segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SÉRIE SEI LÁ

Kardecista de Araque

Sou um kardecista no coração, um ateu na cabeça e um homem-bomba nas atitudes. Porque eu tenho uma mediunidade insuportável. Não posso olhar profundamente o olhar das pessoas, nem de um cão-pessoa. Maldito este dom. Um Inferno este poder. Eu coloco os óculos escuros de manhã, de tarde, de noite, de madrugada e não adianta. Eu vejo. Passado e presente. Acordado, dormindo ou sonhando, se eu olhar eu vejo. Isso basta para vislumbrar o daqui a pouco. Mesmo que um dia eu me torne cego eu já vi, eu vi os olhares, eu entrei dentro deles, eu senti cada riso, desespero, esperança, temor. Eu guardarei em mim, eu vi, eu vejo e não queria saber o que sente cada alma. Eu acabo escrevendo, compondo, descrevendo, vendo...

Olhei, sem desviar, os olhos de um cego e eles, com luz e ao mesmo tempo apagados, eram farol procurando o horizonte e eram farol guiando a escuridão. Que agonia olhar os olhos desse cego.

Olhei os meus olhos no espelho agora.  Rapidamente. Não tive coragem de olhar por mais de alguns segundos. Só os percebi marejarem ondas de alegria. Que medo. Que medo de olhar profundamente nos olhos de alguém. Até de olhar os meus olhos eu tenho medo. Kardecista de Araque!

Fábio Roberto (de olhos fechados)

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