quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

SÉRIE POEMAS

POEMA SUAVE

Sóbrio eu não existo em minha cabeça.
A minha cabeça passeia longe de mim.
Sóbrio a realidade é muito pior,
porque a cabeça não descansa.
E eu não sei aonde escondo o cansaço.
A inteligência, a criatividade, a sensibilidade e a pressa se aguçam se eu estou sóbrio e isso é cruel.
A alegria se torna tão extrema quanto a melancolia.
Sóbrio, todas as drogas que já usei
se acendem em mim violentamente.
Penso de forma mais ousada, tenho vontade de voar o carro naquela estrada mesmo que o carro se arrebente. Prefiro até ir sem freios
Sóbrio os poemas são mais agressivos, as músicas mais encrencadas.... a palavra deixa de ser ironica para ficar sarcástica e amarga.
Sóbrio eu arrisco tudo:
a vida, o amor, a amizade, a família, o trabalho.
Fica tudo nublado, tudo escurecido, percebo que as pessoas são muito mais ridículas do que o normal.
Sóbrio eu tropeço na minha alma.
Quero que os demônios e os deuses morram abraçados.
Eu mergulho nas viagens mais profundas do bem e do mal. Não há mais o certo e o errado. Não tenho medo de nada. Desrespeito qualquer lei, dogma, regra, contrato, convenção, norma ou acerto. Nada me segura.
Nada me impede. Perco completamente o medo e os limites quando estou sóbrio.

Sóbrio eu não me olho no espelho porque não estou lá. Estou do lado de fora de mim.
Sozinho como o mais miserável dos pecadores. Sozinho porque não vou compartilhar este momento de lucidez ensandecida com ninguém.
Quando eu voltar desta paisagem sombria e selvagem
talvez renasça em um poema suave.
Palavras e cenas que os teus e os meus olhos
gostarão de ler e ver.
Ou esquecer.

Fábio Roberto

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