quinta-feira, 11 de abril de 2019

BEIJO DA MADRUGADA

Por que tu me beijaste eu não sei.
Será por que tu me notaste triste?
Será por que o meu coração ouviste
descompassado, amargo, fora da lei?
Não sustentei olhar teus olhos refulgentes,
sorrindo pro meu rosto de indigente.
Só admirei os teus bailados deslumbrantes,
a desfilar-me paixão louca e vibrante.
Por que tu me beijaste, madrugada,
se cedo tu fugias pro teu dono
e o dia preparava outra cilada?
Restou-me a luz pungente do abandono,
minha poesia estéril ou calada,
se a lua adormeceu eterno sono.
Fábio Roberto

quarta-feira, 10 de abril de 2019

O INVÁLIDO


O meu joelho de súbito torceu
contra mim, o safado, infelizmente.
Ficou roxo, inchou, muito doeu,
mas era menos do que uma dor de dente...
Ignorei, dei-lhe uma baita de um gelo.
Ele gostou, fingindo-me estar bem.
O choque arrepiou o meu cabelo,
quando levantei e caí como um neném.
Como esta sede alcançaria a geladeira?
E a ansiedade sem andar de lá pra cá?
Eu me arrastei, sem rodinhas na cadeira,
Só uma cerveja poderia me “salvá”.
Bebi de um gole, pra ficar amortecido,
grudado ao chão parecendo lagartixa.
Fui muito macho, dei um pulo emputecido,
voltei ao chão e gemi feito uma bicha.
Eu me acalmei ao acender uma fumaça
atrás da outra, só restava mais um maço.
Tem horas que realmente a vida embaça,
feito o ibope quando só apresenta traço.
Depois de horas de meditação profunda,
iluminei-me, descobri que a dor não existe.
Ainda bem que foi joelho e não a bunda,
senão a estória ficaria bem mais triste.
Fábio Roberto