E Leandro segue cantando, dedilhando as emoções que vão alimentando e fortalecendo nossos corpos famintos de vida, sedentos de momentos de paz. Márcia canta outra música. Eu, fisicamente presente, me transporto para longe. Não sei se para ontem ou se para amanhã. O tempo não existe ao ouvir Márcia cantar. Existe apenas o sempre. Subitamente o local recebe energias e vibrações de Mestre. Carlos Barbosa e sua alegria chegam para contagiar a todos. Carlão é tão gente boa que se um dia você achar que ele pisou na bola com você, a culpa toda é da sua bola que deve estar carcomida e furada. Jogue-a fora imediatamente e aproveite o Carlão. Marili desde que chegou se esconde das fotos, nem desconfiando que cada vez que ela pisca eu preciso dos meus óculos escuros, porque dela saem flashs e flashs e flashs. E o Enrique com aquele sorriso de nenê? Já repararam no sorriso de nenê do Enrique? É outra barba-disfarçe, pois tantos anos ensinando a moçada transformaram o rosto dele em um rosto de criança. Seria esse o elixir da juventude? Márcia e Leandro cantam em dueto. Impressionante a sintonia desses dois. Para mim essa é a essência do amor verdadeiro, cúmplice e absoluto.
E nós temos o privilégio de compartilhar, porque eles são generosos em espalhar os seus talentos por aí. Pausa no som. Neto fica sentado na cadeira, quieto, olhando para o palco momentaneamente vazio, ainda saboreando melodias. Alê Ferraz, para recuperar o coração das emoções vividas e sonhadas ali, pega o maço de cigarros e o isqueiro. Imediatamente toda a incrível turma que foi prestigiar Leandro, a que fuma e a que não fuma, vai ao fumódromo interagir fumaças, papos, perfumes, abraços, paqueras, palhaçadas. Depois voltam todos para as mesas porque quase cinqüenta anos de história aparecem. É um Jairo diferente o que aporta o barco. Um Jairo comedido em comentários, econômico em brincadeiras. De repente o peso do aproximado cinqüentenário o fez meditar profundamente sobre os próximos carnavais. Mas quando Rosana surge imponente pela entrada o novo ancião reage, esboça um gracejo, fica aparentemente normal. Logo depois Sarah, a Musa Leandrina, vem abrilhantar a face do amado. E como ela a faz incendiar! E Leandro, mesmo tocando e cantando tudo observa, tudo escuta. Depois dos eventos, quando vou contar a ele os acontecimentos, ele já sabe. De quantos cérebros Leandro é dotado? No adiantado da hora Marili praticamente cansou de se esconder das fotos, mesmo porque Enrique e Carlão foram acometidos pelo transtorno-compulsivo- fotográfico. Não dá para ela lutar contra o grupo. André sobe ao palco e manda ver na percussão. Casais começam a dançar. Celi samba no pé com sua graciosidade oriental. As cinco horas desta happy hour estão chegando ao fim. É feito o terceiro pedido para Márcia e Leandro executarem Tenho Fome. Lá vou eu viajar para um lugar que eu sei que existe. Eu, minha máquina fotográfica, meus olhos da carne e meus olhos do espírito que registraram tudo, para tudo o que a gente nem viu permanecer eternamente pulsando em nós.

Fábio Roberto - breve relato de um Happy Hour com Leandro na Cantina dos Músicos

sábado, 12 de fevereiro de 2011

SÉRIE MÚSICAS

ANJOS


Agonia.
A dor.
A morte.
O pranto.
Os abutres.
A podridão.
A carne em decomposição.

Resta esperar os vermes.
Resta esperar o pó.

A alma.
O vento.
O vôo.
A paisagem.
O inferno azul.
O céu.
O sol.
O sangue.
O parto.
A partida.
O lugar.
Uma voz.
Uma vez.
Talvez
Reste esperar os anjos.
Resta esperar.


Música: Titi Trujillo/F. Roberto
Letra: F.Roberto
Gravado por Fábio Roberto e Sonia Santhelmo no CD Tempo Azul. Pode ser ouvida no: http://clubecaiubi.ning.com/profile/FabioRobertoRibeiroSilva

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

SÉRIE FRASES

O ateu vive no passado porque o futuro a Deus pertence.

FR

SÉRIE POEMAS

POEMA SUAVE

Sóbrio eu não existo em minha cabeça.
A minha cabeça passeia longe de mim.
Sóbrio a realidade é muito pior,
porque a cabeça não descansa.
E eu não sei aonde escondo o cansaço.
A inteligência, a criatividade, a sensibilidade e a pressa se aguçam se eu estou sóbrio e isso é cruel.
A alegria se torna tão extrema quanto a melancolia.
Sóbrio, todas as drogas que já usei
se acendem em mim violentamente.
Penso de forma mais ousada, tenho vontade de voar o carro naquela estrada mesmo que o carro se arrebente. Prefiro até ir sem freios
Sóbrio os poemas são mais agressivos, as músicas mais encrencadas.... a palavra deixa de ser ironica para ficar sarcástica e amarga.
Sóbrio eu arrisco tudo:
a vida, o amor, a amizade, a família, o trabalho.
Fica tudo nublado, tudo escurecido, percebo que as pessoas são muito mais ridículas do que o normal.
Sóbrio eu tropeço na minha alma.
Quero que os demônios e os deuses morram abraçados.
Eu mergulho nas viagens mais profundas do bem e do mal. Não há mais o certo e o errado. Não tenho medo de nada. Desrespeito qualquer lei, dogma, regra, contrato, convenção, norma ou acerto. Nada me segura.
Nada me impede. Perco completamente o medo e os limites quando estou sóbrio.

