terça-feira, 31 de julho de 2018

ROUXINOL

Não há martírio
Apenas o mar do delírio
Que beija os pés cansados
Enquanto abraço o vento
Que me integra ao sal
Que desintegra o mal
E procura a cura
Na dobra do tempo
Não há solidão
Apenas o sol na imensidão
Que alimenta
A alma e o corpo
E enquanto me aqueço
Enquanto me esqueço
Ouço um som tão repentino
Harmonioso e belo
Que saboreio o destino
Fábio Roberto
Musicado em 1996


segunda-feira, 23 de julho de 2018

A MOSCA



O tempo parece estar parado. Nada se moveu por uma eternidade até uma mosca pousar subitamente em meu nariz. Não sei por que não consegui mover braços para espantá-la, quando lembro imediatamente da canção “eu sou a moscaaaaa...”.

A Brachycera voou e o tempo pareceu parado outra vez, mas há um ventilador girando segundos lentamente. Tão lentamente que não sinto o vento que ele faz. Aliás, nem sinto calor. Percebi que nem pisco, afinal o tempo parece não passar. Somente a mosca vai e volta. Ela tem asas e olhos enormes que me fitam fixamente, assim tenho certeza de que o tempo está inerte. Nos brilhantes olhos da mosca vejo refletido um ambiente morto. Como se fosse um fúnebre desenho. Mas não sei como é possível haver movimentos numa imagem estática. Como pode a mosca voar e o ventilador girar, mesmo malemolente, com o tempo e tudo mais imóveis? Por que não levanto, balanço pernas ou simplesmente grito?

Descubro agora o motivo dos meus olhos não piscarem. Eles estão fechados como a porta que também se fecha, não antes de alguém desligar o ventilador e apagar as velas. Aqui somente a mosca continuará voando até cumprir seus trinta dias de vida e o tempo definitivamente parar.

Fábio Roberto
Do Livro de Textos e Crônicas



sexta-feira, 20 de julho de 2018

INIMIGO MEU


Que bom, inimigo,
que você não baterá na minha porta.
Isto me conforta
e nunca mais deixará de assim ser.

Que bom, inimigo, não ouvir mais a tua voz,
falando em vão meu nome toda hora
para o mundo,
querendo me pegar na esquina
só porque beijei tua menina.

Agora isso deixará de assim ser.

Que bom, inimigo, que ao soar a campainha,
não precisarei tirar a espada da bainha.
A vida deixou de ser uma rinha
e tua mulher passou a ser minha rainha.

Apesar de que isso nunca deixou de ser.

Adaptando do ditado popular, inimigo,
sem remorso algum te digo:
“Morreu um inimigo meu, antes ele do que eu”

Faroberto



domingo, 15 de julho de 2018

Copa 2018- final


 Espetáculo! Parabéns Croácia pela luta e França pelo bi, mas...


terça-feira, 10 de julho de 2018

O BANQUINHO


Nada. Nada disso deveria ter acontecido. Maldita hora em que parei esbaforido nesta padaria pra forrar atrasadamente, pois o horário do almoço já se perdeu faz horas, o vácuo do estomago com um salgado e refrescar a mente, a goela e até os pés que latejam dentro dos tênis que os vestem, com uma cerveja Serramalte, a melhorzinha servida aqui.

Foi me acomodar no banquinho do balcão, na ponta mais afastada de qualquer gente, e ver você, de quem não sabia há anos e estava escondida nos recônditos da minha memória ou falta de lembrança. Não que você tenha tido essa importância toda. Afinal, uma mulher que nem gerou um disco inteiro ou um livro de poemas, nem posso considerar tão relevante.

Mas como você está jovem e bonita. Tá certo que você é bem mais nova do que eu, mas o tempo não te consumiu nem um pouquinho. O teu corpo leve e maravilhosamente torneado continua tentador, tanto que te devoro de cabo a cabo, de rabo a rabo e de rabo a cabo.

Você permanece a mesma distraída. Sempre agiu como se outra pessoa no mundo não houvesse ou se o movimento do planeta e seus habitantes não tivesse importância alguma até você notar. E foi no instante em que eu te admirava com meus olhos de libido exacerbada, que você me percebeu. E descobri que, ao contrário do que pensava, eu havia sido profundo demais em seu coração.

O nosso abraço é aquele em que se aperta e não se larga até algum fato novo apartar. E tinha que surgir o balconista com a cerva e o salgado bem na hora desse aperto de corpos eletrificados. Você só me diz que lamenta um dia ter me deixado, que estava com muita saudade, que ainda me ama, mas que tem que ir embora. E vai.

E eu fico estático, impassível, te vendo ir embora balançando os longos cabelos pra nunca mais. E então você some dos meus olhos, da minha memória e até da minha falta de lembrança.

Fábio Roberto


segunda-feira, 9 de julho de 2018

O SONHO

Não existe um botão pra acionar o sonho.
Ele vem, ele vai quando quer.
Então há que se viver a vida,
seja a realidade que houver.
Seja bem vinda a vida,
que afaste o pesadelo medonho.
Adormeço a alma dolorida,
guardo em meu corpo o sonho...
Fábio Roberto


sábado, 7 de julho de 2018

PALAVRA QUALQUER


Não deve estar muito longe
De algum distante lugar
Numa saudade, num grito
Num tempo louco qualquer

E a palavra sincera foi o sorriso quem disse

Não deve estar muito longe
Outro sincero lugar
Outra saudade, outro grito
Outro sorriso qualquer

E a palavra bonita paira esquecida no ar

Era palavra o silencio
Era palavra o sorriso
Era lugar mais bonito
Viver

Fábio Roberto
Canção de 1983



quarta-feira, 4 de julho de 2018

SEM MOTIVO

Madrugada assiste o meu cansaço
Vislumbro qual destino em um bocejo
Pergunto a mim mesmo o que desejo
Viver ou adormecer feito um bagaço
Cítrico de suco já espremido
Crítico de sangue já exaurido
Artístico de um palco escarnecido
Artrítico de um corpo envelhecido
Escolho não saber mais quando vivo
Procuro nem saber se adormeço
E fico assim parado sem motivo
Olhando pro infinito até que esqueço

Fábio Roberto
Canção de 2018