quinta-feira, 8 de outubro de 2020

CLAVE DE FÁbio

a sonoridade das minhas unhas rasga o teu corpo inteiro.
a minha boca e dentes estalam na carne do teu pescoço.
a melodia é esta, de selvagem leão, e é o que compor eu posso.
é este meu desespero que te ofereço, linda, como fiel parceiro.
o meu coração irá parar de percutir nesta pauta partida,
pois em alguma noite eu me permitirei esta sábia decisão.
por enquanto, escute-me paixão, olhos, calor e tesão.
dentro de você eu canto o melhor canto da minha vida.
Fábio Roberto


SAL

Mas quem é esse que tanto falo em romance?
Esse não sou eu, então que eu pare antes que me canse.
Eu sou um poeta maldito que as palavras no papel vomita,
feito comida deteriorada e fria de suja marmita.

A minha poesia é para ser lambida pelos cães sem donos,
aqueles que bebem as águas apodrecidas nas sarjetas,
uivando para receber réstias de luar, como gorjetas
clamadas pelos miseráveis que habitaram tronos.

O que escrevo é uma ferida purulenta que nunca cicatriza.
É um sentimento que invade. Não se doma. Não se exorciza.
Corrói por ser lava que desce fumegante a encosta,
queimando a alma numa dor tão forte e poderosa que se gosta.

Estas são as declarações de amor deste visionário insano.
O sabor da minha boca pode ser amargo, estranho, obsceno.
Nunca será doce, tampouco suave. Eu não existo ameno.
Sou o tempero mergulhado sob as ondas do oceano.

Fábio Roberto 


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Patrícia Justino e Marco Silva
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