terça-feira, 10 de julho de 2018

O BANQUINHO


Nada. Nada disso deveria ter acontecido. Maldita hora em que parei esbaforido nesta padaria pra forrar atrasadamente, pois o horário do almoço já se perdeu faz horas, o vácuo do estomago com um salgado e refrescar a mente, a goela e até os pés que latejam dentro dos tênis que os vestem, com uma cerveja Serramalte, a melhorzinha servida aqui.

Foi me acomodar no banquinho do balcão, na ponta mais afastada de qualquer gente, e ver você, de quem não sabia há anos e estava escondida nos recônditos da minha memória ou falta de lembrança. Não que você tenha tido essa importância toda. Afinal, uma mulher que nem gerou um disco inteiro ou um livro de poemas, nem posso considerar tão relevante.

Mas como você está jovem e bonita. Tá certo que você é bem mais nova do que eu, mas o tempo não te consumiu nem um pouquinho. O teu corpo leve e maravilhosamente torneado continua tentador, tanto que te devoro de cabo a cabo, de rabo a rabo e de rabo a cabo.

Você permanece a mesma distraída. Sempre agiu como se outra pessoa no mundo não houvesse ou se o movimento do planeta e seus habitantes não tivesse importância alguma até você notar. E foi no instante em que eu te admirava com meus olhos de libido exacerbada, que você me percebeu. E descobri que, ao contrário do que pensava, eu havia sido profundo demais em seu coração.

O nosso abraço é aquele em que se aperta e não se larga até algum fato novo apartar. E tinha que surgir o balconista com a cerva e o salgado bem na hora desse aperto de corpos eletrificados. Você só me diz que lamenta um dia ter me deixado, que estava com muita saudade, que ainda me ama, mas que tem que ir embora. E vai.

E eu fico estático, impassível, te vendo ir embora balançando os longos cabelos pra nunca mais. E então você some dos meus olhos, da minha memória e até da minha falta de lembrança.

Fábio Roberto


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