segunda-feira, 13 de agosto de 2018

HERMETO PASCHOAL


Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA
Sexta estória

HERMETO PASCHOAL
Se fosse verdade a quantidade de gente que afirma ter estado no Show do Hermeto Paschoal e banda no TUCA, aquele que virou lenda urbana, o público lotaria um Morumbi. Realmente o teatro estava absurdamente lotado e posso dizer que Jairo Medeiros, Marcos Araújo, Titi Trujillo e eu estivemos lá. Aliás, depois que vimos o Bruxo atuar ao vivo pela primeira vez, comparecemos em muitas outras oportunidades para reverenciá-lo. A banda era de impressionar desde o mais aficionado e purista fã de jazz até o vanguardista mais radical e revolucionário, pois Hermeto é tudo e mais um pouco. Ele é um som. É o som na essência física, etérea, espiritual.

O grupo de multi-instrumentistas virtuoses se revezava em teclados, cordas, sopros e percussões. Bombardino e tuba numa banda, por exemplo, eram muito raros de se poder apreciar, mas os músicos de Hermeto os tocavam.

Entre tantos músicos fantásticos, discípulos do Mestre, dois eu tive oportunidade de acompanhar mais de perto depois. Carlos Malta, o mago dos sopros, em apresentações solo ou com outros artistas, e Itiberê Zwarg, baixista e pianista que dava umas canjas surpresa na banda que acompanhava Sonia Santhelmo na Baiúca Roosevelt. Coincidentemente, quando Sonia começou a cantar tempos antes na Baiúca Jardins, o trio de músicos era integrado pelos irmãos do Itiberê, o pianista Mário Zwarg e o baixista Ipojucan Zwarg.

Naquela noite no Tuca o show de Hermeto, que costumava ser longo, transcendeu tempo e espaço. Explico. Transcendeu o tempo porque o evento pode ter durado cinco horas ou dois dias, pois todos ali perderam a noção. Lembro que foi um espetáculo onde o Bruxo dedicou-se muito ao piano, inclusive tocou uma música composta na hora, tão divinamente bela e delicada, que só lágrimas de emoção podem expressar o sentimento ao escutá-la. E transcendeu o espaço porque os limites das paredes do teatro não seguraram Hermeto e banda, que pegaram instrumentos, desceram do palco, andaram pelo meio da plateia e saíram pra Rua Monte Alegre com o público atrás, tocando para uma lua espantada e com as estrelas servindo de holofotes. As luzes dos prédios vizinhos também se acenderam, as cabecinhas nas janelas e sacadas se maravilharam com o episódio improvisado. Subimos e descemos a Monte Alegre atrás de Hermeto e banda junto com o povo, completamente enfeitiçados, todos em puro êxtase.

Felicidade não é efêmera quando nascida da arte. Estamos todos lá e dentro de nós, sorrindo, dançando e cantando até hoje: Hermeto, Banda, Povo e nossas felicidades.

Fábio Roberto


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