sexta-feira, 9 de agosto de 2019

CYCLE 3

Não é que eu não goste da vida. Eu não a aprecio tanto neste planeta. Sei lá se vim exilado de outra Esfera qualquer, mas com este lugar não conectei completamente. A Terra até que é maravilhosa, só que a maioria dos humanos que a habitam são os refugos das galáxias, estagiando aqui antes de pousarem nos umbrais. Estou distante de ser anjo, mas separado um universo dessas coisas-coisas. Para os poucos amigos que me conquistaram eu ofereci o melhor que pude de mim, do bom ao complicado.
Claro que o dia nascendo, com o sol se levantando do mar para o alto dos céus, é uma imagem de se admirar. E beleza ainda superior acontece quando o dia é findo. O sol, desgastado, adormece o seu desânimo apagando-se atrás dos montes, deixando a soberana musa dos poetas, a noite, prevalecer na escuridão íntima das nossas almas inconformadas, melancólicas, rebeldes, sequiosas de paixão e vontade do viver, mesmo que brevemente. Uivamos pra lua junto aos lobos da estepe e cães urbanos abandonados, em melodias que se fundem numa só voz de desespero. Gritamos por saudade de algo que desconhecemos, mas que dói violentamente chegando a estremecer os nossos esqueletos.
Escrevi estas palavras porque completei hoje 60 anos de quando fiz escolhas que ainda não entendo e aportei cá com minha eterna alegria de criança palhaça e meu sempre velho e cansado sentimento de quem tentou movimentar o imutável, sonhar o impensável e realizar o impossível. Ora em vão, ora quase, ora oração. Constato que não morri cedo, pois evidentemente, sigo carregando um corpo que incomoda espaços. Mas eu sei que o Tempo não se mede pelo tempo deste corpo neste agora. Talvez eu tenha morrido ao chegar, ou mesmo antes ou então depois, por não ter criado a minha obra-prima nesta existência. O fato é que nunca estive satisfeito. Penso que considerar-se realizado é para os fracos, acomodados ou falsos que se auto-enganam.
Os meus olhos que temiam não temer nada, agora só temem ver um absoluto nada, porque um dia não haverá talvez. Após o ciclo romper limites, a esperança é que possa haver lá adiante o momento de rever, saber e estar pleno de tudo e todos que amo infinitamente.
E nesta data e hora em que esqueci desejos, nem espero abraços, só brindes erguidos por bêbados convictos ou sóbrios inebriados. Abro um sorriso sinceramente feliz pro passado, pois vivi emoções loucas, poderosas, inesquecíveis e ofereço um sorriso irônico, exageradamente sacana pro futuro, onde teria energia intensa para muito além, mas tanto faz, tanto fiz, tanto faria. O futuro que me espere a partir de amanhã, se quiser, ou aguarde quando eu for apenas histórias.
brindemos,
Fábio Roberto
02agosto2019

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