domingo, 5 de novembro de 2017

RAP DO MORALISTA

Eu fui convidado pra uma noite de sexo.
Achei a estória estranha, parecia sem nexo.
Não houve conversas, nem preliminares,
carinho, envolvimento, troca de olhares.
Será que estou por fora, velho, ultrapassado?
Agora não é preciso ser apresentado?
“Oi linda como vai, você vem sempre aqui?”
Hoje é “nossa, que abusado, tira a mão daqui!”
Não rola conquista, não existe paquera,
o tal do romantismo está esquecido em outra era.
Agradecendo a sorte fiquei lisonjeado,
era mulherão pra me deixar apaixonado.
Mas subitamente surgiu outra donzela,
que veio desfilando deslumbrante e bela.
Perguntou-me displicente, natural, faceira,
se podia também participar da brincadeira.
Confesso que na hora fiquei sem ação.
Duas beldades, meu deus, que tentação!
Será que dou conta? Estaria em forma?
Pensei, “já faz um tempo que não quebro a norma.”
Eu já não conseguia esconder o tesão.
Quem manda ser casado e viver na prisão?
Haveria que encarar o risco da aventura.
Recusar essa parada seria loucura.
Aí a consciência traiçoeira me lembrou,
que do jovem maluco nada mais sobrou.
Tornei-me um cara sério, de família, comportado.
Camisa social, cabelo bem cortado.
Mas dispensar as moças feito um moralista,
disfarçando o membro ereto pra não dar na vista?
Isso não acontece toda hora, todo dia.
Uma anjinha e uma santinha... eu que virei vadia.
Eu tinha que contar ao mundo esta façanha,
saciei os meus caprichos de tara tamanha.
Como disse sabiamente o Grão Mestre Vinícius,
o lobo perde os pelos, mas não perde os vícios...
Faroberto
Do “Blog do Poemas Brabos” em priscas eras



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