quinta-feira, 9 de julho de 2020

O QUE SERÁ

Foram de arrepiar os momentos em que nos amamos. Tropeçávamos nas nossas sombras, embriagados da paixão que não conseguíamos esconder. Os nossos olhos gritavam sorrisos e nossas bocas transbordavam beijos que não cabiam em sentimento algum. Era violento demais, machucava muito acordarmos fora dos corpos, desligados totalmente da vida mundana e rotineira onde éramos obrigados a existir. Mas não vivíamos se não estivéssemos entrelaçados num coito sensível e animalesco que não terminava nunca, porque era plano seqüência único, sem cortes ou emendas, onde qualquer eventual interrupção momentânea não tinha significado, por ser apenas tempo disperso e sem sentido. Sabíamos que cedo ou tarde a lucidez da vida iria reinventar a nossa memória, então escrevemos versos, os cantamos e nos deixamos fluir até que parássemos de ventar tão forte e sobrássemos quase nada, nem brisa, nem sopro, só a inerte paisagem nos admirando assustada, sem compreender o que fôramos e pra onde fôramos deixando despojadamente só as nossas roupas abraçadas na dureza do chão. A poeira cobrindo saudade e a história que não poderia jamais ter sido contada. Talvez lágrimas sejam derramadas disfarçadamente pela luz da eternidade se não nos encontrarmos novamente, mas se nos encontrarmos, Linda, será de arrepiar.
Fábio Roberto

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