quarta-feira, 7 de junho de 2017

O OLHAR

Quem irá entender as minhas palavras sem que passe pela cabeça que eu sou uma atitude vaga e penso sempre antes do momento existir?

Não tenho tempo para explicar o tempo do meu desgaste.

Não sou um bom amigo para beber cervejas sem falar bobagens próprias ou filosofar sobre uma frase de Thoreau.

Não sou um bom amante se não devorar a alma de quem amo e me entregar às mãos dessa amada como se ela fosse Deus.

Plantei filhos e para eles não transmiti mentiras sociais, para que pudessem colher da arte o alimento supremo na realização plena de suas vidas.

Eu sou um descasamento, sou certamente um errante. Um materializador de sonhos. Um destruidor de sonhos. Um pesadelo que faz sorrir.

Não sou um compositor de jingles, mas poderia colocar uma pimenta no seu doce de coco e vendê-lo como pipoca. Cantando.

Tenho medo de dor de dente, tenho medo de dor
no dedo, tenho medo de cebola.

Não tenho medo da morte, mas não a aceito agora, sem antes encontrar com o meu destino cara a cara com a faca na boca, a caneta na mão e um papel em branco para mostrar a ele que a poesia não precisa assistir ao por do sol ou a uma luta.

Ou será que um cego não pode ser poeta?

Mas não seria a morte encontrar-se finalmente com o destino?

Eu sei de tudo o que vivi ontem.
O meu ontem foi muito mais do que todas as vidas de muita gente.

Nossa, como sou arrogante!
E agora estou calmo demais.

O futuro está nos meus olhos.
O futuro está nos teus olhos.
Resta saber para onde iremos olhar.

Fábio Roberto


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