sexta-feira, 12 de maio de 2023

A TECLA FF

Continuando o desenvolvimento frenético da ciência, com inteligência artificial, androides e mundos virtuais sendo devidamente controlados pelos seres humanos, as viagens no tempo estarão cada vez mais próximas de acontecerem.

Com isso, um dos meus sonhos se tornará realidade, apesar de que já deve ter sido previsto em livros, filmes e séries. Imagine, em um simples toque numa tecla, a FF, que significará Fabio in the Future, assim batizada em homenagem a quem inventará o aparelho, avançaremos pela vida de acordo com a nossa vontade, para evitarmos desagradáveis momentos específicos, que sem isso teríamos que passar.

Exemplo: hoje você vai numa consulta no dentista, fato que já é uma tortura. Se você concretizar o tratamento, o martírio se realiza com os instrumentos mais modernos criados para causar dor e justificados que são necessários para a sua cura. Mas, nesse futuro, utilizaremos a tecla FF, pulando do diagnóstico diretamente para logo depois do pós operatório, acordando totalmente saudáveis e prontos para desfrutar a existência.

Entretanto, como tudo na ciência, o inventor terá que resolver um sério problema. Usando a tecla FF para escapar dos dissabores, tudo aquilo de bom que viveríamos naquele hiato temporal, também estaria suprimido: nascimentos, paixões, festas, vitórias, sucessos, luas de mel, sorrisos...

Para quem tem uma vida pacata, chata e sem graça, essa situação talvez até venha a ser compensadora, mas para quem tem uma vida dinâmica, surpreendente e aventurosa, não é uma situação atrativa, pois valoriza e aprende com cada passagem alegre ou triste. 

Cheguei a esta conclusão pensando ontem durante a meia hora em que fiquei na recepção do dentista porque chego cedo, ansioso que sou, e resolvi não fugir. Encarei corajosamente a cirurgia marcada e cá estou, no pós operatório, tentando beber menos, controlar a compulsividade crônica por tudo, esquecer a hiperatividade diária porque não devo fazer atividades físicas mais fortes e sem poder comer alimentos essenciais para qualquer pessoa normal, como queijo parmesão, picanha, batatinha crocante, pipoca, azeitona, torresmo, pizza, bacon e amendoim, entre outras iguarias.

O desconforto é ocasional, eu sei. Que este presente vire passado logo, pois se no futuro breve eu ficar acomodado e me chamarem de velhinho, vou ficar muito puto!

Fábio Roberto

quinta-feira, 11 de maio de 2023

PÉ NA BUNDA OU NA BOCA

 As pessoas reclamam quando levam um pé na bunda, mas pé na bunda é suave, amortecido, quase delicado. Duro mesmo é pé na boca. Aí sim é violência. Dentes se espalham, sangue jorra e suja de nossas roupas até as nossas almas. Quando alguém leva um pé na bunda o seu coração palpita acelerado, mas entristecido, fraco, lúgubre. Já quando o pé é na boca o seu coração paralisa, é vácuo naquele instante, mas a adrenalina te faz reagir porque vem a raiva, a vontade de vingança, de dar a porrada de retorno e o sangue que escorreu nos cantos dos lábios é sorvido como néctar estimulante pela língua machucada. O pé na bunda é silêncio, mas na boca é grito. Eu nunca levei pé na bunda, porque sempre o senti como pé na boca. Na bunda é pra quem oferece a outra face. Na boca é pra quem oferece a outra foice.

Fábio Roberto