sábado, 4 de novembro de 2017

Carta de Poeta Suicida

a vida segue o seu rumo. portanto, não tem culpa de nada, culpado é o rumo. a vida é um simples roteiro de novela. não é literatura nobre. a vida fica tão estupefata quanto os seus personagens a cada cena rodada. a vida é a metalinguagem da eternidade. tudo muda na vida, mas a vida é sempre a mesma. ela não tem uma face. não tem corpo próprio, é uma incorporação. a vida é uma alma percorrendo ora o limbo, ora o olimpo sem estar ou ficar em lugar algum porque está em todos. é muito difícil ser a vida, sempre insatisfeita com ela mesma porque sabe que poderia ir muito longe, mesmo não sabendo aonde ou quanto. por isso a vida e só a vida não teme a morte. não existe sem ela. a morte é o pulmão da vida. sem a morte a vida seria apenas tristeza. perderia a graça, o mistério e a beleza. por isso morro agora. assim eu volto a ter graça, terei algum mistério, quem sabe alguma beleza. poesia certamente não possuirei mais para não ser triste nem ter felicidade efêmera. poesia é morte, lágrima nos olhos e sorriso no canto da boca da vida sem face.

Faroberto


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