Sóbrio eu não me olho no espelho porque não estou lá. Estou do lado de fora de mim.
Sozinho como o mais miserável dos pecadores. Sozinho porque não vou compartilhar este momento de lucidez ensandecida com ninguém.
Quando eu voltar desta paisagem sombria e selvagem
talvez renasça em um poema suave.
Palavras e cenas que os teus e os meus olhos
gostarão de ler e ver.
Ou esquecer.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

PERSPECTIVAS

Olhando a vida com os olhos da morte, verás somente a vida.

Olhando a vida com os olhos da vida, só verás a perspectiva da morte.

Fábio Roberto

SÉRIE POEMAS

MÓVEIS

Eu nem percebi que não estavas para
brin-cadeiras e mesas.
Desculpo o teu mau humor meu amor.
Eu só estava pensando em nós dois numa cama...

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

Deus escreve certo por linhas tortas, roscas e bolachas.

FR

SÉRIE POEMAS

O OLHAR

Quem irá entender as minhas palavras sem que passe pela cabeça que eu sou uma atitude vaga,
se penso segundos luz antes do momento?

Não tenho tempo para explicar o tempo do meu desgaste.

Não sou um bom amigo para beber cerveja sem falar bobagens próprias ou filosofar sobre uma frase de Thoreau.

Não sou um bom amante se não devorar a alma de quem amo e me entregar às mãos dessa amada como se ela fosse Deus.

Plantei filhos e para eles não transmiti mentiras sociais, para que possam colher da arte o alimento supremo da realização plena de suas vidas.

Eu sou um descasamento, sou certamente um errante. Um materializador de sonhos. Um destruidor de sonhos. Um pesadelo que fez sorrir.

Não sou um compositor de jingles, mas poderia colocar uma pimenta no seu doce de coco e vendê-lo como pipoca.

Tenho medo de dor de dente, tenho medo de dor no dedo, tenho medo de cebola.
Não tenho medo da morte, mas não a aceito agora, sem antes encontrar com o meu destino cara a cara com a faca na boca, a caneta na mão e um papel em branco para mostrar a ele que a poesia não precisa assistir ao por do sol ou a uma luta.

Ou será que um cego não pode ser poeta?

Eu sei de tudo o que vivi ontem.
O meu ontem foi muito mais do que todas as vidas de muita gente.

Nossa, como sou arrogante! Mas agora estou calmo demais.

O futuro está nos meus olhos.
O futuro está nos teu olhos.
Resta saber para onde iremos olhar.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

A galinha deprimida acha que nada vale a pena.

FR

SÉRIE POEMAS

MIRAGEM

O tempo não foi complacente hoje
Nem pretendia. Nunca o será.

O tempo, sem pressa e rápido, me foge.

Descortinará
As pálpebras.

Álgebra
Somando o vazio
Com o psiu
Solitário na madrugada.

Lua estatelada
No céu
Escuro.

Véu
Que cobre o muro
Onde meu carro, imaginando não mais ser matéria,
Encontrará o impacto da realidade crua.

Pior teria sido cortar a artéria
Nua
Do pensamento, antes que a hora passasse
Sem que minha alma se costurasse
À tua.

A rua
Bebe insaciável o meu vinho
E me engole toda dor.

Vinho, derramado vinho. Adivinho
Qual a dor.

Sorrio ao tempo e lhe digo:
Tu e eu somos eternos,
Caro amigo.

O tempo me abraça forte e terno
E desaparecemos dos nossos olhos feito miragem.
Fumaça, névoa, neblina que o vento dispersou na paisagem.

Fábio Roberto

SÉRIE FRASES

IRONIA

Era um cabeça dura, dedo duro, duro de grana, coração endurecido, duro na queda, mas brochava.

FR

SÉRIE POEMAS

LUGAR

Sem amor qualquer lugar é solitário.
Seja um cemitério,
seja um berçário,
vida é resposta a qualquer mistério.

Amo. E só existe a palavra vida no meu dicionário:
caso com a morte só pra cometer adultério!

Fábio Roberto

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

SÉRIE POEMAS


ALERGIA
Meus pés, no chão andam carícias,
Passos risonhos de cócegas,
Gargalhadas, icterícias,
Alergias nas noites lôbregas...


                                 Fábio Roberto