quinta-feira, 20 de setembro de 2018

EM QUALQUER LUGAR



Vou embora pra longe, me deixar só.
Não me espere que hoje não volto,
nem amanhã, nem depois.

Eu preciso pensar em nada,
sentir-me absolutamente vazio,
ser ninguém e de ninguém,
apagar meus rastros, vestígios,
sinais, memórias e indícios.

Vou sair à francesa, este filme é de Hitchcock.
A janela indiscreta não mostra nem parte do que vivi.
Muito louca a cabeça sonhando o que é real,
se a felicidade não deixa a dor consumir-me ao fim.

Vou embora, mas saiba, não estou a fugir.
Isso tá mais com cara é de Baudelaire.
Eu preciso que tenha muito do que beber por lá.
Não me espere que hoje não volto,
nem amanhã ou depois.

Fábio Roberto



domingo, 9 de setembro de 2018

INSÔNIA

Uma parte lutava pra dormir,
a outra insistia em pensar.
Fazendo uma parte se coçar,
a outra adorava oprimir.
Uma parte começou a deprimir,
outra não deixou de lhe espicaçar.
Essa parte só deixou de ameaçar,
quando a outra irritada fez bramir.
E assim noite adentro a esgrimir,
uma parte viu o tempo passar.
Desejando mais um pouco troçar,
a outra ficou a se consumir.
Breu confuso lhes restava exprimir.
Não puderam ou souberam conversar.
Duas vozes: a insônia a engessar
a ideia que nasceu só pra sumir.

Fábio Roberto