segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O TEMPO DE UM SORRISO


E justo quando a conjunção de todos os astros houve em noite bendita,
a minha alma de poeta estava distante, covarde, melancólica e aflita.
A palidez da pele era de cadáver, o espelho mostrava uma face espectro.
Mas se eu fosse tanta coisa ruim assim, eu mesmo me diria: - vai de retro...
Olhando bem no fundo da retina, eu sabia que ainda me existia.
Ousei um desafio aos deuses. Sem resposta, alucinado eu insistia
até que as musas não me trouxeram palavras, me apresentaram a vida
de poeta na essência da poesia, de paixão eterna, mas em momentos combalida.
Descansei nos braços de uma melodia viva, ritmada, indomável, instigante.
Uma rima absurda, irreal, num verso nunca menos que per-verso e delirante.
Escrevi uma pauta sem compassos compostos, só para experimentar a normalidade.
Respirando com faro dodecafônico, só me restou o aroma agressivo da saudade.
Caminho de poeta traz alegria poderosa e deslumbrante, contagia, mas é fugaz.
Onde todos perceberão a guerra das vozes, ele ouvirá o silêncio austero da paz.
Não há como ele dividir, não pode, não deve compartilhar com o amor sua agonia.
Uma existência tão profícua, só dura luz e calor do sol que nasce e morre todo dia.
Fábio Roberto

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