domingo, 5 de agosto de 2018

BETO GUEDES


Fabiografia Parte 9
CAPÍTULO 99 - OS SHOWS DA VIDA

Contei no início da Fabiografia que uma das minhas principais atividades na juventude, principalmente com os parceiros Titi e Jairo, era ir a shows numa época em que São Paulo tinha uma infinidade de teatros apresentando espetáculos a preços aceitáveis.
Assistimos a vários artistas consagrados, alguns completamente desconhecidos e muitos que iniciaram carreira para se tornarem depois grandes ídolos da MPB. Comparecíamos em pelo menos dois shows por semana, nos espaços que se transformariam em verdadeiras lendas da cidade, como o saudoso Teatro Lira Paulistana, reduto da música de vanguarda que emergia em Sampa no final da década de setenta para o início da década de oitenta.
Muitas estórias curiosas aconteceram nessas oportunidades, inclusive antes dos espetáculos. Encontrar e bater papo com Plínio Marcos, um dos dramaturgos brasileiros mais importantes, vendendo seus livros para as pessoas nas filas das bilheterias era uma constante. Vez ou outra até conversávamos em algum boteco próximo aos teatros, com músicos que iriam tocar num show, como fizemos com o baixista que acompanharia Lô Borges no Teatro Getúlio Vargas.
Vou postar algumas dessas estórias de que lembramos fatos que nos marcaram. Lá vai a primeira:

BETO
O mineiro Beto Guedes tem conhecida timidez. Às vezes dava a impressão de estar tocando de costas para não ter que olhar o público. Pouco interagia conversando com os fãs, o que ninguém reclamava, pois a plenitude do seu som embevecia a plateia.
Em show anterior ele havia apresentado uma composição dedicando-a ao pai, chamada “Casinha de Palha”. E num outro realizado no Teatro Getúlio Vargas logo depois desse fato, Beto e suas músicas provocavam intensas emoções ao público. Bem no meio do espetáculo, entre uma canção e outra, assim que se encerraram os calorosos aplausos um silêncio respeitoso tomou conta do ambiente, antes da próxima música deleitar os espectadores. Foi aí, exatamente nesse curto instante em que não cabia nem sílaba, que o amigo Jairo se levantou e irrompeu a ausência de qualquer barulho gritando a plenos pulmões: - toca Casinha Brancaaaaa!
O público que estava mudo, mudo continuou. Beto Guedes paralisou-se espantado. A banda permaneceu petrificada e eu comecei a gargalhar, o que não parei de fazer até hoje. O artista, suando frio e gaguejando, começou a cantar meio sem jeito... “moro, numa Casinha de Palha...” virado diretamente ao Jairo. Foi um momento histórico e inesquecível!

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