sábado, 3 de março de 2018

FUMAÇA




Foi o tempo de fumar um último cigarro,
lentamente retirado do derradeiro maço.
O isqueiro falhou, mas não o teu charme.
Eu vou me dissolvendo, feito de barro.
Eu vou me desbastando, pelo cansaço,
mas teus olhos inda estão a chamar-me.
Você traga profundamente, eu viro fumaça
misturada com o ar e o vento a dissipa.
Meus restos descansam displicentes no cinzeiro.
Meio cigarro queimando o minuto que passa
e a minha boca o teu beijo antecipa.
O beijo que me tornaria vivo e fidalgueiro.
E súbito nos toma mais que doída saudade:
teus olhos pedem pra ficar dizendo adeus
e eu não impeço esta tua decisiva tragada.
Ah... como eu queria ter o tempo da tua idade,
desde sempre e para sempre aos olhos teus.
A solidão jaz no cinzeiro, apagada...
Fábio Roberto
Do Livro dos Poemas Cap. Musas

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